Quero começar esse texto dizendo que a ideia de escrever sobre mães que não trabalham fora não é afirmar que ser mãe em tempo integral é mais difícil do que conciliar família e trabalho ou vice-versa. A ideia é mostrar que, independentemente das suas escolhas na maternidade, não existe certo ou errado, e você não deve ser julgada ou desvalorizada por causa de suas escolhas ou circunstâncias!
Com certeza, todas as mães que não trabalham fora, já devem ter ouvido perguntas do tipo: “Nossa, mas você não trabalha?!”, “O que você faz o dia inteiro?!”, “Você não fica preocupada de ficar tanto tempo fora do mercado de trabalho?!”.
Acho muito importante discutir esse tema e atentar para a desvalorização das mães que ficam em casa, principalmente nesse contexto de vida de expatriados. A gente nunca sabe o que se passa na vida das pessoas e o motivo de tomarem certas decisões. Muitas vezes, quando a família muda de país, a mãe que sempre trabalhou e tinha uma carreira no seu país de origem acabada assumindo um novo papel na vida familiar. As razões para isso são inúmeras. Muitas vezes, ela não trabalha devido a barreiras como as do idioma local, visto de trabalho, mercado de trabalho na área dela e do processo de adaptação dos filhos ao novo país. Ou até pode ter sido porque ela decidiu que essa seria uma oportunidade de curtir a maternidade e dar um tempo na carreira.
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Os julgamentos são inúmeros e os palpites, também! Há os que dizem que é melhor para o seu filho ir para a creche e socializar com outras crianças do que ficar com você em casa o dia todo. Mas, ai de você que não trabalha se decidir colocar o seu filho na creche! Logo virá a pergunta “Mas por que o seu filho vai para a creche se você não trabalha fora?!” Resumindo, independente da situação, sempre há vários palpites alheios, como se todos soubessem o que é melhor para você e sua família.
Para ser sincera, acho até normal as pessoas se sentirem curiosas em entender o motivo da escolha das mães que não trabalham fora; o problema é quando essa curiosidade vem junto com preconceitos e julgamentos. Confesso que eu mesma, quando estava no início da minha carreira e não tinha filhos, nunca me imaginei sem trabalhar quando tivesse filhos. Afinal, no Brasil é super comum as pessoas não terem essa opção de escolha, pois financeiramente é inviável para muitas famílias viver com apenas um salário. Acho que este questionamento tem muito a ver também com as dificuldades, as superações e as conquistas das mulheres no mercado de trabalho. Porém, aos olhos de muitas pessoas, se a mulher opta por não trabalhar, isto é visto como um retrocesso e é aí que começam os julgamentos.
Os julgamentos
Muita gente acha que ser mãe em tempo integral é fácil e se esquece que essas mães muitas vezes não têm nem um intervalo para ir ao banheiro. Ser mãe em tempo integral é um trabalho de 24 horas por dia, 7 vezes por semana, que não é remunerado e não dá direito a intervalos, férias, bônus ou mesmo um dia de descanso quando está doente! E volto ainda a ressaltar o cenário das mães expatriadas, que muitas vezes ainda não contam com uma rede de apoio.
Conversando com outras mães e ouvindo outros relatos e experiências, é possível notar como os julgamentos vêm de várias pessoas diferentes, muitas vezes em forma de indiretas ou piadinhas do tipo “Ah, agora vai ter vida de madame!”. Há também os que ficam com dó dos maridos que trabalham o dia inteiro para sustentar a casa sozinho, enquanto as mulheres ficam em casa com os filhos (como se ficar em casa fosse muito fácil). Isso sem contar as pessoas que ainda têm a audácia de querer imaginar qual seria o seu salário, quanto você gastaria na creche e ainda dar opinião se valeria a pena ou não você trabalhar! Por mais “bem intencionadas” que essas pessoas estejam, muitas vezes essas opiniões magoam. Ser mãe em tempo integral, mãe que não trabalha fora também é um trabalho e que literalmente dá muito trabalho.
Aqui na Irlanda, é bem comum ver mulheres e mães que não trabalham fora por opção, muito mais comum do que no Brasil. Claro que muitas são influenciadas pelo alto preço das creches, mas há também as mães que simplesmente preferiram se dedicar à família. Nos meus últimos dois trabalhos aqui na Irlanda, eu tive colegas que estavam voltando ao mercado de trabalho, pois os filhos estavam começando na escola e elas sentiram que era a hora de voltar a trabalhar. A impressão que eu tenho é que muitas vezes o preconceito maior está na cabeça das pessoas e não no mercado de trabalho.
A maternidade é cheia de desafios e a escolha entre família, carreira ou ambos não deve ser feita por causa de uma pressão social. Cada família tem uma realidade diferente e não dá para nos compararmos à vizinha ou à amiga. Não existe uma escolha correta, existe aquilo que funciona para cada família. Faça aquilo que te faça feliz.