Eu sozinha no Caminho de Santiago de Compostela
Você já se perguntou alguma vez, o que você realmente quer para sua vida? Pois bem, como dizia o Pai da Filosofia Sócrates: “Só sei que nada sei.”.
Era exatamente assim que eu estava me sentindo. Só queria entender algumas coisas, sentir e viver o que realmente importa. Este foi um dos motivos que me levaram a percorrer o Caminho de Santiago de Compostela.
Antes de começar a escrever minha experiência, quero dizer que o “Caminho” é uma rota incrível de peregrinação com destino a Santiago de Compostela na Espanha.
As emoções da viagem já começam com a preparação
Não me preparei fisicamente para fazer o Caminho de Santiago, mas sim psicologicamente.
Bom, as únicas coisas que eu comprei foram: um par de tênis para caminhada, meias especiais, uma toalhinha e produtos para os pés. Sim, nesse jornada os meus pés seriam os componentes fundamentais.
A mochila peguei emprestada e as outras coisas eu já tinha. Providenciei a credencial do peregrino, porque ela dá acesso aos albergues durante a peregrinação.
Mentalmente eu já me sentia no caminho e tenho que confessar que esta mistura de sentimentos (medo, ansiedade, euforia, alegria, gratidão, felicidade e amor) foi o que eu mais gostei.
Lisboa, cheguei!
Dia primeiro de agosto de 2020 aterrizei às 16h30 no aeroporto de Lisboa. Feliz em rever Lisboa e muito ansiosa, porque eu não sabia como as coisas iriam correr por conta do Covid.
Nunca fiz este tipo de peregrinação. Sou daqueles que se perdem mesmo com GPS e roda, roda como peru em véspera de natal até acertar a direção.
Em Lisboa aluguei uma cama em um albergue particular. Meu marido achou mais seguro ter algo reservado para o primeiro dia. E foi bom mesmo, por causa da pandemia muitos albergues não estavam recebendo hóspedes em Lisboa.
Se não tiver pressa, pode acontecer
Passei uma noite em Lisboa e já no outro dia pela manhã segui direto para o Porto.
No caminho liguei para o Albergue Refúgio Santa Hora e fiz uma reserva. Vale ressaltar, que eu ainda não havia decidido qual dos caminhos eu iria seguir, se seria o Caminho Central ou o da Costa.
No albergue do Porto fui muito bem recebida, o atendente me deu uma aula sobre os Caminhos (Central e o da Costa). Ele me explicou detalhadamente tudo que eu precisava saber e também tirou todas as minhas dúvidas.
Foi então que tive a certeza, que eu iria percorrer o Caminho Central. Eu não tive pressa, somente a certeza que eu escolheria o melhor caminho. Foi uma ótima escolha!
Não é somente caminhar
Fazer caminhadas longas, assim como um processo meditativo, estar sozinha e quem sabe ter a chance de me conectar com minha essência. Isso era tudo que eu mais queria.
Estava também disposta a aprender a soltar, praticar o exercício da entrega, do desapego, escutar meu próprio corpo e me escutar.
Sabe, eu queria mesmo era fazer uma grande faxina no meu corpo e na minha alma.
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O Caminho é um aprendizado e o autoconhecimento é a chave
O ser é você e descobrir o seu ser é o começo da vida.
Osho
E a primeira lição de muitas delas que eu aprendi, foi escutar o meu corpo. Prometi para mim mesma que iria caminhar, sem muitas expectativas e quando o meu corpo desse sinais, eu iria respeitá-lo.
Por dia eu caminhava mais ou menos 25 km. Eu me sentia um pouco cansada por conta da mochila, e olha que minha mochila não estava tão pesada assim. Era tão gostoso caminhar entre cidades, áreas industriais, pequenas aldeias, montanhas, rios e bosques. Só de pensar bate aquela saudade!
Vale lembrar que variações de climas e emoções estiveram presentes na minha caminhada. Foram dias de muito sol, chuva, dias nublados e com arco-íris. Houve dias de muitos risos, tristeza, choro, dúvidas, muitas conversas, mas também, dias de silêncio profundo.
E foi no meio deste cenário maravilhoso, que foi acontecendo a minha faxina. Fui deixando para trás tudo que não me fazia bem. Uma meditação ativa e bem purificadora. Este caminho estava se mostrando, como uma metáfora da minha própria vida.
