Copa do Mundo 2018 em Los Angeles: como meu filho se apaixonou por futebol.
Futebol é coisa nossa!
A primeira Copa do Mundo do meu filho foi no Brasil, em 2014, quando ele tinha apenas 2 aninhos. Obviamente ele não se lembra (ainda bem que os 7×1 não estão em sua memória – risos) e, para falar a verdade, ele nunca havia demonstrado muito interesse por futebol.
Durante os dois anos em que moramos em NY, o inscrevemos num programa de futebol bem popular, o Super Soccer Stars. Era um grupo interessante de garotos, a aula era dinâmica, mas ele não queria fazer de jeito nenhum – o que para uma mãe corinthiana roxa e um pai flamenguista doente era muito frustrante. Claro que tentamos levar na “esportiva”, mas o futebol sempre foi muito importante em nossas vidas: nos bons e maus momentos. Chegamos a dormir em quartos separados após uma partida em que o Flamengo eliminou o Corinthians da Libertadores (“Em nome da nossa relação eu preciso me recompor!”, eu dizia); e um dos melhores anos da minha vida foi 2012, quando meu primeiro filho nasceu e, claro, o Corinthians levou o Mundial de Clubes.
Nosso filho não curtir futebol nunca “desceu pela nossa garganta”
Isso porque percebemos que não havíamos incentivado no dia a dia, de maneira mais prática. E as crianças aprendem pelas ações – e em conjunto, ou seja, fazer algo em família estimula o vínculo emocional.
E nesta Copa, ele já com quase 6 anos, eu estava decidida a tentar de tudo para gerar seu interesse pelo futebol. Meu marido acompanha todos os jogos do Flamengo (todos, sem exagero) e os da Champions League. O incentivei a ver na televisão (e não no computador) para “bloquear” a TV e fazer com que o Miguel fosse meio que “obrigado” a ver os jogos. Na verdade funcionava assim: não quer ver o jogo na TV com a gente, tudo bem, pode brincar. Só depois do jogo é que ele poderia ver algo na televisão ou no Ipad (controlamos o tempo diário em 40 minutos). Ele ia brincar no quarto sozinho, mas sempre acabava um pouco conosco, e assim explicávamos algumas regras, vibrávamos com gols incríveis e, ao fim, sempre batíamos uma bolinha com ele.
E, assim, chegou a Copa!
“Vamos comprar o álbum da Copa para ele! Assim é uma coisa que vocês podem fazer juntos!”- disse ao meu marido. E assim continuamos com nosso plano quase que infalível (como diria o Cebolinha da Turma da Mônica).
No começo, meu filho ficou mais interessado, depois foi perdendo o interesse (e, de maneira inversa ao meu marido, que estava completamente viciado em completar o álbum).
Por sorte, nossos vizinhos são Colombianos e também são loucos pelo esporte. Ao verem nosso álbum, não hesitaram em adquirir um. E assim começou o troca-troca de figurinhas entre meu marido/filho e vizinhos/filhas. E enquanto rolava a troca no jardim de casa, as crianças, vez em quando, jogavam bola.
O primeiro jogo do Brasil coincidiu com o aniversário do meu filho. Dia perfeito para comemorar! Fizemos quitutes brasileiros, enfeitamos a casa toda de verde e amarelo e convidamos nossos vizinhos e conhecidos. Tínhamos em casa as seguintes nacionalidades: brasileira, colombiana, australiana, sueca, inglesa, alemã, grega, chilena e sul-africana. Foi uma farra!
Leia também: As famosas férias escolares de verão na Flórida
Percebi meu filho entender que este evento agrega as pessoas e que elas provém de diferentes países e culturas, mas que todos estávamos lá, unidos, compartilhando um momento inesquecível. Com alegria, energia, vivacidade e presença. Ele sentiu tudo isso, na sua pele. Não foi falado. Foi vivido.
Ao longo da Copa, seu interesse foi aumentando impressionantemente. E ele foi relacionando os países com as nacionalidades dos amiguinhos. Por exemplo: seu amigo Héctor, nasceu na Inglaterra. A mãe do Kai é do Japão. O Quentin, da França. A Colômbia, da Lucía e Saraluna. A Suécia, da mãe do Audinn. E então ele torcia pelos países dos seus amigos. A Copa o fez perceber que as pessoas as quais convivemos são muito diferentes de nós e, ao mesmo tempo, iguais.
Isso tem um significado incrível para uma geração futura que, por muitas vezes, me preocupa pelo fato de estarem absorvidos pela cultura de massa, e não terem a chance de conhecer suas raízes (ainda mais eu, atriz brasileira, e também professora de Português como Língua de Herança no meu projeto Brazilian Play and Learn).
O final da Copa é apenas o começo…
Chegamos de férias ao Brasil antes do final da competição. Minha mãe, também corinthiana roxa, respondia ao pedido do neto:
“Vamos jogar bola, Vovó!”. E lá ia ela pro quintal. A cada expressão “Gol!”, “Na trave!”, “Faz falta!”, “Chuta!”, “Defendeu!”, olhava para o meu marido, e um sorriso em nossos rostos se abria.
O Brasil ser eliminado não causou tristeza. “A gente torce pelo Brasil mesmo quando ele perde, né mamãe?”- disse ele. “Sim, filho, sempre torcemos pelo Brasil. Sempre!”- respondi, de uma maneira metafórica.
PS: Aqui você pode conferir uma lista de escolinhas de futebol para crianças em Santa Monica/Los Angeles.