É fato real que muitas mulheres, no exterior ou no nosso país escolhem o caminho do empreendedorismo.
Muitas vezes, por ser um espaço de maior controle de tempos e decisões ou por questões que vão além da vontade de criar algo diferente ou vencer nos seus próprios termos.
De acordo com o Sebrae, em uma pesquisa sobre empreendedorismo feminino, em 2018 o Brasil ocupa o sétimo lugar quando falamos em número de mulheres empreendedoras, e em 2017 ocupava o terceiro lugar, dentre 49 países. Para acessar esta pesquisa em detalhes clique aqui.
Por que as mulheres empreendem?
Historicamente, muitas mulheres tiverem que praticamente brigar com unhas e dentes, queimando muitos sutiãs por aí para que a atenção fosse levada para o trabalho de forma mais igualitária, onde o ser humano é colocado em destaque, mas para que sejam tratados e pagos de uma forma parecida, independente de ser homem ou mulher.
Sou muito grata por todas estas mulheres, todas que de alguma forma se colocaram no mundo e lutaram para que as coisas fossem vistas de uma forma diferente.
Tive o privilégio de nascer depois, numa era onde nós mulheres escutamos que podemos fazer tudo, tudo que a gente tenha vontade, com muito menos restrições que nós mães e avós, por exemplo. E dentro desta tão sonhada liberdade me vejo rodeada de questionamentos.
Você já se perguntou isso:
- Se podemos fazer tudo que queremos, por que é tão fácil criticar quem quer se dedicar aos filhos ao invés da carreira? Acredito que isso seja um dos motivos de angústia, entre expatriadas que acabam exercendo este papel, quando mudam de país.
- Por que queremos trabalhar 8,9 e até 10 horas por dia e chegar em casa e continuar mais um período intenso de trabalho? Organizando a casa, comida, filhos e lição de casa.
- Por que 90% de nós se diz sentir culpada após a maternidade?
- De onde vem toda essa pressão e essa necessidade de estar fazendo e acontecendo 24/7?
Empreendendo fora do Brasil
Uma das coisas que aprendi durante a minha jornada de erros e acertos no caminho do empreendedorismo fora do Brasil foi de que as empresas, pelas quais lutamos tanto para fazer parte no passado, embora tenham avançado muito na questão de igualdade entre os sexos, ainda não fazem uma inclusão biológica, respeitando e acolhendo nós mulheres e nossas necessidades. E, por isso, muitas de nós acabam optando por enveredar pelo caminho do empreendedorismo, em muitos casos sem realmente ter necessidade ou um real entendimento de todo comprometimento e responsabilidade que vem com esta escolha.
Morando e empreendendo na Oceania, percebo que historicamente as mulheres deste pedaço do mundo tem um privilégio na história, principalmente a Nova Zelândia, primeiro país que as mulheres puderam votar. Elas são sim mais independentes e não gostam de pedir ajuda, muito menos se esta ajuda for do sexo oposto. E na maioria das minhas interações se mostram dotadas de uma visão mais igualitária em relação a atividades e responsabilidades.
Mas, aí eu me vejo questionando toda essa busca incessante de se provar como independente, autossuficiente e dona do poder. Será que não existe um meio termo? Será que não poderíamos observar o que é importante para cada um, o que cada pessoa pode contribuir?
Inseguranças ao empreender no exterior
Outro ponto muito interessante que descobri tento contato próximo com empreendedoras deste lado do mundo, é que lá no fundo elas têm inseguranças muito parecidas com as nossas.
Se você empreende fora do Brasil, talvez possa ter se questionado ou se cobrado mais por não saber exatamente como agir, entender a cultura de uma forma profunda e, por isso, ter se colocado numa posição de quase não pertencimento ou questionando sua capacidade.
Eu fiz isso por algum tempo. Eu acreditava (erroneamente) que pelo fato de não ter nascido ou crescido nestes países, ficava evidente (além do meu sotaque, é claro) que eu não pertencia e por isso tinha que me esforçar ainda mais.
E toda vez que precisava fazer uma negociação, este sentimento mostrava as caras. Já falei mais sobre isso no meu texto sobre Síndrome da Impostora no Exterior aqui.
Leia mais: Mães Empreendedoras – o empreendedorismo feminino e materno hoje
Mas, um dia, eu entendi com todas as letras que, por trás de muitos negócios de sucesso, tinham mulheres que, mesmo nascendo, crescendo, estudando e empreendendo aqui, tinham questionamentos muito parecidos com os meus, embora os motivos aparentes fossem diferentes.
Durante essa minha jornada de descobrimento e ajuste da minha maneira de empreender, eu acabei indo para o modelo mais lógico. Que provavelmente foi inserido na minha forma de pensar e ver o mundo desde cedo.
Pode ser que você também se identifique com a idéia de que devemos empreender ressaltando nossas características racionais e lógicas, provenientes da energia masculina. Eu também já passei por momentos assim, onde me sentia praticamente um mini-homem, acreditando que só as características masculinas deveriam ser celebradas e bem-vindas ao trabalho. Que uma empreendedora de respeito não deveria nutrir muita feminilidade, correndo o risco de ser mal interpretada ou até taxada de fraca, ou vulnerável.
Hoje, falamos mais abertamente sobre vulnerabilidade. Se você ainda não viu, assista o Ted Talk da Brene Brown sobre vulnerabilidade com legenda em português aqui.
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Mas o meu ponto aqui é outro: é te convidar para revisitar estes padrões e realmente questionar se existe uma forma de empreendedorismo para mulher, de trazer esta mulher inteira para o trabalho, ou quais ações precisam ser mudadas para que isso seja possível num futuro próximo.
Acredito que seja a hora de entender que tudo que existe dentro do nosso universo feminino, processos e mudanças que ocorrem no nosso corpo são indicadores do que devemos ou não fazer e precisamos nos educar para entender este corpo, fazer as pazes com ele e criar uma relação harmoniosa, de respeito e confiança.
Pois afinal, nosso corpo de mulher trabalha a nosso favor e não contra a gente.
No meu Podcast Única falamos mais sobre e muitos outros assuntos do universo feminino, clique aqui
Mais ainda, independente do país, trazer esta mulher para um lugar seguro onde ela se sinta realmente livre para escolher e menos sobrecarregada por esta “falsa” percepção de liberdade e escolha.