Descobertas e desafios de ter filho na Nova Zelândia
Se ter um filho é um mundo novo de descobertas e desafios, ter filho em outro país faz os desafios serem ainda maiores devido, entre outras coisas, às diferenças no sistema de acompanhamento pré e pós parto, além do parto em si. Na Nova Zelândia o acompanhamento da gravidez e o parto são feitos por uma midwife, sim, uma parteira. E isso choca muita gente, comigo não foi diferente. Eu nunca achei parto normal algo “normal”, sempre achei que faria cesárea. Até que fiquei grávida e, para surpresa minha e do marido, mudei de ideia.
Da descoberta da gravidez a escolha da parteira
Quando você descobre que está grávida a primeira coisa a fazer é escolher uma parteira numa lista no site da “escola de parteiras”‘. Cada uma atende uma área geográfica específica. E tem desde mulheres novas nos seus vinte e poucos anos a senhoras já nos seus 60/70 anos, com centenas de partos de experiência.
No site, cada uma descreve suas crenças e preferências e, assim, você consegue ter uma ideia melhor de quem escolher. Tem desde as que baseiam tudo em técnicas super naturais e preferem parto em casa, até aquelas que facilmente aceitam tua vontade de ter o bebê no hospital com todo tipo de anestesia possível. Nenhuma delas pode escolher nada por você, elas te darão opções e você faz suas escolhas, mas claro que escolher uma midwife com uma filosofia parecida com a sua torna tudo mais fácil. Assim eu fiz, achei uma que eu gostei e marquei minha primeira consulta. Conversamos bastante e eu gostei dela, depois da consulta e de conversar com o marido, resolvemos que queríamos ela como nossa midwife e, para minha surpresa, eu resolvi que queria ter parto normal, pelo menos essa era a ideia.
Papel da midwife na gravidez
Se sua gravidez for sem riscos, você verá só a sua midwife durante a gravidez, o parto e o pós-parto. Se algum problema surgir pelo caminho você será encaminhado para um obstetra, nutricionista ou qualquer especialista que precisar, e eles farão o acompanhamento em conjunto com a midwife. Geralmente são feitos só 3 ecos durante a gravidez, nas semanas 12, 20 e 36. Aqui não se costuma contar a novidade da gravidez até o final do primeiro trimestre, onde o risco de aborto espontâneo cai para menos de 2% na semana 12. Nós contamos só com 18 semanas, pois escolhemos fazer um exame chamado amniocenteses depois que a nossa eco de 12 semanas e o exame de sangue voltaram com uma probabilidade alta de alguns problemas no bebê.
Na eco de 20 semanas é quando você descobre o sexo do bebê, mas muitos kiwis (neo zelandeses) preferem não saber, deixando a surpresa para a hora do nascimento, mas aí a gente foi bem brasileiro, não aguentaríamos a curiosidade. Então, não se preocupe se as pessoas te perguntarem se você sabe o sexo do bebê.
Perto do final da gravidez você é aconselhada a fazer um curso de pré-natal junto com seu parceiro. Nesse curso eles ensinam desde como reconhecer os primeiros sintomas do parto, até o que levar na mala para o hospital ou como amamentar o bebê.
Tipos de parto na Nova Zelândia
As consultas com a midwife são mensais até a semana 30, quando passam a ser quinzenais e semanais da semana 36 em diante. É comum também esperarem até 42 semanas para, só então, induzirem o parto caso o bebê não tenha nascido ainda. Tudo muito mais natural. O índice de cesárea na Nova Zelândia é de 25% e eles querem baixar para menos de 15%. Você pode escolher o parto em casa, no hospital ou no “birthing centre” o centro de nascimentos, um local voltado exclusivamente a gestações de baixo risco e para grávidas que não querem usar epidural como opção de anestesia para o parto normal.
Partos na água também são bem comuns por aqui, muitos hospitais e os centros de nascimentos têm banheira nos quartos. No dia do nascimento você pode levar uma ou duas pessoas para acompanhar o parto. Por ser o primeiro filho, escolhemos tê-lo no hospital. Eu também queria poder pedir por uma epidural caso achasse necessário – e como foi necessário!! Escolhemos ir para o birthing centre logo em seguida, pois parece mais um hotel do que uma maternidade, nos deixando mais relaxados e à vontade. Eles possuem midwifes e enfermeiras 24 horas e em um simples apertar de botão, aqueles rostos sorridentes apareciam na porta para nos ajudar ou ensinar algo. Após 2 dias voltamos para casa, aí começa o que para mim foi a mais surpreendente e positiva parte do acompanhamento gestacional daqui, o pós-natal.
A rotina pós-parto
Sua midwife passa a fazer visitas diárias a você e ao bebê, checam como anda a amamentação, como você está se recuperando fisicamente e checam também como você está mentalmente, conversando com você e também dando dicas aos parceiros para eles ficarem de olho em qualquer sinal de depressão pós-parto. Checam o bebê, o ganho de peso, as medidas, o desenvolvimento. As visitas passam de diárias na primeira semana a uma a cada 2 ou 3 dias e, depois, a visitas semanais.
