Sempre tive sonho em ser mãe. Venho de uma família grande e barulhenta e sonhava em ter uma família igual. Começamos a nossa família um pouco mais velhos, pois todos os planos foram atrasados pela nossa mudança para Austrália em 2012. Hoje vou contar sobre a vida com bebê prematuro no hospital aqui na Austrália.
Surpresas na gravidez
Minha primeira filha, nasceu em 2016. A gravidez foi tranquila, eu trabalhei até 37 semanas de gestação. Tive uma doula me acompanhando a gestação toda, entrei em trabalho de parto com 40 semanas, e minha filha nasceu ao som de mantra de forma natural. Foi a coisa mais incrível que já fiz na vida e nunca me senti tão mulher e poderosa.
Em 2017 engravidei de novo e tudo ia como na primeira, normal e tranquila (quer dizer “tranquila” porque, meu Deus, como a segunda gravidez é mais difícil por ter uma criança já em casa). Com 20 semanas descobrimos que meu filho tinha um tumor no final de seu cóccix e dai para frente a nossa vida mudou completamente.
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Acho que para nós, a prematuridade começou aí: consultas semanais, pesquisas, falar com diferentes especialistas, muita insegurança e ouvir toda semana que meu filho provavelmente não sobreviveria. Em pouco tempo soube que aquele outro parto natural que eu sonhava, seria na verdade uma cesárea clássica e com muitos especialistas na sala de cirurgia.
Tudo foi caminhando relativamente sob controle até que de 26 para 27 semanas o tumor triplicou. E dai para o dia que ele nasceu, com 29 semanas e quatro dias vivi dias muito tensos. Posso dizer que nunca me senti tão insegura. Mas a insegurança me fez sentir sem controle de nada e nunca senti tanta fé na minha vida. Uma aceitação, e amor, e renúncia tomaram conta de mim e me ajoelhei no chão e entreguei a vida do meu filho nas mãos de Deus. Isso foi o dia antes dele nascer.
O nascimento do meu bebê prematuro
Meu filho nasceu quase morto. Apgar 1, ele só tinha batimento cardíaco. Era pequeno, o tumor quase o dobro dele. Tivemos um momento durante o parto de desespero e logo recorri a fé. Eu e meu marido começamos a rezar pai nosso e dias mais tarde uma das parteiras me disse que foi ai que a equipe teve força e esperança em lutar por ele, pois tudo parecia muito perdido.
Eu o vi muito rapidamente após os médicos o entubarem e levarem ele para a UTI neo natal. Nada de fazer pele com pele, direto para o peito e receber o amor que estava guardando pela ele. Cheiro de recém-nascido e choro que para quando ele ouvisse minha voz. Ao invés disso: fios, injeção, remédios, lutar pela vida que eu tinha acabado de lhe dar (pelo menos assim me sentia).
Teve um momento na UTI que eu me desesperei naquelas primeiras horas, mas eu tinha uma fé que tudo daria certo e aconteceria como tivesse que acontecer que não sei explicar. Ele precisou de uma cirurgia para remover o tumor com três horas de vida e mais algumas vezes ouvimos que ele provavelmente não sobreviveria. A cirurgiã disse para meu marido que precisávamos de um milagre. Mas ele sobreviveu a cirurgia e eu vi um milagre. Bem, vários, naquele dia.
A experiência na UTI neo natal
E após toda essa luta insana, começou o meu relacionamento com um bebê prematuro. A UTI neo natal é um lugar estranho de se frequentar. Tem um cheiro, um ar, barulhos que eu jamais vou esquecer. É um lugar de muito desespero mas fé na mesma intensidade. Um lugar antagônico que ninguém quer estar mas quando lá estamos nos sentimos gratos por ter a chance de nossos filhos terem a oportunidade de continuar vivos, como muitos não tiveram mas não vemos a hora de sair de lá e começar a vida “normal”. Se é que ela fica normal algum dia.
Eu ouvi tantas vezes que meu filho tinha poucas chances de sobreviver que uma das cenas mais chocantes para os pais, que é ver seus bebês cheios de tubos, cabos e remédios, para mim tinha um significado muito diferente: ele estava vivo. E todo dia que eu chegava lá, ao invés de pensar que estava indo embora e deixando meu filho, eu pensava que era mais um dia que ele tinha superado. Acho que tudo na vida é isso: perspectiva.
