Meu filho tem um pai feminista e israelense
Eu lembro do dia em que, em uma conversa durante o jantar, eu descobri que iria me casar com quem é hoje o meu marido. Estávamos falando sobre diferenças entre homens e mulheres. No meio da conversa, Afik começa uma frase dizendo: “eu, como feminista, acho que…”. Foi assim que eu conheci o primeiro homem que se define feminista – meu namorado, marido, amigo, aquele que passou a ser o pai do meu filho.
Se eu tivesse ouvido essa história de uma amiga, a primeira pergunta que eu faria seria “mas e agora que vocês estão casados e têm um filho pra criar, você acha mesmo que o feminismo que ele fala é exercido dentro de casa?”. A resposta é sim. Mas ainda há muito o que melhorar.
A divisão das tarefas da casa entre o casal
Antes mesmo de nos casarmos, Afik já mostrava o quanto esse papo feminista era sério. Ele sempre foi organizado, cozinhava para nós dois quando eu voltava tarde da faculdade, e a louça e as roupas da casa eram lavadas por nós dois igualmente.
Eu faço questão de apresentá-lo como um homem que participa das tarefas de casa e não um que ajuda. Afinal, o significado de ajuda é auxílio/socorro. Quando duas pessoas vivem embaixo do mesmo teto não existe uma pessoa que tem a obrigação de fazer as tarefas de casa e a outra que presta socorro. As duas têm a mesma obrigação.
O tempo passou, nos demos bem vivendo juntos e aí veio o dia do casamento e a gravidez.
A maternidade e a paternidade aos olhos da sociedade
A mudança que eu passei a partir do momento em que virei mãe não se deve somente ao fato de que eu virei responsável pela vida de um serzinho que não consegue segurar o próprio pescoço. Além disso, ser mãe me abriu os olhos para mais aspectos sociais relacionados às mulheres: aspectos dos relacionamentos entre homem e mulher e entre sociedade e mulher.
A falta de compreensão do que deve-se dizer a uma mulher no pós-parto, a invasão do espaço que nós tanto precisamos nos primeiros meses de vida dos nossos pequenos, a pressão que é colocada toda em cima da mãe; tudo isso me veio à tona – e também foi tudo isso que me fez ficar horas e horas discutindo com Afik sobre o nosso papel no relacionamento, na sociedade, e o papel do marido e pai em situações como essas que eu passei.
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“Você não dá leite em pó para ele?! Vai ficar com fome durante a noite!” “Nossa, ele já tem três meses e não toma suplemento de ferro? A minha bebê já está há semanas tomando, cuidado com o seu, hein!”, “Deixa eu te dar umas dicas de como tirar manchas de comida das roupas do bebê”, “O que você prepara para dar de comida na introdução alimentar?” – todas essas e muitas outras perguntas foram dirigidas durante todos os primeiros meses somente para mim. Nem mesmo após horas de conversa a sós meu marido compreendeu o que eu esperava que ele fizesse: começar a direcinar essas perguntas para si e tomar a atenção das pessoas. Essas mesmas perguntas e “dicas” podem ser feitas ao homem pois ele, assim como eu, também é responsável por tomar decisões sobre a vida do nosso filho.
Discriminação parental em Israel
Uma coisa bem comum aqui em Israel é que sempre acontece algo com a criança no jardim de infância, a única pessoa para a qual a responsável do estabelecimento liga é a mãe. As mães são as únicas que fazem parte de grupos do whatsapp, que interagem umas com as outras para discutir como serão as festinhas do jardim, e muitas vezes são as que mais levam os filhos de manhã e os pegam no fim do dia.
Isso é algo comum não somente na minha família, mas na grande maioria das famílias do jardim do meu filho: os pais simplesmente “não têm forças” para lidar com tantos assuntos. Eventualmente, em conversas com amigas, cada uma deixa escapar algo sobre a falta de participação do marido. Porém, eu nunca consegui obter uma explicação correta para esse tipo de comportamento. Nem mesmo para o meu próprio caso eu consigo obter explicação. Inevitavelmente, de alguma maneira inexplicável, sempre eu acabo me comprometendo a organizar a festinha de fim de ano do filhote.
Pais feministas?
Finalmente, eu me pergunto: será que meu filho tem realmente o pai feminista pelo qual eu me apaixonei anos atrás? A resposta curta é: sim.
Em poucas palavras, feminismo é um movimento social que exige a igualdade entre homens e mulheres. Homens e mulheres lutam juntos para que o objetivo do movimento seja alcançado, e sem sombra de dúvidas meu marido é um pai feminista. Eu vejo isso na nossa rotina diária e na educação de nosso filho. Eu encontro no suporte infinito que ele me dá e na vontade de um dia também sair de licença-paternidade. Eu observo nas palavras e nas ações a vontade de transformar esse mundo em um lugar igualitário.
Entretanto, apesar do número crescente de homens, pais feministas como Afik, ainda nós mulheres nos sentimos cansadas e sobrecarregadas. Então pais, se vocês estão lendo essas palavras, parem para pensar: Quando foi a última vez que você prestou atenção nos pequenos detalhes da vida de casal que sua mulher tomou conta? Quando foi a última vez que você verificou se seu filho tem roupas limpas e fraldas no jardim de infância? Será que você poderia ter respondido as dez mil perguntas que foram dirigidas a sua esposa sobre a criação do seu filho? Quantas vezes por mês você tem uma conversa com as professoras e professores da escola de seus filhos sobre a educação deles?
E para você que está lendo e que é mãe, eu gostaria de dizer: não desista. Cobre do marido. Não faça tudo só. Fale com ele dia após dia sobre o que você sente, sobre o que pode ser melhorado e sobre o que ele faz de melhor em casa! É para isso que nos casamos: para apoiarmos uns aos outros e evoluir juntos.
Um ótimo mês e feliz dia dos pais para todos!
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