A Copa de Futebol Feminino e a importância da representatividade
Minha filha tem 2 anos e 7 meses e ainda não vê TV. Aqui em casa telas apenas para ver os avós nas conversas quase diárias. Mas há que se abrir exceções em alguns casos. A Copa do Mundo de futebol é uma delas. Em 2019, é a vez das mulheres entrarem em campo. E nada melhor do que aproveitar o momento para mostrar para minha pequena que o futebol é coisa de menina também e que o futebol feminino também é importante.
É engraçado pensar em como foi natural para mim falar sobre a Copa do Mundo de futebol masculino, que nem leva o adjetivo de gênero no nome (como a jogada pelas mulheres). Em inglês, é Fifa World Cup (Copa do Mundo da Fifa) para o campeonato masculino e Fifa Women’s World Cup (Copa do Mundo das Mulheres Fifa – em tradução livre). Fica a reflexão do que a sociedade considera normativo.
Ano passado, mesmo descontente do rumo que o país estava tomando, estávamos no Brasil no início da competição e não tive como deixar o sentimento de festa tomar conta de mim. Contei nesse texto aqui o porquê decidi apresentar a Copa para minha filha, na ideia de trazer lembranças da minha infância à tona, de colorir a dela de verde e amarelo e aproximá-la mais ainda do nosso país e cultura.
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Vale ressaltar também que é a França a sede do campeonato feminino em 2019, por isso estamos bem próximas. Ano passado, a cada etapa que o país ia vencendo, a empolgação da população ia aumentando. Bandeiras começavam a aparecer nas janelas das casas, decorações e pinturas de rosto desapareciam das singelas prateleiras destinadas aos produtos da competição nos mercados da minha região.
Será que o mesmo acontecerá se a equipe feminina alcançar o título como a masculina? Vou acompanhar com atenção. De qualquer forma, ver que há uma movimentação em torno do campeonato na mídia já é um começo. Esta edição já marca o recorde em venda de ingressos da história da competição.
Tirando a chuteira… ou melhor, a camisa do armário
Sexta-feira, 7 de junho de 2019. Liguei a TV e assistimos juntas a uma parte do jogo da França contra a Coreia. Que lindo ver mulheres em campo pela primeira vez! Sim, pois mesmo tendo 30 anos, esta é a minha primeira Copa feminina. Aliás, a primeira vez que assistiria a um primeiro jogo de futebol feminino.
Eu não entendo quase nada de futebol. Mas confesso que aquela ideia de “futebol feminino é sem graça” me veio à cabeça. Só que dessa vez, eu me surpreendi. Foi lindo ver gol de cabeça, de bicicleta. Foi surpreendente ver meninas dominando a bola em saltos – o pulo, não o sapato.
Comemorei levantando minha filha em dois gols. Ensinei ela a cantar o lema da equipe da França “Allez les bleues” (Vão – Avante, Azuis) . Mas, mais do que isso, dei a oportunidade de ela começar a ver desde cedo que lugar de mulher é onde ela quiser. Seja num campo para fazer futebol como um esporte amador com a finalidade de se exercitar, seja competindo e passando na televisão.
Se torcemos para a equipe masculina no ano passado, precisamos fazer o mesmo este ano. Agora, temos mais um integrante no meu time: meu filho de 5 meses. Claro que ele não entende e não assiste aos jogos, mas fiz questão de colocar uma bandana do Brasil no dia do jogo da nossa seleção e tirar uma foto ao lado da irmã. No seu álbum de recordações, estará gravada a sua primeira Copa do Mundo – a feminina!
Surpresa ao ver uma técnica
No dia seguinte ao jogo da França, não se falava em outra coisa na TV no setor de esporte. Entre as inúmeras reportagens, uma sobre a técnica da seleção. E aí veio um choque: uma técnica e não técnico. Só neste momento me dei conta de que mesmo acostumada a ver mulheres em outros esportes, elas sempre eram dirigidas por homens.
Pensei nas meninas da ginástica artística e seu técnico. Pensei na seleção feminina de vôlei, campeã olímpica por duas vezes, e seu técnico. Por isso, foi tão surpreendente para mim ver que uma mulher estava no comando do time francês. Algo que seria tão natural se formos pensar que os homens são dirigidos por homens.
Mais um ponto para essa Copa, e mais um alívio no meu coração ao me dar conta de que minha filha, e meu filho também, já crescerá vendo mulheres em posições de comando. São detalhes que parecem sem importância, mas não são. Representatividade importa! Separei este texto sobre o assunto para deixar uma reflexão.
E o Brasil entra em campo
Mas nós não pudemos acompanhar pela TV. Nesta fase, só alguns jogos são transmitidos na TV aberta. Torcemos então para as meninas do Brasil passarem de fase para poder, enfim, assistir com a minha filha nosso país jogando. Por enquanto, vamos acompanhando a França e alguns stories dos jogos do Brasil que vejo no Instagram. Porém, aproveitei a ocasião para mostrar na internet a foto da nossa equipe e no livro dela ” 50 brasileiras incríveis para conhecer antes de crescer”o texto sobre a Marta.
1 Comentário
Amei o texto! Muito real essa diferença que ainda existe, mas que ainda bem vemos começar uma diferença! Que nossas filhas possam crescer em um mundo onde a copa feminina seja tao celebrada quanto a masculina!