A maternidade e a difícil hora de voltar ao trabalho.
Que maravilha poder passar quatro meses, seis e, melhor ainda, até dois anos dando atenção total ao seu bebê sem precisar trabalhar. Mas a hora de voltar ao trabalho é sempre difícil, podendo ser devastadora, independente do prazo que isso ocorra.
Por isso, é necessário estar pronta para esse momento. Os preparativos a curto, médio e longo prazo devem começar tão logo seja possível. No meu caso, posso dizer que sou uma pessoa abençoada, pois meu retorno aconteceu quando meu filho já estava com 22 meses, já frequentava uma escolinha e o processo de adaptação já tinha ocorrido e eu pude acompanhar de perto. Mas mesmo com tantos fatores positivos, a separação foi muito difícil, um momento cheio de culpas, mistura de sentimentos, nível de estresse altíssimo.
Lembro que um dos motivos de maior preocupação quando soube que estava grávida foi justamente com relação à minha vida profissional. Ao mesmo tempo que sonhava em ser mãe, estava sempre colocando prioridades de trabalho e estudo à frente, o que me fazia adiar a maternidade. Mesmo quando me senti totalmente preparada e com total apoio do marido e da família, percebi-me perdida quando precisei trocar o salto alto, notebook e o escritório pela roupa de casa, mamadeiras e os trabalhos domésticos (que até então eu sempre terceirizava).
Para minha surpresa, após o nascimento do meu bebê, passei a me identificar com a nova vida de um modo que já não conseguia me ver retornando ao mundo corporativo. Tudo que parecia ser um pesadelo inicialmente, após alguns meses se tornou uma zona de conforto deliciosa. Na minha cabeça sempre me vinha a pergunta: onde está aquela mulher super independente, que amava trabalhar, fazer mil coisas e ganhar o seu próprio dinheiro? Boa pergunta, não?
Acredito que muitas mamães se fazem esses questionamentos diariamente e se cobram por achar que são menos valorizadas por não contribuírem financeiramente, ou porque o único assunto que temos é a maternidade. Passava isso pela minha minha cabeça também. E outras coisas, como a ideia de que o meu marido poderia se interessar por alguma outra mulher, pois eu não brilhava num salto alto ou não tinha mais os mesmos papos tão interessantes de antes.
Em uma dessas crises eu cheguei à conclusão e me convenci de que poderia não estar sempre tão bem arrumada como antes, que muitas vezes o meu perfume seria de leite e que meu papo giraria em torno da consistência do cocô de meu bebê… mas o valor de tudo que eu representava em minha casa era muito mais importante que do eu me enxergava. Eu me olhei no espelho e vi que eu era a base, a engrenagem que fazia a minha casa trabalhar, que se meu marido se apresentava tão bem vestido, saudável e feliz era porque justamente eu estava a seu lado em tudo e não atrás dele.
Comecei a olhar o desenvolvimento diário do meu filho com tanto orgulho de meus feitos como mamãe de primeira viagem, que passei a encarar a vida de dona de casa tão importante quanto a vida de um profissional que trabalha numa empresa, independente de sua profissão. Simplesmente passei a enxergar o grande valor que uma mãe e dona de casa tem, com todas as responsabilidades que nos cabem, ainda mais morando num país estrangeiro, falando um idioma novo, emergindo numa nova cultura. Definitivamente, passei a me ver com muito orgulho e me valorizar.
Então, quando menos eu esperava, chegou uma proposta de trabalho, e eu me vi com aquela mesma sensação de antes da gravidez: senti medo, insegurança de encarar um recomeço e, ao mesmo tempo, uma tristeza em deixar o meu mundo, a minha zona de conforto novamente, mas desta vez estando do lado oposto. Posso dizer que foi um sentimento estranho. Sei que em meu lugar muitas mulheres estariam em êxtase, afinal o quadro era totalmente favorável: filho na escolinha e adaptado, professoras amáveis e uma oportunidade de voltar a trabalhar numa grande empresa e ao lado do marido! Meu trabalho permite ainda que eu tenha dois dias por semana de home office, quando posso levar meu filho à escola e conversar com as professoras.
E o dia de retornar ao trabalho chegou. Eu parecia uma criança que vai à escola pela primeira vez. Para deixar o cenário ainda mais desafiador, eu teria que encarar a fluência de dois idiomas, Inglês e Espanhol. Tive todas as reações que possam imaginar, como vômitos, dor de barriga e enxaqueca.
Sempre soube que não seria fácil, mas com o apoio de meu marido, dos meus sogros que vieram do Brasil e uma pessoa próxima que me ajuda na rotina do Rafael desde que chegamos em Barcelona, pude ter um pouco mais de tranquilidade e enxergar o lado positivo. Confesso que a idealização de como seria me fez sofrer mais do que o dia a dia de fato. Hoje, sei que faço o meu melhor como mãe, esposa e profissional. E, com o passar dos dias, estou concluindo que toda esta mudança será benéfica para mim e para ele no futuro!
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