Disciplina Positiva: um caminho de aprendizado
Nesses três anos de maternidade, eu aprendi e desconstruí muitos conceitos. Busquei a perfeição e sofri muito com a frustração que essa busca me gerou. Pensei, repensei e repenso toda vez que sinto que algo me incomoda na criação dos meus filhos. Hoje, deixo bem menos espaço para a culpa. Ela aparece, mas eu logo mando ela embora falando para mim mesma que estou dando o meu melhor.
Queria, por exemplo, uma escola montessoriana para minha filha, não dava para bancar isso. Sofri por semanas até conhecermos a escola pública normal para onde ela foi e estamos tendo uma experiência maravilhosa. Sempre tive a disciplina positiva como meu ideal, e a cada grito ou toda vez que eu perdia a paciência, me achava uma péssima mãe. Aos poucos, fui entendendo que esse é o caminho que quero seguir, porém nele existem bifurcações, lombadas, acostamentos, desvios. Ele será o que me guia, mas como ser humano, preciso me perdoar e entender que também estou aprendendo e evoluindo.
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E esse acolhimento que nós, mães e pais, tanto precisamos, eu encontrei na Jéssica Motta, educadora parental, o que para mim significa parceira nessa caminhada que é criar e educar filhos com respeito, amor, empatia e firmeza.
Jéssica é professora de primeira infância há 20 anos, educadora de pais e professores certificada internacionalmente pela Disciplina Positiva (Positive Discipline Association USA). Mãe há 17 anos e “cada dia mais encantada pela maternidade e pelo desenvolvimento humano”.
Ela explica um pouco do seu trabalho e visão nesta entrevista que trago para vocês, para que a gente siga nessa viagem que é parentalidade com menos julgamento e mais acolhimento.
Mães Mundo Afora: Você é mãe de dois adolescentes, mas descobriu a disciplina positiva vários anos depois da maternidade. Como era a sua relação com seus filhos?
Jéssica: Eu conheci a Disciplina Positiva numa época muito difícil que passei com meus filhos. Tenho um menino, que hoje está com 17 anos, e uma menina, que hoje tem 10 anos. Meus filhos têm seis anos de diferença, e ele sempre foi muito calmo e tranquilo, quando minha filha nasceu meu mundo virou de cabeça pra baixo.
Ela me desafia diariamente. Foram muitos momentos de brigas entre irmãos, disputas de poder e foi quando eu comecei a duvidar da minha maternidade e realmente me perguntar se era uma boa mãe.
Então comecei a estudar para ser mãe. E descobri que educava meus filhos para serem perfeitos e não felizes. Quando li sobre a educação em Disciplina Positiva, descobri que precisamos aceitar, acolher e respeitar quem são nossos filhos e a partir daí, me aprofundei nos estudos e encontrei minha missão: ajudar pais, porque não precisamos ser perfeitos, temos que ser conscientes.
A partir do momento que você começou a seguir essa nova filosofia, o que mudou na sua relação com eles?
Foi muito difícil! Nós queremos resultados imediatos e não é assim que funciona. Leva tempo. Disciplina e constância são fundamentais para que você comece a desenvolver um senso de responsabilidade e colaboração, porém, imediatamente, você começa a perceber a mudança em você e descobre que muitos dos comportamentos das nossas crianças são reflexos dos nossos comportamentos.
Pode explicar de forma breve o que é a disciplina positiva (a essência dela)
A Disciplina Positiva é uma filosofia de vida. Ela nos abre portas para uma consciência na educação dos nossos filhos. Nos remete a realidade de fato: O que eu quero? O que eu espero? Como fazer para que meus filhos desenvolvam habilidades de vida e cresçam felizes e saudáveis emocionalmente? E ela nos presenteia com ferramentas práticas, formas de como lidar com tantos desafios que enfrentamos ao longo dos dias.
Muitas pessoas têm a impressão de que esse tipo de criação é fazer tudo o que a criança deseja ou não colocar limites. Como você trata isso?
