Emigrar: pronta para mudança interna que esta decisão vai trazer?
No Brasil, eu trabalhava o dia todo, imaginava que era este modelo a ser seguido, mas no meio da história tinha uma mudança de país ou o bebê que chegou para alegrar a vida. Assim a gente renascia de maneira diferente.
Eu sou Roberta Crossley, coach de empoderamento feminino e meu maior público são empreendedoras brasileiras, mundo afora. Não só a relocação, o endereço novo, mas a mudança em si. Quando você se percebeu num estado de mudança quase definitiva?
A mudança de país acontece e na maioria das vezes significa uma ressignificação na carreira e no nosso jeito de viver em família.
Leia mais: O que mudar de país me ensinou sobre o trabalho doméstico
Algumas pessoas passam por este processo de uma forma mais leve e vão atuar na mesma indústria, exercendo a mesma, ou uma função parecida, mas desta vez com um idioma diferente e uma cultura nova.
Existem diversos desafios de adaptação, até que se chegue numa posição mais confortável. Mas, a maioria das pessoas com as quais me relacionei ou assisti se adaptando no exterior tem uma mudança mais brusca, digamos assim.
Pois elas não são facilmente inseridas no mercado na mesma posição, muitas vezes se tornam estudantes ou terão que buscar um emprego que podem ter julgado inferior às suas habilidades. Outras pessoas, principalmente mulheres, irão se reinventar ou focar na maternidade. E todas estas jornadas são cheias de compromissos e expectativas, que muitas vezes acabam sendo frustradas.
Uma vez que no Brasil temos além da nossa rede de apoio a possibilidade e facilidade de contratar pessoas para nos ajudar com afazeres domésticos e cuidado com as crianças. Já fora do Brasil isso pode ser tornar mais complicado e muito mais oneroso.
Nós mulheres, historicamente somos rodeadas de exemplos de outras mulheres, que mudaram e se reinventaram em função da família. E isso não tem nada de errado, nem mesmo de nobre. Acredito que é uma decisão prática, mas nem por isso vem como menos emoção. Ao planejar a mudança para o exterior é bem importante entender realmente o que você deve esperar.
Primeiro é preciso questionar de fato se irá continuar trabalhando na mesma área e checar o quanto isso é realista. Por exemplo na minha experiência, com experiência em Recursos Humanos no Brasil, consegui um trabalho na minha área de atuação somente após três anos fora do Brasil, mas o contexto e atividades do trabalho eram bem diferentes.
Segundo, você está preparada para esperar este tempo e o que fará durante o período de adaptação?
Ou seja, você está aberta e disposta a experimentar outros tipos de trabalho? No meu caso tive oportunidades como cleaner (limpeza doméstica), waiter (garçonete) e recepcionista. Muitas das pessoas que conheço tiveram trabalhos em cafés, restaurantes, hotéis, enquanto no Brasil trabalhavam como gerentes, contadoras e advogadas.
Agora, se você é do time que irá ficar em casa com as crianças, como está se preparando para esta adaptação? Será que o sonho será de fato igual a realidade? Se imagina cuidando das crianças todo o tempo, ou poderá coloca-los na escola ou creche? E como o idioma poderá te impactar? Você domina o idioma? Como irá criar sua rede de suporte e também uma rotina que te permita se cuidar também.
Leia também: Vai mudar de país? Abra-se!
Costumo dizer para minhas clientes que de fato chega a hora de você se tornar a sua própria mãe. Quase sempre achamos que a grama da vizinha é realmente mais verde, olhando para pessoas que moram fora há anos parece até que é fácil, crianças sorrindo na escola, mães se confraternizando, comidas diferentes, tudo muito legal e lindo nas redes sociais.
Mas quando começamos nossa caminhada ela é cheia de medos, incertezas, inseguranças, tensões sobre vistos e permissões de emprego, organizar uma casa nova, adaptar ao trabalho novo e crianças muitas vezes irritadas e insatisfeitas com a mudança.
A realidade é tudo aquilo que acontece fora das redes sociais.
E é importante se atentar a sua realidade e criar espaços para que você possa também sentir o que esta acontecendo e processar todas estas mudanças. Muitas vezes estamos com pressa de chegar no futuro, mas sem o processamento e aceitação de todos os sentimentos do presente, isso fica muito difícil e desconectado da realidade.
Outra questão que pode aparecer muito é a solidão. Mesmo em meio a tantos afazeres é comum se sentir sozinha, pois fica difícil recriar no início todos os laços e redes sociais que tínhamos na vida antiga, com os colegas de trabalho, vizinhos, amigos, familiares etc. E fazer amigos quando somos adultos é mais complicado pois vem acompanhado de julgamentos e inseguranças.
O segredo é sempre entender que dias melhores virão, que qualquer adaptação requer tempo, paciência e compromisso. Que a resiliência aprendida através deste processo é muito valiosa.
Mudar de país nos muda muito mais internamente do que externamente. É uma mudança que não tem volta,. A mudança interna, é claro. Externamente sempre podemos voltar ou mudar para outro lugar.
Então, boa mudança, se cerque de pessoas que poderão te acolher em momentos mais difíceis, mantenha seus relacionamentos com familiares e amigos à distância, lembrando de nutrí-los. Cuide de você que com certeza você dará conta.