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Aprendendo a viver com o essencial
Como já listei acima, eu levei o mínimo possivel, ou seja, o recomendável. Na minha mochila carreguei duas camisetas, duas peças íntimas, uma calça comprida, uma canga de praia, dois pares de meias, sabão de coco, produtos para higiene pessoal, creme para os pés e coisas para fazer curativo. Foram 12 dias, dormindo em albergues públicos e comendo o menu do peregrino. Este menu era composto por uma sopa ou salada, um prato principal, uma bebida, sobremesa e o famoso cafézinho.
Eu gastei aproximadamente 1000 euros, incluindo a passagem aérea de Hannover até Lisboa, passagem de trem de Lisboa a Porto, café da manhã e água.
Eu queria muito viver com o essencial, afinal este é um dos principais ensinamentos do Caminho de Santiago.
E eu vivi e aprendi muito nesses 12 dias. Foi uma transformação e algo realmente magnifico! Viajei por 12 dias comigo mesma, acabei conhecendo uma pessoa super incrível, uma menina mulher que precisava muito conversar com sua criança interior. Essa conversa aconteceu e foi uma coisa muito emocionante. As duas conseguiram se perdoar pelos erros do passado e seguem amigas.
O Caminho
O Caminho é o caminho!
Não tenho palavras para descrever a emoção que senti, porém confesso que foi um misto de emoção e preocupação. Foi algo tão mágico, muito, mas muito, especial.
Venci alguns medos, tive tempo para pensar, tempo para mim, além de constante contato com a natureza. Sabe o que foi mais importante? Eu conseguir colocar minha cabeça em ordem e decidir algumas coisas enquanto caminhava.
Posso dizer com toda certeza, que cada Caminho é um Caminho diferente, com novos desafios e muitas surpresas. Realizei um sonho, tive paciência, vibrei com pequenas conquistas, sorri e curti intensamente cada momento.
A pretensão de chegar lá eu realmente não tinha, pelo contrário, eu achava que não iria conseguir. Mas cheguei e descobri que posso fazer o que eu quiser, sem a aprovação de ninguém. A minha felicidade depende só de mim.
Aprendizado
Quanto mais pesada fosse a minha mochila, mais difícil e penosa seria a minha trajetória. Aprendi a deixar ir tudo que me faz mal.
Eu tinha também, muitos medos e inseguranças, e eles sem dúvida, já eram mais pesados que a minha mochila. Aprendi a confiar mais em mim.
Aprendi que uma pedrinha que entrasse no meu sapato poderia ferir meu pé.
Que minha cabeça dizia para meu corpo que seriam somente mais dois quilômetros, enquanto o meu corpo não suportava mais o peso da mochila. Aprendi a ouvir meu corpo.
Que a água era muito importante para meu corpo não ficar desidratado.
Que o percurso deveria ser mais importante que a chegada. Viver o agora!
Que quanto maior fosse o meu desapego, mais cômodo e feliz seria o meu caminho.
É como diz o ditado popular: “o que não tem solução, solucionado está.”. E foi pensando assim, que caminhei. Com o tempo fui tendo mais clareza de pensamentos e entendo algumas coisas que eu não conseguia entender.
Fui tirando tudo de ruim e ao mesmo tempo adicionando em mim gotinhas de paciência, determinação, persistência, sabedoria e fé.
Eu quero somente viver o agora, sem fazer muitas expectativas para o futuro. Este pode não chegar.
Também não quero mais ficar carregando problemas do meu dia a dia que eu não posso resolver. Eu vou e os problemas continuam aqui. Minha meta agora é: dar um passo de cada vez.
No Caminho eu encontrei o meu caminho e também muitas respostas que estavam ocultas dentro de mim. O Caminho me modificou!
2 Comentários
Adorei, obrigada por dividir conosco a sua experiência! Tenho o sonho de fazer essa caminhada; quem sabe podemos fazer juntas ? Por ser num país onde não conheço nada , acho que me sentiria mais segura!💪🏽🌼
Depoimento maravilhoso!👏🏽🌷
Olá Mônica, fico feliz que você tenha gostado. No ano que vem se tudo sair como eu desejo, quero muito fazer novamente o Caminho e aí quem sabe, você vem junto.
Um beijo e que seus sonhos se realizem em 2021😘