Festas de final de ano: fortalecendo vínculos por meio da empatia
Enquanto no Brasil é primavera, aqui nos Estados Unidos é outono. Posso dizer que a temporada de festas de final de ano está aberta. As lojas já trocaram as suas vitrines de Halloween pelas cores do outono. Folhas secas das árvores já estão no chão, abóboras e velas com cheiro de cidra de maçã em liquidação.
Todos agora se preparam para o Thanksgiving, o Dia de Ação de Graças, que será no dia 28 (o feriado cai sempre na última quinta-feira do mês de novembro). Famílias e amigos se reunirão em torno de uma mesa farta, para demonstrarem a sua gratidão a Deus e pelas bênçãos recebidas durante o ano.
Os dias escuros e frios passarão rapidamente. Enfeites do Thanksgiving serão guardados. O cheiro de biscoito de gengibre serão exibidos nas confeitarias. As lojas e estacionamentos lotarão, assim como as lixeiras estarão abarrotadas de caixas da Amazon. Ao invés de Simone cantando “Então é Natal” nos shoppings, aqui será “Let it Snow” de Sammy Cahn e Julie Styne, na versão de Frank Sinatra.
Natal é tempo de amor e solidariedade com o próximo. Familiares e amigos se reunirão para celebrar o nascimento de Jesus Cristo. Alguns trocarão presentes e muitos sorrirão para as selfies e postarão nas redes sociais os pratos de comida da ceia.
A noite de Natal passará, os pinheiros naturais serão jogados no chão à espera do caminhão do lixo para retirá-los das calçadas. Ufa! Acabou? Não… agora é a Festa de Ano Novo!!!
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Famílias e amigos se reunirão novamente para celebrar com queima de fogos a passagem de ano em alguns locais da cidade. Farão as suas resoluções para o novo ano que se iniciará. O cachorro do vizinho latirá com medo dos fogos de artifício, e uma criança com sensibilidade auditiva, cobrirá seus ouvidos com as mãozinhas.
E o que essas festas têm em comum? O encontro. O desejo de estar com as pessoas que gostamos: família e amigos. Ao mesmo tempo, desperta muitos sentimentos de melancolia, tristeza e até mesmo solidão, porque estamos longe dessas pessoas nessas datas.
Essa distância pode ser por vários motivos: dificuldade financeira, falta de planejamento para uma viagem, distância física, distância emocional, dificuldade de agenda, por trabalho..ou porque o núcleo familiar resolveu se retrair. Como assim?
Todo mundo tem dificuldades, ombros amigos são poucos
Às vezes, ter um filho ou um ente com deficiência causa um impacto muito grande nas relações interpessoais. É comum famílias se afastarem de quem não as compreende ou por julgarem a dinâmica do núcleo familiar, resultando no isolamento, como forma de proteção.
Algumas crianças com deficiência deixam de ser convidadas para eventos, basta ver o fato que ocorreu no Brasil recentemente. Uma criança com autismo de dois anos foi rejeitada numa festinha de aniversário, porque era “problemático”. A mãe da criança só soube da festinha, pois uma outra mãe escreveu no grupo errado de Whatsapp. Confira a história aqui.
Na série da Netflix chamada Atypical, a família do protagonista Sam, que tem autismo, não era mais convidada para acampamentos nas férias, porque o comportamento de Sam era irritante para outras famílias.
Nos grupos de pais sobre autismo que participo, é possível observar o desabafo dessas famílias com filhos com deficiências nas relações com terceiros. Em suas verbalizações, falta de empatia fica em destaque.
No Instagram @juntos_grupo, celebridades brasileiras e ativistas vestem uma camiseta preta com os dizeres #EseFosseSeuFilho. Os mesmos contam situações desagradáveis que algumas famílias passaram. O objetivo é demonstrar a dificuldade, a falta de empatia e até mesmo o preconceito da sociedade com pessoas com deficiência.
Compreendendo a Empatia
No livro Empatia e seu desenvolvimento (1987), Einseberg & Strayer definem empatia como
uma resposta emocional que se origina do estado ou condição emocional do outro e que é congruente com o estado ou situação emocional do outro.”
Relações empáticas devem acontecer entre profissional-cliente, médico-paciente, professor-estudante, entre cônjuges, entre irmãos, em resumo, em todas as relações sociais. A comunicação interpessoal deve ser clara e honesta, possibilitando a resolução de conflitos e o desenvolvimento de um ambiente sadio.
Foi publicado na Molecular Psychiatry, em 2018, um estudo que verificou que pelo menos 10% do comportamento empático é considerado genético. Nesse mesmo estudo, a empatia é subdividida em dois tipos: empatia afetiva, que é o desejo de responder ao estado mental de outra pessoa com uma emoção apropriada; e empatia cognitiva, que é capacidade de reconhecer o estado mental de outra pessoa.
Além dessa pequena contribuição genética, a empatia também é formada a partir das situações e experiências que nós vivenciamos com as outras pessoas. Inicia-se uma relação empática quando se escuta pacientemente, observa-se o outro atentamente, sempre de forma humilde e livre de julgamento. Para saber mais sobre empatia, clique aqui.
Ambientes que possuem pessoas que estabelecem relações empáticas são harmoniosos, cooperativos e verdadeiros. São ambientes que queremos fazer parte e que nossos filhos sejam criados.
Minhas experiências pessoais que fortaleceram vínculos de amizade
O meu último Thanksgiving (Dia de Ação de Graças) foi delicioso. Os anfitriões serviram o jantar para as crianças antecipadamente, e nós adultos jantamos posteriormente com a trilha sonora da Patrulha Canina na televisão. O meu filhote estava tão relaxado, que dormiu no sofá e a anfitriã o cobriu com uma manta. Tudo aconteceu naturalmente. A minha filha estava tão feliz, pois teve oportunidade de brincar com as outras crianças. E eu também! Pude conversar tranquilamente com os meus amigos expatriados e estabelecer vínculos.
Outra festa de aniversário que meus filhos foram convidados, a mãe do aniversariante me ligou convidando e avisando que seria uma pijamada. Eu demonstrei preocupação, pois o meu pequeno não havia dormido na casa de amiguinhos, nem de parentes. Então, ela teve a excelente ideia de cantar os parabéns quando os pais fossem buscar os filhos. Dessa forma, o meu filhote pode participar da festinha juntamente com os coleguinhas no dia seguinte.
Pratique a empatia hoje e sempre
Coloque-se sempre que possível no lugar do outro. Reflita sobre as situações que cada indivíduo vivencia. Evite julgamentos. Pequenos gestos fazem a diferença. Caso tiver dúvida como agir, pergunte. Se não souber o que dizer, ofereça o ombro amigo.
E caso você seja o anfitrião em algum evento, e algum dos seus convidados tenha deficiência, pergunte como poderá acomodar a festividade para que todos participem. Com certeza todos estarão sorrindo e poderão tirar aquela selfie sentados à mesa de jantar!
Desejo que você confraternize com pessoas queridas. E se alguém não gostar da uva passa no jantar, lembre-se: sem julgamentos! Todo mundo tem uma história de vida!
2 Comentários
Rachel, obrigada por essa reflexão tão sensível.
Valdicéia, que delícia receber um comentário seu! Tenho certeza que essa característica não falta em você. A comunidade de pessoas com deficiência auditiva e surdez em Brasília sempre foi bem acolhida por você. Obrigada por todo ensinamento sobre a área da Educação Especial relativa à pessoas com deficiência auditiva e surdez.