Como prometi no texto do mês passado Como foi meu pré-natal em Chicago , este mês compartilharei um pouco sobre como foi a minha experiência com o parto normal nos EUA. Os americanos valorizam e muito o parto normal e, diferentemente de como acontece no Brazil, a cesariana só é recomendada caso haja motivos médicos para tal. Caso contrário, subentende-se, por aqui, que o parto será normal.
O assunto “parto normal X cesária” foi um dos primeiros tópicos que conversei com a minha médica. Como ela também é brasileira, ela mesma iniciou a conversa durante a minha primeira consulta e me deu a opção de escolher o que eu queria fazer, porém deixando claro que a sua recomendação seria o parto normal. Desde muito tempo antes de ficar grávida, eu já conversava muito sobre isso com algumas pessoas porque sabia que, caso tivesse filho nos EUA, provavelmente não seria através da cesariana. Então, quando engravidei, já havia me convencido há muito tempo de que eu queria tentar o parto normal.
Isso não significa, porém, que não tive medo. Muitas perguntas me passaram pela cabeça durante os 9 meses de gestação e em alguns momentos eu até chorei simplesmente pelo medo do desconhecido. Apesar disso, sempre me mantive firme na minha decisão e ao contrário de algumas americanas, sempre deixei claro para a minha médica que eu queria que o meu filho nascesse de parto normal, mas se isso não fosse possível, eu estava também disposta a fazer a cesariana.
Para brasileiras, isso pode soar um pouco estranho, mas a verdade é que eu percebi que muitas americanas se sentem profundamente frustradas quando algum motivo médico as impede de ter um parto normal. Como mencionei em um outro texto, Dicas para uma gravidez saudável, durante a minha gestação, fiz aulas pré-natais de yoga e cardio com professoras especializadas em exercícios para futuras mamães e, muitas vezes, ouvi algumas grávidas comentando que provavelmente teriam que fazer um parto cesariano por este ou aquele motivo. De verdade, dava pra sentir a dor e a frustração em suas vozes, afinal, a sociedade americana vê o parto normal como a forma ideal de se ter um bebê. Cirurgia é indicada apenas em casos extremamente necessários.
Anestesia Peridural
Quando cheguei no hospital, eu já havia preparado o que eles chamam por aqui de birth plan, um documento em que você deixa claro quais são as suas preferências enquanto estiver no hospital. Para fazer o meu birth plan, eu utilizei o aplicativo BabyCenter, que é bem prático: você responde a todas as perguntas, escreve seus comentários adicionais e imprime o documento em formato PDF. Não tem segredo e, de certa forma, isso me ajudou muito a me sentir mais segura durante todo o processo, porque de fato, a equipe médica leu o documento e eu senti que a minha opinião e minhas vontades estavam sendo levadas em consideração.
Obviamente, não existe um formato único para criar o seu birth plan, mas caso você precise de um direcionamento, estas são as perguntas que você responde utilizando o mesmo aplicativo acima. Uma parte do questionário refere-se à sua decisão de solicitar, ou não, a anestesia peridural. Conheço algumas mulheres que não tomaram a anestesia, pois como todo procedimento médico, existem alguns riscos relacionados à mesma. No meu caso, eu pedi para receber a peridural.
O processo como a anestesia é injetada é bem interessante. Primeiramente, com exceção do médico e da enfermeira, ninguém mais pode ficar na sala com você. Isto é um procedimento preventivo para evitar infecção. A enfermeira pediu para que eu ficasse sentada, com os pés para fora da cama e as costas curvadas. A anestesia é aplicada nas vértebras nas costas e sim, foi um pouco dolorido, mas a dor passou muito rápido. Pra mim, a sensação foi similar de quando se toma uma vacina: a gente sente aquela picada inicial e logo em seguida um liquido se espalhando na região. A parte mais bacana de toda a minha experiência foi o tratamento que recebi tanto do médico quanto da enfermeira, que ficou na minha frente segurando as minhas mãos o tempo todo, me acalmando e conversando comigo para evitar que eu mexesse durante o processo.
O parto normal pode, de fato, se tornar um longo processo. Entre a minha chegada no hospital e o nascimento do meu filho se passaram mais ou menos 16 horas, mas olhando pra trás, eu não mudaria nenhum detalhe. Quer dizer, a única coisa que faria diferente é que teria tomado um belo café da manhã antes de ir para o hospital, porque depois que cheguei, não podia comer mais nada, a não ser gelatina, sorvete e tomar líquidos. Além disso, na minha opinião, em termos de dor e desconforto, o pós-nascimento é bem mais difícil do que o nascimento em si. Como disse, eu recebi a peridural, o que me ajudou demais a não sentir a dor como eu havia inicialmente antecipado (inclusive, tirei várias sonecas durante o dia).