Eu achava que seria intenso de mais, o que tanto eu teria para conversar com a midwife em tantas visitas? Mas foi essencial e incrível. É alguém super experiente, com quem você pode tirar todas as dúvidas que surgem no dia a dia da nova família, desde a cor do cocô que mudou e você não sabe por que até dicas do que assistir no Netflix.
Ao fim das 6 primeiras semanas da vida do bebê, a midwife passa os cuidados da mãe e do bebê ao GP, clínico geral, que é o médico da família. Nesse momento a midwife te dá uma cópia de todos os teus relatórios de visita e também uma cópia do acompanhamento do parto, que descrevia a cada meia hora o que estava acontecendo, e agora virou uma história boa para voltar e reler quando a nostalgia bater. Além do seu GP você é encaminhada também para uma outra organização que acompanha as crianças pelos próximos anos de vida, verificando peso, medidas, desenvolvimento e prestando apoio via telefone 24 horas e em visitas periódicas sobre qualquer assunto relacionado a saúde infantil.
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Play groups
Sua midwife também te aconselhará a se inscrever em um “play group”, grupos de mais ou menos 15 famílias onde mamães (e/ou papais) e bebês se reúnem uma vez por semana para conversar, trocar experiências, brincar e socializar. Nós estamos frequentando um e adorando.
Outra curiosidade é que muitos kiwis não escolhem o nome do filho até conhecê-los, eles falam que o nome precisa combinar com a carinha do bebê. Algumas famílias demoram até alguns dias depois do nascimento para escolherem o nome.
As que já têm opções de antemão, não costumam contar os nomes escolhidos até o nascimento. Enfim, é um sistema bem diferente e que, a princípio, pode chocar muita gente. Chocou a gente, duas vezes, uma no começo por ser tão diferente e outra quando usamos o sistema, por acharmos tão bom. Mas como eu gosto de dizer, ninguém é mais ou menos mãe por ter tido cesárea ou parto normal, ter amamentado no peito ou na mamadeira, o importante é respeitarmos as diferenças, a vontade das mamães e o que querem para suas novas famílias.
8 Comentários
Ola, Samantha! Adorei o texto. Pelo que voce narra , e muito parecido com o sistema britanico. Ainda nesse mes, falarei aqui um pouco no texto que entitulei de Chama a Midwife. Achei muito curioso a possiblidade de voce poder escolher a midwife de acordo com seus valores. Aqui no Reino Unido isso tambem nao acontece e somos quase impostas a nos submeter a cesariana. O Pos- Natal que voce narra e praticamente identico, acho que muito por influencia inglesa. Obrigada por compartilhar. Muito bem escrito!!! Sucesso!
Oi Monica! Que bom que gostou do texto. Não sei como funciona o sistema no UK mas acredito que deve sim ser semelhante, afinal a NZ se inspira no UK para muita coisa. Eu comento com quem me perguntava ou me pede dica aqui que escolher a midwife com quem você se sinta bem é essencial. A minha era super pratica e direta, assim como eu. Como elas tiram 2 dias de folga a cada 12 trabalhados, toda midwife tem uma backup midwife, que você não escolhe, e a gente foi conhecer a nossa, just in case o baby resolvesse nascer bem quando a nossa estadia de folga, ainda bem que ele não resolveu nascer, pois a backup mw era uma senhora com uma filosofia bem natural, falando de hypnobirth, velas, incensos, respiração, coisas que não funcionam para mim. Mas conheço muita gente que adora (inclusive ela foi a midwife da minha midwife). Vou aguardar para ler seu texto! xx
Samantha, so esqueci de dizer que aqui no Brasileirinhos sou Monica Paraiso, meu nome de solteira!! E tambem faco uma emenda, sou da sua filosofia, parto com vela e inceso nao e minha praia. kkk. xxx
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Tenho uma dúvida: Se o visto dos pais forem de estudante o filho nascido na NZ é neozolandês ou brasileiro? A Austrália não concede a cidadania ao filho quando os pais não são residentes.
Prezado Renato,
Visto de estudante é um visto temporário e, por isso, näo garante à criança a cidadania. Se os pais forem residentes permanentes ou se um deles for cidadäo Neo Zelandês a criança tem direito à cidadania. Fuinciona assim em quase todos os países.
Oi Samanta, obrigada por escrever o seu relato aqui. Foi muito legal pra mim achar esse post. Estou morando em Auckland há 2 anos eu e meu Partner brasileiro e estamos grávidos da nossa primeira filha. Já estou com 33 semana, então já tenho uma Midwife e estou optando em ir pro Birthing centre. Como eu sempre quis ter um parto normal fiquei feliz com essa filosofia daqui. Estou agora tentando descobrir o como será o processo de obter a cidadania e passaporte pra bebê, já que ainda não temos visto de residência.
Vou perguntar pra Midwife sobre esses grupos de país que seria muito bom pra mim nesse começo.
Oi! Obrigada por dividir sua experiência! Estou extremamente preocupada, estou com 21 semanas e meu esposo recebeu uma proposta de emprego em New Plymouth para iniciar dia 01/05/19. Será que consigo uma Midwife? Será que pelo curto tempo terei que custear todo parto? É o meu segundo filho , o primeiro foi cesária e agora aqui no Brasil iria fazer a ligadura das trompas. E ainda para ajudar meu inglês é básico!