Desde pequena eu queria ser mãe, ter uma filha. Brincava de bonecas e tinha toda a parafernália de bebê, da fralda à chupeta. Ficava horas idealizando a maternidade. Não sei dizer se isso era meu ou algo “sugerido” pela sociedade por eu ser uma menina. O engraçado é que eu queria ser mãe, mas nem pensava em casamento. Risos.
Hoje minha filha tem 19 meses. E eu penso aqui comigo mesma: eu tenho uma filha ou sou mãe de uma menina? É uma pegada um tanto filosófica, mas no meu papel como escritora permito-me levantar essa reflexão. Essa pergunta ficou martelando na minha cabeça enquanto eu escrevia a minha apresentação para o recrutamento do site como colunista. Dentre as perguntas, uma era “quantos filhos você tem?”. E então eu pensei, tenho eu uma filha ou sou eu uma mãe para essa menina? Ela é minha propriedade, que posso podar, tirar, por, fazer e acontecer ou seria eu a referência de mãe e ser humano para ela? O que disso importa para a nossa relação? Qual é, de fato, a nossa relação?
Para mim e para o mundo
Eu, como uma educadora dedicada, faço o que posso e o que sei para permitir que a Laura seja uma pessoa independente. Utilizo do meu saber e ponho em prática com ela no dia a dia. Confesso que ela é uma menina muito fácil de lidar, calma, concentrada, decidida, criativa, eu tenho muita sorte de tê-la como filha. Ela é uma criança dos livros de maternidade: sentou aos 6 meses, engatinhou perfeitamente aos 8, andou com um pouco mais de 12 meses e agora já fala muitas palavras em quatro idiomas diferentes (português, inglês, alemão e swahili), além de se fazer entender muito bem através de gestos e de compreender muito bem as quatro línguas.
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Gosto de pensar que ela é minha, em alguns momentos queria ela pequenina pra sempre, em outros gosto de imaginar o que ela vai se tornar no futuro. Claro que ela vai ter muito de mim em sua personalidade, já tem, inclusive. Não só pela convivência, mas também pela forma que eu a crio. Então, de fato, eu formo um ser humano. As minhas ações implicam diretamente na sua personalidade, na sua forma de ser e de levar a vida. Garanto que no futuro ela terá atitudes das quais irá pensar: “Nossa, sou muito filha da minha mãe mesmo, né?”, eu vou adorar saber disso. Risos.
Mas ao mesmo tempo sei que “criamos os filhos para o mundo”, né? E eu quero um mundo melhor para ela e que ela seja forte, independente e decidida para poder desbravar esse mundo afora, sendo exatamente o que ela quiser ser! E eu só desejo poder fazer parte das aventuras dela. Como eu seria feliz em saber que poderei participar das escolhas dela, como uma audiência, e que ela possa contar comigo para o que ela precisar. Mais do que tudo eu quero ser um exemplo de ser humano pra ela, apesar dos meus defeitos, para que ela se orgulhe de mim e me queira sempre por perto.
A relação que queremos ter com nossos filhos
Trago à luz aqui o pensamento sobre as relações que temos e queremos ter com os nossos filhos. Como mãe eu permito que ela faça simples escolhas, ainda que ela seja muito pequena, a fim de lhe dar a autonomia digna de um ser humano. E principalmente confiar nas suas escolhas, mostrando a ela meu respeito. Claro, eu ainda decido e decidirei muitas coisas por ela, mas tento ao máximo não tolher, não podar e não controlar as escolhas dela. Meu entendimento é que ela é um indivíduo e tem seus desejos, vontades próprias e um dia terá seus sonhos. Mesmo que eu tenha muitos desejos, vontades e sonhos já planejados pra ela. Como mãe é muito difícil dividir essa realidade: eu gerei a minha cria, amamentei, ensinei, protegi, e agora ela é livre pra simplesmente ser, independente de mim. A relação que quero nutrir com a minha filha é de harmonia e respeito.
Nesses questionamentos eu chego à conclusão que na verdade eu tenho uma mãe e agora sou uma mãe também. Sei que com a minha mãe eu posso contar, que ela vai estar ali ao meu lado independentemente de qualquer coisa. Ela me mostrou o que é amar incondicionalmente. Sendo mãe da Laura pude aprender com a minha filha o que é amar incondicionalmente, ela me ensinou. Por ora, eu tenho uma menina, mas com o passar dos anos ela vai deixar de precisar tanto de mim e a independência que eu tanto estimulo nela vai só crescer e junto o meu orgulho por ter feito um bom trabalho sendo mãe, assim espero.
No final das contas eu acredito que difícil mesmo é ser mãe todos os dias (e noites também), dedicando tempo, e quanto tempo! Abrindo mão da nossa liberdade e da nossa identidade para nos tornarmos uma outra versão de nós mesmas. Eu não tenho a minha filha, ela tem a mim, o tempo que ela precisar, o quanto ela precisar, porque eu sou a mãe dela e ela tem o meu amor.
3 Comentários
Nossa, que texto incrível. Que sensação boa que ele me trouxe, de que estou no caminho certo ao estimular cada vez mais a independência da minha pequena. Minha bebê tem quase 12 meses, mês que vem irá para uma creche Montessoriana para que eu tenha tempo pra estudar. Vc tem dicas de livros Montessori sobre educação pra mamães lerem? Tem dicas de livros em português para bebês?
Nossa, que texto incrível. Que sensação boa que ele me trouxe, de que estou no caminho certo ao estimular cada vez mais a independência da minha pequena. Minha bebê tem quase 12 meses, mês que vem irá para uma creche Montessoriana para que eu tenha tempo pra estudar. Vc tem dicas de livros Montessori sobre educação pra mamães lerem? Tem dicas de livros em português para bebês?
Oi, Náira. Pergunte a escola como eles de fato abordam Montessori em classe, eles também podem te orientar em relação aos livros e muitas vezes, por ser uma metodologia desconhecida, algumas escolas oferecem workshop para pais. Segue aqui dois livros que eu acho fundamentais pra você entender como funciona, Livro: A criança de Maria Montessori, e também O segredo da infância, Montessori. Recomendo também livros da Jane Nelson sobre Disciplina Positiva, tem uma perspectiva que anda de mãos dadas com o método Montessori. Livros para bebês é interessante aqueles com apelo sensorial, bem lúdicos, livros com rimas e poesias, pra estimular talmbém o vocabulário. Mas ainda que você não encontre livros em português no país que você vive, compre em na língua que tem e invente você mesma a sua versão da história. Eu faço muito isso!