Pra mim, o maior desafio foi mesmo após o nascimento dele. A combinação de dor, cansaço extremo, milhares de informações recebidas no hospital e a “pressão” de querer fazer tudo “certo” pra ele foi bem mais desafiadora do que o nascimento. A ideia romantizada que existe em torno da amamentação, por exemplo, está longe de ser verdade pelo menos nas primeiras semanas. Passada a fase de adaptação, a amamentação se torna sim uma benção, mas até chegar lá, existem muitos desafios a serem ultrapassados. Porém, acho que isso pode ser assunto para um próximo texto, né?
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Enfim, esta foi um pouquinho da minha experiência com o parto normal aqui nos EUA. Sem dúvida, uma experiência maravilhosa e, graças a Deus, com o suporte a e estrutura necessária para que o dia 04 de Abril de 2018 se tornasse o dia mais feliz da minha vida. Jamais vou esquecer o momento em que eu vi o rostinho dele pela primeira vez. Um sentimento que, de fato, eu só entendi depois que me tornei mãe.
7 Comentários
E se a mãe não conseguir o parto normal? Tem mulheres que ficam horas e horas para dar à luz.. o Bebê está correndo riscos.. Como funciona nesses casos? Pq dizem que os médicos tentam o parto normal até as últimas.. É muito sofrimento.. Vc pode falar sobre como funciona o parto em hospitais públicos tb? Obrigada
Oi Anna Paula, assim que a mãe chega no hospital, os médicos já começam a monitorar o coração do bebê e da mãe. O monitoramento acontece em tempo integral e providências são tomadas se há indícios de que o bebe ou a mãe não estão reagindo bem. Nesses caos, com base na minha experiência e com base na experiência de amigas que também deram a luz nos EUA, à mãe é sempre dada a liberdade de escolha. O médico explica a situação e a família escolhe como prosseguir. O parto normal é um parto bem mais longo do que a cesária então de fato é preciso muita paciência de todos os envolvidos. O nosso corpo e preparado pra dar a luz e é realmente mágica todas as transformações que acontecem para que o bebê nasça. Eu dei a luz em um hospital particular então não tenho muita experiência com hospitais públicos, mas acredito que o tratamento não é tão diferente, isso por que a cultura dos EUA em relação ao parto é diferente da cultura brasileira. No geral, acredito que preza-se muito esse respeito à escolha da mulher e, na maioria dos hospitais, a qualidade do serviço prestado é boa, o que acaba transmitindo segurança para a realização o parto normal.
Tenha um ótimo dia, desculpa pela demora em responder e obrigada pelo comentário 🙂
Olá Luana.
Tudo bem?
Gostaria de saber informações sobre o parto aí.
No seu caso foi pago?
Se puder passar alguns detalhes e dicas.
Você sabe se tem alguma forma de não pagar?
Obrigada
Oi Dayana, tudo bem? Primeiro, desculpa a demora em te responder 🙂 Interessante a sua pergunta, por que o sistema de seguro saúde aqui nos EUA é bem diferente e extremamente confuso. Eu escrevi um texto sobre esse assunto no BPM, então fica ai o link caso queira ler o texto: https://www.brasileiraspelomundo.com/dicas-para-entender-o-sistema-de-saude-americano-070774862.
Basicamente, aqui nos EUA, os planos de saúde pagam uma porcentagem da consulta, exame, tratamento, enfim, e a pessoa paga o que falta. Existe um valor X máximo a ser pago por ano e quando você atinge esse limite, o plano paga 100% de qualquer conta médica. Por ex: o plano paga 70% e você paga 30%. Quando você atinge o que eles chamam de Out Of Pocket Maximum, que seria esse valor máximo por ano, o plano é responsável por pagar o valor total de qualquer procedimento que venha a acontecer depois disso. É bem complicado de entender no início.
Durante o pré-natal, a gente faz vários exames, ultra-sons e consultas médicas. Tudo isso é incluído naquela regra de o plano paga uma porcentagem e você outra. Geralmente, quando chega a hora de o bebê nascer, a gente já pagou quase todo o Out Of Pocket Maximum e aí o valor pago é bem pequeno se comparado ao valor cobrado pelos médicos e hospitais. Infelizmente não tenho informação sobre como fazer para não pagar, mas imagino que tenha pessoas que simplesmente não pagam a conta que chega do hospital. O problema é isso afeta o crédito no país, e aí fica difícil efetuar compras mais significativas, como por exemplo, comprar casa, carro, ou até mesmo alugar um apartamento ou abrir um cartão de crédito. Você pode dar uma olhada no Medicare, que é um programa de saúde financiado pelo governo dos EUA. Existem critérios para verificar a elegibilidade de uma pessoa, mas caso tenha interesse, vale a pena ler sobre o assunto.
Obrigada pelo comentário e fico à disposição se tiver mais dúvidas. Beijos!
[…] Leia também: A minha experiência com o parto normal nos EUA […]
[…] de muito refletir, e conforme prometi no texto A minha experiência com o parto normal nos EUA, resolvi dividir agora a minha história de amamentação. Hoje, nove meses após o nascimento do […]
Oi Luana, fiquei com uma dúvida. E no caso de você qurrer cesárea? Se não tem plano, tudo é particular, porém você quer cesárea?
Você consegue agendar uma cesárea no hospital?