No meu texto anterior escrevi sobre como descobri e sobre a ansiedade pós-parto. O pós-parto da minha filha foi muito difícil e eu aprendi que não só de depressão se pode sofrer, mas de ansiedade também. Cada pai e mãe tem medos diferentes quando temos nossos filhos: medo de doença, de sequestro… Eu tinha medo de acidentes bizarros. E esse medo agravou muito com o nascimento do meu filho prematuro.
Sobre a ansiedade que senti
No meu post sobre a vida com filho prematuro, falei um pouco dessa ansiedade. O primeiro ano de vida do meu filho foi muito difícil. Eu tinha que lidar com minha filha, que como todo filho mais velho, estava perdida no papel dela na família e muito carente de atenção.
Lembrando que meu filho passou três meses no hospital e eu e meu marido nos dividindo entre casa e hospital. Minha maior ansiedade com minha filha era tentar prover a ela uma infância normal, dentro do nosso normal.
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E fora que com ela, desde a gravidez, eu já não estava conseguindo brincar muito, já que foi muito intensa e difícil, ou seja, ela estava extra carente. Para ser muito sincera, estávamos todos. A gravidez, o parto, os meses na UTI Neo Natal foram exaustivos, a única coisa que eu queria quando chegamos em casa era ter uma vida normal.
Outra preocupação era ele, um bebê que tinha passado tudo que ele passou nos primeiros meses de vida e agora, finalmente em casa e assim eu esperava ficar.
Nosso novo normal com a prematuridade
Uma das primeiras coisas que aprendi é que teríamos que nos acostumar com nosso novo normal. Isso porque a prematuridade traz incertezas, equipamentos, visitas ao hospital e a iminência de ficar doente de novo.
Medir a saturação dele (nível de oxigênio no sangue), lidar com a possibilidade e ir para o hospital. Lidar com diversos especialistas, alguns procedimentos que precisamos aprender a fazer com ele devido a um problema na bexiga que desenvolveu, a amamentação, e os cuidados gerais do bebê, banho, fralda, etc.
Meu filho ainda precisava de um suplemento para ganhar peso pois ainda não tinha o peso que precisava ganhar. Olha, agora olhando para trás, óbvio que tenho ansiedade. É muita coisa, muita responsabilidade. Tinha muita coisa que podia dar errado, muitos riscos. E eu me via a noite, sentada do lado dele, me sentindo grata por ele esta aqui, vivo, mas sufocada de tanto medo.
Os primeiros meses em casa com um filho prematuro
Os primeiros três meses dele em casa, ou até os seis primeiros meses foram muito difíceis. Muito. Ela precisava de atenção, ele de cuidados, e eu no meio me afogando. Voltamos muitas vezes para o hospital, ele normalmente com bronquiolite.
E cada vez que íamos, era mais difícil pois todos ficamos conscientes de como era ruim estarmos separados. Mas eu tentava sempre ver pelo lado positivo e fazer ser mais leve.
Sempre fomos sinceros com os dois e na verdade, muitas vezes quando fomos para o hospital, eu me sentia mais segura, sabendo que meu filho estava sendo cuidado. E por uns dias eu não tinha que me preocupar em ler os sinais que ele poderia estar doente ou precisando de ajuda.
Muitas vezes eu senti pena de nós. Muitas vezes eu fui chorando para o hospital, pensando “que porcaria de vida”. E muitas vezes (mais do que lembro), eu me culpei por tudo, não ter ido antes, por ter ido no quintal e ele pegar um vento, por ter ido na casa da amiga, por não ter ido e isolar minha filha também, e tantas outras coisas.
Montanha russa de emoções
Acho que a tristeza quando chega, ela domina e contamina nosso coração de uma forma enorme.
E é claro que no turbilhão que era minha vida, eu fiquei de lado. Ouvimos tanto que temos que nos cuidar e ter um tempo para nós, mas quando? Não temos família, nem ajuda. Nossos amigos têm a vida deles e sabe, tem dias que ser expatriado é pesado. Tem dias que só queremos o colo da irmã para desabafar e nos sentir péssimos.
E no próximo segundo, agradecer por morar em um pais que temos todo suporte que temos.
E foi assim, uma noite sozinha com ele no hospital, quando ele estava com pneumonia e eu muito assustada me sentindo derrotada e um fracasso mais uma vez, que eu aos prantos, rezando e pedindo forças para Deus ou qualquer força do universo que comecei a ver tudo com outros olhos.
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E, óbvio que chorei de novo de culpa por me sentir assim. É difícil e ainda é. Ele hoje tem quase dois anos e agora as coisas estão começando a ficar mais fáceis.
Preciso mudar, preciso ser mais grata e lidar com tudo isso e principalmente preciso ter paciência com ele. Preciso ter paciência que ele vai crescer e isso tudo vai passar.