Vivendo um dia de cada vez
Uma coisa que aprendi tendo um filho prematuro é que temos que viver um dia de cada vez. E aqui tenho que enfatizar o quanto o trabalho a Teresa Ruas foi essencial nessa fase. Ela é terapeuta ocupacional e faz um trabalho lindo de suporte a familias com filhos prematuros. Ela era nossa luz em dias de neblina.
Às vezes vivemos uma hora de cada vez. No mesmo dia, vivemos a melhora e a piora do bebê prematuro. Do mesmo jeito que piora muito rápido, melhora igual. No mesmo dia, eu vivi ele indo muito bem para ter uma queda na saturação e precisar de intervenção e no final do dia estar melhor do que quando começou. É uma montanha russa de emoção todo santo dia.
Primeira vez que peguei meu filho no colo ele tinha 21 dias. Foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida. Sentir, finalmente, sua pele na minha pele, seu cheiro, beijar sua cabeça e sentir ele acalmando no meu colo, onde ele pertence. Não ouvi ele chorar mas aquela foi a primeira vez desde que meu filho nasceu, que tudo fez sentido.
Ele foi aos poucos melhorando. O rim voltou a funcionar, o pulmão foi desenvolvendo, a cicatriz melhorando. A morfina diminuindo e a abstinência da morfina melhorando (coisas que aprendemos). Os remédios aos poucos foram diminuindo, até que ele só precisava ganhar peso e estabelecer a amamentação porque já sabia que ele iria para casa com oxigênio.
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A UTI neo natal é um lugar de superação mas também de perdas. Bebês prematuros são fortes e flexíveis mas também frágeis e imprevisíveis. Vivenciamos a perda, ou a possibilidade dela todo santo minuto. Atender ao telefone de uma ligação com número restrito me dá dor de barriga até hoje. Fazemos amizades com as enfermeiras e o suporte é incrível. Com os outros pais é um relacionamento único: conhecemos muitos deles, conversamos mas estamos tão focados nos nossos filhos que quase não temos tempo de interagir.
Para nós foram 12 semanas, 84 dias dentro da UTI neo natal. E após cruzarmos aquela porta com ele, começou uma outra aventura: a vida “real”. Mas isso, é história para o próximo post. Até lá!

Enfermeiras que acabaram virando amigas após 3 meses de convivência
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16 Comentários
Estou em lágrimas enquanto leio seu texto. Que desafiador e emocionante tudo que viveu. A frase que “ele acalmando no meu colo, onde ele pertence” nossa eu desabei.
Feliz pelo seu final feliz com seu filho em seus braços.
Que comentário lindo, eu senti a emoção nas suas palavras. E eu deveria ter adicionado “de onde ele não saiu mais”. Quando ele estava já melhor e eu podia pega-lo direto no colo, eu passava o dia com ele nos meus braços e as enfermeiras mefalavam “você vai acostuma-lo assim” e eu pensava e falava para elas “exatamente. é para ele ver que não esta mais sozinho e aquilo tudo acabou”. Ele é um guri delicioso, um fofo, feliz e um grudinho, graças a Deus.
Aline, acabei de ler o seu texto. Impossível não se emocionar! Passou um filme aqui na minha cabeça, pois eu trabalhei muitos anos como Enfermeira de UTI-Neonatal e vivenciei o sofrimento e alegria dos pais, muitos milagres acontecendo e muita dor e perdas também.
Eu senti na pele um pouco do que você passou, quando o meu filho Noah que também nasceu prematuro e quando estava com 21 dias de vida teve pneumonia e ficou internado na UTI-Neonatal entre a vida e a morte. E assim como vc eu entreguei a vida do meu filho nas mãos de Deus, pois ele estava morrendo e a única coisa que eu fiz foi me ajoelhar e pedi a Deus para carregar o meu filho no colo e que não levasse ele de miim, senão eu morreria! E imediatamente depois dessa oração, os sinais vitais dele se estabilizaram um pouco e os médicos e enfermeiras continuaram os procedimentos necessários. E assim como o seu filho, o Noah é o meu bebê milagre! Obrigada por ter compartilhado a sua experiência. Que Deus os abençoe. Já quero ler a parte 2!💙😘
Obrigada pelo seu trabalho, Claudia. O trabalho de uma enfermeira é tão importante e maravilhoso. E que história com seu pequeno. A fé o amor são forças capazes de mudar o mundo 🙂
Aline também me emocionei muito com teu relato. Minhas tri nasceram com 32semanas. Não era um quadro complicado, nem tiveram necessidade de ajuda respiratória, mas meu Deus, como eram pequenas! Que pernas finas! Olhos que parecem arregalados!
