Em meu último texto escrevi sobre a gravidez e o pré-natal na Finlândia. Este mês divido com vocês sobre como foi meu parto normal na Finlândia.
Eu tinha em mente que ter um bebê seria uma experiência hollywoodiana; achava que tudo seria dramático como nos filmes. Não estava com medo, mas confesso que estava um pouco apreensiva sobre a questão da dor e, por isso, minha primeira opção foi pelo parto normal com anestesia peridural.
A Finlândia estimula e prioriza o parto normal, mas existe a possibilidade de se optar pela cesárea ou pelo parto em casa (sobre este falarei mais à frente, pois é pago e conta com um outro escopo de serviços).
Não é muito fácil conseguir realizar a cesárea somente por querer, sem uma justificativa, pois a opção é considerada uma emergência e os médicos não recomendam que seja feita sem necessidade. Conheço muitas mulheres que precisaram realizar o procedimento na Finlândia, mas não sei de nenhuma que o tenha feito sem precisar. Caso você queira fazer cesárea “por querer”, converse a respeito com sua cuidadora na clínica de maternidade (neuvola).
O dia em que ele chegou
Era manhã de 21 de dezembro, semana 39+5, 9:30 da manhã. Senti uma aguinha bem de leve saindo.
Lembra que falei sobre a visão holywoodiana? Então… eu não achei que minha bolsa estava rompendo, pois, para mim, bolsa romper significava que um jorrão de água sairia inundando tudo, fazendo aquele splash. Achei que estava com incontinência urinária e lá fui eu pro Google, onde aprendi que a bolsa pode romper aos poucos, começando com um sutil vazamento, ou seja, ele estava chegando!!!
Durante o pré-natal, recebemos um livrinho (neuvolakortti) que contém todo o histórico da gestação e 3 números de emergência para ligarmos, que funcionam 24h: um número para o primeiro trimestre, um número para o segundo e terceiro e, um último, para a partir da 36 semana.
Meu marido ligou imediatamente para a maternidade e recebemos as instruções.
Tudo foi muito rápido. Às 10:47 minha bolsa rompeu. Fui tomar banho e ainda no chuveiro as contrações começaram. Às 12:30 eu comecei a ter contrações a cada 30 minutos, pulou de 45 para 30. Fomos para o hospital.
Os partos normais na Finlândia são realizados por uma enfermeira obstetra, o médico só vem no final ou se houver alguma emergência. Tudo já estava certinho para eu receber a anestesia, porém, assim que ela abriu minhas pernas, levou um susto:
– Meu Deus! Você já está com 4cm de dilatação! Infelizmente não poderá receber anestesia, o parto terá de ser natural.
Respirei fundo e vamos que vamos! Vai doer? Vai e muito, mas a gente aguenta. Meu marido ficou o tempo todo ao meu lado e sem dúvidas isso foi um grande apoio moral, mas quando a dor vinha, confesso que o que mais me ajudou foi saber falar palavrões em 3 línguas.
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Essa parte realmente descontraiu o meu parto, porque a enfermeira obstetra me pedia para ensiná-la os palavrões em português.
Não vou mentir, a dor é grande, não sei comparar com nenhuma outra que já tenha sentido. Sempre que começava a ficar insuportável eu falava palavrões e fechava os olhos, imaginando que a cada força o bebê estava saindo mais rápido. Fazer esse exercício de visualização me ajudou muito.
Começamos o trabalho de parto às 14:00, às 16:28, meu filho nasceu. Sei que dei sorte, pois foi super rápido. Tenho amigas que ficaram 2 dias em trabalho de parto…
Tudo foi feito quase que 100% pela enfermeira obstetra e meu marido até ajudou! Houve momentos em que foi mais “confortável” para eu colocar um pé na barriga de um, o outro pé na barriga do outro e eles ajudavam empurrando minhas pernas para trás.
Durante os 30 minutos finais houve uma alteração nos batimentos cardíacos de meu filho. A médica chegou imediatamente. Ela foi tão rápida e eficiente que eu nem me assustei. Me explicou de maneira tranquila que terminaria o parto por vácuo extrator, sugando o bebê para que ele viesse mais rápido, pois quando alterações nos batimentos cardíacos ocorrem, é mais seguro que o bebê seja retirado o mais rápido possível.
Mais rápido? Isso para mim soou como passarinhos cantando numa manhã de férias de verão na Grécia.
Neste momento levei uma anestesia local e, uns minutos depois, ele chegou!
Imediatamente me sentei para vê-lo e pude segurá-lo, tão quentinho e gostoso…
E lá vem eu de novo:
– Ele está bem? Não deveria estar chorando? Você não deveria segurá-lo de cabeça para baixo e bater nas costas dele?