Essa é uma excelente pergunta! A Disciplina Positiva é uma abordagem baseada no respeito mútuo, e adotar a permissividade numa relação entre pais e filhos é totalmente o oposto. O papel dos pais é ensinar a seus filhos como esse mundo funciona. Conhecer as etapas do desenvolvimento do seu filho, estudar e, realmente, perceber o que é desejo e o que é necessidade. Intervenções, sempre com gentileza e firmeza ao mesmo tempo. O mundo da criança sem limites e direção torna-se angustiante, inseguro e infeliz.
Qual é o público que procura seus serviços nessa área e por quê?
Hoje em dia, devido a facilidade e rapidez com que recebemos as informações, muitos pais sentem-se perdidos, com isso a principal procura e questionamento é “por onde começar?”.
Os pais de primeira viagem ou aqueles que têm bebês e querem “fazer diferente”, procuram para buscarem novas formas de educação e estabelecerem confiança e respeito mútuo. Porém, a maioria dos pais busca ajuda, um socorro, por não conseguirem lidar com os desafios com seus filhos.
Quais as maiores dificuldades dos pais quando decidem seguir essa filosofia?
Em primeiro lugar: aceitação! Aceitar quem são e quem são seus filhos. Nossas crianças são pessoas independentes de nós. Sentem diferente, reagem de forma como percebem as coisas. Não são nossas extensões. E isso, ainda é um pouco difícil, para nós pais, aceitarmos.
A Disciplina Positiva, para mim, abriu a minha mente para a “Educação Consciente”. E essa educação nos faz perceber que envolve muito mais os pais do que os filhos (os adultos do que a criança).
Temos que ter consciência de quem somos, o que queremos, qual nosso “plano” para a educação dos filhos, o que eu espero para ele daqui há, pelo menos 20 anos, e como eu vou fazer para que isso se concretize. Antes de corrigir comportamentos, vamos saber quem são nossos filhos e o precisam para serem quem são.
A culpa é algo muito presente na maternidade/paternidade, e a disciplina positiva exige um controle emocional grande dos criadores. Quando não conseguimos mantê-lo e temos uma atitude de repressão ou de gritar, por exemplo, a culpa parece ser muito maior. Como lidar com esse sentimento?
Por isso a importância de se aceitar. Não participamos de uma “formação” para ser pai e mãe, aprendemos a ser pais educando nossos filhos da melhor forma que sabemos fazer. “Erros são ótimas oportunidades para aprender”, uma das frases da Disciplina Positiva, e quem disse que estava errado? Aceite! Confie em você! Você está fazendo um ótimo trabalho!
O que te faz acreditar no poder da disciplina positiva?
Minha crença no amanhã! Porque eu acredito na educação e no amor que envolve o trabalho dos pais.
O futuro do mundo está nas mãos das crianças de hoje, e a Disciplina Positiva nos ensina uma educação em respeito mútuo, resiliência, empatia, habilidades de vida fundamentais para qualquer cidadão que viva em sociedade.
Para quem quer dar o primeiro passo rumo à criação com respeito, o que é preciso fazer?
Em primeiro lugar o autocuidado. A educação consciente, começa com os pais. Quando estamos seguros, confiantes e felizes, somos capazes de confiar e acreditar nos nossos filhos. Como já mencionei, nossos comportamentos interferem muito nas respostas de nossas crianças, portanto, nada mais saudável do que o adulto da relação estar em equilíbrio.
Por fim, como você enxerga o seu trabalho
Eu acolho pais na missão de educar e para um despertar na parentalidade. Com sabedoria, paciência e amor podemos criar um lar no qual nossas crianças sintam-se seguras, amadas e livres para aprender e crescer. Somos todos aprendizes e, juntos, somos mais fortes.
Para acompanhar o trabalho da Jéssica, siga-a no instagram: @maternar_sem_culpa e @melhordainfancia ou pelo site www.melhordainfancia.com.br
4 Comentários
Mariana, excelente ideia essa entrevista. Também estou seguindo um programa de parentalidade positiva. Estou aprendendo muita coisa, culpando-me muito, questionando-me todos os dias… Quando tenho dias difíceis, perco a motivação e depois começo tudo de novo.
Realmente não existe curso, preparo nenhum para ser pai e mãe. Todos erramos. O importante é se questionar e nunca ter certeza de nada. Se tivermos certeza que estamos agindo certo, não daremos um passo para melhorar.
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