E a fiarama é impressionante mesmo. Vê las através do vidro…não poder pegá las no colo….
Acho que depois de atravessar essa provação somos mais fortes, temos mais fé e amamos ainda mais nossos vencedores!
Zandra a fiarada…. mas é louco mesmo porque uma amiga que teve gêmeos de 34 semanas falou que foi chocante vê-los com os fios e para mim não foi, pois nossa expectativa era tão baixa que eu olhava aquilo tudo e agradecia por ele estar ali :).
Agora de novo: Trigêmeas! Meu Deus. Você é demais!
Beijos e obirgada
Minha filha também nasceu prematura de 27 semanas e teve alta após 89 dias. Foram dias difíceis, eu tinha um filho mais velho de 1 Ano e 5 meses que também precisava muito de mim. Os barulhos da UTI me assombram até hoje, os painéis com a saturação me dão arrepios. Mas hoje ela tem 6 anos e é muito saudável. Antes dela fazer 1 ano nos mudamos pra Argentina e depois pra Itália onde estamos atualmente. Tenho muita vontade de escrever sobre tudo isso também. Nós, mães de prematuros, somos escolhidas por Deus para passar por isso. Ansiosa pela segunda parte do seu relato
Fabiola, obrigada pelo seu comentário. Meu filho tem 1,5 e eu tenho oximetro em casa e aquele bip bip e as quedas gelam minha espinha. Sabemos que queda nasaturação significa oxigênio ou seja, hospital. Como foi essa mudança de país com uma prematura extrema que precisa de cuidados? Tenho pânico de fazer viagem internacional com o Dani, acredita? Tenho textos sobre ansiedade pós parto com minha filha e com o prematuro em casa.
Somos mesmo é um caminho maluco. Veja o trabalho lindo da Teresa Reis no http://www.prematuros.com.br 🙂
que bom que sua filha esta bem, chegaremos ai também 🙂
Lindo e emocionante seu relato! Meu trio tb nasceu prematuro, mas com 32 semanas, em um parto normal inesperado. Mas nossa estada de 4 semanas na NEO foi relativamente tranquila comparada c a sua vivencia tao intensa. Imagino sua forca, aquela q so as maes tem! Louca p saber o final da historia!
Não temos ideia da nossa força até precisarmos dela, não, Carolina? Eu jamais imaginava que tinha tanta tanta fé! Me surpreendi com nossa força e reunúncia. E como somos uma familia mais unida e forte :).
Neo Natal é difícil, mas acredito que nada acontece por acaso.
Beijos em você e no seu trio (?- trigêmeos?)
Aline, GRATIDÃO por compartilhar conosco algo tão íntimo da sua família e que ao mesmo tempo toca a alma de todos nós! Envio muito amor para vocês. Bjos
OBrigada :). MUito amor e muita fé podem mover montanhas ne?
Beijos
Não tem como ler esse texto e não se emocionar. Ainda mais te conhecendo aí, ao vivo, mesmo sem muito contato – pessoalmente, mas muita interação profunda virtualmente. Que luta. Que momento incrível que deve ter sido o momento de leva-lo pra casa. Não acredito em coincidências nessa vida, você bem sabe disso. Esse menino deve ser pura luz – e vocês devem estar aí, irradiando essa força e celebrando cada dia. Eu celebro aqui de longe.
Ele é, amiga. MUita luz. uma alegria de viver.
Eu nem consigo pensar em tudo que passamos sem me emocionar porque foi uma energia tão forte, tanto amor, tanta fé…..
Obrigada 🙂 e amém
Oi Aline, que história linda! Eu não tinha idéia que tinha passado por tudo isso, você com certeza é um ser especial e merecedora desse milagre. Que seja de muitos sorrisos e orgulho a vida de vocês. Bjao no coração.
Rosana querida. Obrigada que mensagem linda.
A vida é uma loucura, ne? Hoje vivemos da gratidão e do amor. Ele esta andando, outra coisa que os médicos diziam ser pouco provável que faria. Ele continua provando que o amor e a fé são imensuráveis e fortes.
Beijos para vocês também