Lógico que ambas, médica e parteira, riram e me tranquilizaram:
– Fique tranquila, ele está ótimo e isso aqui é vida real, não é Hollywood.
A médica se retirou para cuidar de outra paciente e a parteira arrumou meu filho para que pudesse voltar para os meus braços o mais rápido possível.
O mais impressionante para mim foi que assim que ele nasceu, toda e qualquer dor desapareceu por completo. Eu não sentia mais nada além de felicidade e de uma sede sem igual.
As primeiras instruções
Na Finlândia o bebê fica com você o tempo todo se tudo estiver bem. Há um moisés com rodinhas para que você possa levá-lo para onde for. E outra coisa legal: no hospital tem tudo, você não precisa levar nada seu além de escova e pasta de dentes e condicionador de cabelo. Em cada andar há setores onde você pode pegar lençóis limpos e cobertores, camisolas, meias, calcinhas descartáveis, até absorvente pós-parto tem.
Infelizmente não consegui um quarto familiar, pois estes são oferecidos pela ordem de chegada e não há muitos disponíveis. Dividi o quarto com outra moça, mas foi muito tranquilo. Meu marido podia ficar comigo das 7 da manhã às 9 da noite. As visitas também eram liberadas das 10 da manhã às 19:00.
O método do cangurú

Foto: Arquivo pessoal.
Ao chegarmos no quarto, a enfermeira me aconselhou a ficar com o bebê só de fraldas, mas por dentro da minha roupa, nós dois cobertos por um edredom, para que houvesse o contato pele a pele, como um cangurú. Ela explicou que nascer é um choque e que eles se sentem muito assustados. Este método é reconhecido por aliviar o estresse do pós-parto tanto para eles quanto para as mães. Dizem também que o método do cangurú ajuda a fazer com que o recém-nascido durma melhor, por mais horas seguidas e chore menos. Ele é recomendado para os 3 primeiros dias do bebê, mas eu usei o método por 10 dias porque é uma delícia.
Acredito piamente nos benefícios porque meu filho desde o início dormiu muito bem, tão bem que quando demorava a acordar eu ficava preocupada e ia checar se ele estava respirando.
A participação do pai
Na hora da primeira troca de fralda, a enfermeira chamou meu marido e disse para que eu continuasse deitada descansando, depois ele me ensinaria como fazer. Adorei isso de realmente tornar o pai parte do processo, tudo 50/50, ou seja: quem me ensinou a trocar e limpar um recém-nascido foi meu marido!
Fiquei no hospital por três noites, pois meu filho teve icterícia. Mas tivemos toda a assistência imaginável e ele pode continuar comigo o tempo todo. Logo no dia seguinte também recebeu sua primeira vacina: a de tuberculose, que na Finlândia só é dada em casos especiais. No meu caso, por eu ter nascido no Brasil, pois a doença ainda não foi erradicada lá.
Preço
Todos os cidadãos inscritos no sistema de seguro social (portadores da carteira do KELA) não pagam nada pelo pré-natal e nem pelo parto, mesmo que seja cesária. No entanto, pagamos pelos dias de internação depois do parto. Segundo tabela da cidade de Helsinki, a diária do hospital custa 38,50€ (2018). Só a mãe é cobrada, o bebê não. No caso de quarto familiar, o valor é o dobro. Todas as refeições são inclusas. Nenhum medicamento, fórmula para o bebê, nada é cobrado como extra.
Há uma cozinha coletiva onde sempre há pão, frios, iogurte, leite, café e chá para as pacientes. Isso não é cobrado, mas o hospital pede que deixemos numa “caixinha” alguma contribuição de qualquer valor. Achei isso muito legal. A geladeira estava sempre cheia.
Sei que em todo lugar há experiências boas e ruins, profissionais bons e ruins, mas eu só tenho coisas boas a falar sobre ser mãe na Finlândia.
4 Comentários
AMEI! Se tiver um filho um dia, vou lembrar do método canguru e de xingar em línguas 🙂 Bjs, Mailinha!
“Tudo foi feito quase que 100% pela enfermeira obstetra e meu marido até ajudou! Houve momentos em que foi mais “confortável” para eu colocar um pé na barriga de um, o outro pé na barriga do outro e eles ajudavam empurrando minhas pernas para trás.“
Parece que você descreveu o meu parto aqui na Irlanda! Tudo igualzinho e também só precisamos da ajuda médica no final, pois foi preciso o uso do vácuo extrator.
Realmente histórias muito parecidas! Obrigada pelo comentário e tudo de bom para você.
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