Desafios de uma família multicultural
Ter uma família multicultural traz desafios inimagináveis, que vão desde as simples decisões sobre o horário de colocar as crianças pra dormir até sobre qual vai ser o idioma falado em casa. Dúvidas e discussões que vão aparecendo ao longo da convivência de casais que vêm de culturas distintas. Diferenças como idioma, tradições, culinária, religião, costumes… todos esses fatores acabam influenciando no modelo da organização familiar que se pretende ter. O principal desafio torna-se: como viver em harmonia frente a tantas diferenças e tirar proveito das vantagens de cada cultura? Será que outros casais multiculturais também passam por isso ou não? Depois me conte a sua experiência nos comentários!
Nesse texto, não vou conseguir abordar todas as questões de uma vez. Por isso, ao longo do ano, vou contando para vocês um pouquinhos dos desafios e soluções encontradas para fazer das diferenças algo positivo para a nossa família. Vou começar falando sobre os costumes e hábitos com relação ao sono das crianças.
Um dos primeiros desafios que surgiram foi como reagir quando eles choram. Não sei até que ponto isso é cultural ou não, mas aqui na Bélgica é normal deixar a criança/bebê chorar um pouco antes de pegar no colo, amamentar ou simplesmente acalentar. A cultura belga é bem parecida com a francesa nesse sentido. Confirmei isso quando li o livro Crianças francesas não fazem manha, da americana Pamela Druckerman. Ela conta todas as diferenças culturais que sentiu ao ter sua filha na França. A partir dos 2 meses de idade, as mães francesas já começam a treinar os bebês para dormirem a noite toda. Segundo o livro, elas acreditam que se amamentarem o bebê durante a noite ele se acostuma e torna-se um hábito.
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Para ser sincera, sempre segui o meu instinto materno nesse quesito e, como amamentei em livre demanda até os 9 meses, a participação do meu marido era pequena e ele acabava só colocando nossos filhos para arrotar e trocar fraldas. Mas esse foi um assunto que levantou a minha curiosidade, uma vez que a maior parte das mães belgas não amamentam os filhos depois dos 4 meses, pois elas voltam a trabalhar. Quando cheguei aqui e contava que amamentei até os 9 meses em livre demanda, as pessoas ficavam um pouco surpresas.
Quando passou essa fase de bebê dos nossos filhos, a hora de colocar para dormir foi um tema muito debatido. No Brasil, as crianças geralmente dormem tarde, os pais chegam tarde do trabalho, jantamos tarde e nos finais de semana com as festas, as crianças também dormem mais tarde. Na Bélgica acontece o contrário: as crianças geralmente dormem entre 19h30 e 20h, sem exceção. Os hábitos são outros, não existem festas à noite em que as crianças participam. A criança tem um lugar bem definido e os pais fazem questão de manter essa divisão para terem também um tempo só pra eles.
Eu tive que me adaptar a essa nova realidade e estilo de vida, mas o que me conforta é que o sono é muito importante para o desenvolvimento e crescimento da criança. Isso é comprovado em vários estudos e li bastante sobre o assunto, veja esse artigo da Revista Crescer sobre o sono infantil. Até a minha filha mais velha completar 4 anos de idade moramos no Chile, Peru e Brasil, o que nos trouxe muitas ocasiões em que as crianças participavam das festas e saídas à noite. Nessa época, combinamos de colocá-los para dormir durante a semana mais cedo, até as 20h, e flexibilizar um pouco nos finais de semana. Assim, podíamos participar de tudo. Mas a minha filha estava tão acostumada a dormir cedo que, quando saíamos à noite, por volta das 21h ela já vinha pro meu colo querendo dormir. Meu pequeno de 3 anos é mais festeiro e gostava de ficar entre os adultos fazendo bagunça.
Faz um ano que voltamos para Bélgica e os hábitos e estilo de vida por aqui são realmente diferentes. Não existem festinhas de aniversário das crianças e se tem é durante à tarde, só para as crianças. São raras as vezes que vemos crianças em restaurantes à noite. Vamos nos adaptando e desde que comecei a trabalhar tento chegar em casa no máximo às 18h, assim ainda tenho tempo de ficar com meus pequenos antes de irem para cama. Eles adoram brincar comigo depois do jantar e sempre pedem pra eu ler histórias em português.
Assim, nossa família belgo-brasileira tem se adaptado às dissonâncias existentes no quesito sono e procuramos soluções para balancear o que cada um traz da sua cultura, o que queremos fazer diferente e ensinar para os nossos filhos. Eu não abro mão dessas duas horas de “tempo de qualidade” que passo com meus pequenos, tempo no qual eu me entrego e aproveito cada segundo com eles. Também acho muito importante celebrar o aniversário das crianças e fazer uma festinha pequena para os amiguinhos da sala. Sempre adaptando à rotina do sono e aos hábitos locais.
E você também tem se adaptado aos hábitos locais do país em que está vivendo?
No próximo texto, falarei um pouco sobre família bilíngue e como nos comunicamos aqui em casa. Até mês que vem!
5 Comentários
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Carol amiga, mesmo não tendo um marido belga, o Alex pensa um pouco parecido com deixar chorando e sobre a rotina do sono. Sofri um pouco no início, mas vejo que a rotina do dormir cedo e dormir sozinho, foi a melhor coisa que estabelecemos aqui em casa… flexibilidade, paciência e jogo de cintura precisa existir entre papais e mamães…
Caso contrário, nossos pequenos sempre serão prejudicados! Bjo no coração! Amo vc!
Oi Marcê! Que bom ter vc aqui no site lendo os nossos textos! 😉 Sim, precisamos de muita paciência e jogo de cintura e pensar no bem estar do pequenos!! Acredito que essas diferenças podem existir entre vários casais até mesmo da mesma nacionalidade, mas aqui às vezes me sinto um peixe fora d’água. Mas vamos adaptando e achando as melhores soluções na medida do possível! beijo enorme pra vc e pro Arthur!
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