Violência infantil e acidentes com crianças na França.
Como brasileiros, somos bem sensíveis quando o assunto é violência, tanto é que muitos decidiram deixar o Brasil por causa dela. Mas será que estamos totalmente livres da violência em outros países?
Costumo dizer que não existem países perfeitos. Além disso, para quem perdeu um ente querido, pouco importa se as estatísticas mostram que a violência no Brasil é maior do que a violência em outro país, pois a dor é a mesma e ninguém quer fazer parte dessas estatísticas de violência em lugar nenhum. Ter consciência disso torna a prevenção nossa aliada. Afinal, é melhor prevenir do que remediar, não é?
Violência infantil na França
Sim, existe violência infantil na França. Não, ela não acontece exclusivamente no seio de famílias de imigrantes. A violência não tem nacionalidade.
Para quem acompanha jornais franceses, deve ter percebido que os casos de violência contra crianças ocorridos na França são tão monstruosos e assustadores quanto os que ocorrem no Brasil, ainda que a França seja bem mais segura. Maus tratos, abandonos, estupros, violências psicológicas são praticados por familiares, mas acontecem também em escolas, em creches e na casa de babás. Por isso, os pais brasileiros que chegam a outro país não devem baixar a guarda acreditando que morar em país desenvolvido é garantia total de segurança.
Os números oficiais relativos à violência infantil não estão atualizados na França. Os últimos datam de 2006 e revelavam 77.000 casos conhecidos de crianças menores de 15 anos que estavam em situação de perigo. Estima-se que, em 2016, entre duas e três crianças morreram a cada semana em consequência de maus tratos. Para saber mais, leia este artigo.
Leia também: Tiroteios em escolas americanas – a reflexão de uma mãe
Para exemplificar esses números, vou citar três casos, assim espero facilitar a conscientização da existência do problema.
Em 2017, uma assistente maternal (babá) de 55 anos e mais de 20 anos de experiência foi condenada por ter arrancado os cabelos de um bebê que ela cuidava há dois anos. Leia a história aqui.
Outro caso em 2018 diz respeito à morte de um bebê em consequência da síndrome do bebê sacudido, crime cometido por uma assistente maternal. O caso foi noticiado aqui.
Numa creche, uma faxineira foi acusada de envenenar os bebês que ali estavam em 2018. A notícia está neste link.
Numa escola do modelo Montessori, a diretora foi condenada em 2018 por violências cometidas contra crianças no estabelecimento. Leia aqui.
Em 2017, um estagiário foi acusado de agressão sexual numa escola maternal. Veja aqui.
Dentre os casos monstruosos, há o de agressão sexual numa escola, cometida por um professor. Além disso, há problemas de agressão sexual (carícias, etc.) entre as próprias crianças até na escola maternal, o que tem preocupado pais e escolas.
Não entrei nos detalhes dos casos, pois o objetivo não é amedrontar nem alimentar paranoias, mas alertar para algo que, muitas vezes, nem passa pela cabeça de brasileiros.
Enquanto os riscos existirem, ainda que pequenos, precisamos ficar atentos. Por isso, é importante que os pais escolham com cuidado a babá e estejam presentes na vida escolar dos filhos. Isso é válido para qualquer lugar do mundo onde existam seres humanos. Claro, sem paranoias.
Como denunciar a violência contra crianças?
Se seu filho ou uma outra criança estiver em situação de perigo ou correr o risco de ficar em perigo, a denúncia pode ser feita nos serviços de Aide à l’enfance (Ajuda à Infância) ou no Tribunal de Grande Instance (Tribunal de Grande Instância) do seu departamento.
Há igualmente um número de telefone para denúncia: 119. Qualquer pessoa, testemunha ou que suspeita da existência ou do risco de violência infantil, pode denunciar. Inclusive a criança que é vítima da violência.
Sem esquecer que o professor ou o pediatra ou qualquer médico (até numa Emergência) que suspeite ou constate marcas de violência numa criança também pode informar às autoridades para que as medidas cabíveis sejam tomadas com o objetivo de proteger a criança.
Para mais informações, consulte este link.
Lei da palmada na França
O projeto de lei para proibir as palmadas ainda está em discussão, mas existe. Uma parte da sociedade francesa é contra a proibição. Para saber mais, clique aqui.
Tendo em vista os casos de violência, inclusive seguida de morte de crianças no país, há uma campanha para sensibilizar a sociedade sobre a violência contra menores em casa. Os vídeos dessa recente campanha podem ser vistos neste link.
É importante lembrar que, na França, a justiça pode tirar a criança dos pais se ela estiver numa das situações de perigo previstas em lei. Há abrigos e casas de família para acolhê-las.
O bullying na França
O bullying também faz vítimas na França, algumas fatais por causa de suicídios. O governo tem feito um trabalho de prevenção nas escolas, mas, como em todo lugar, o combate ao bullying é árduo e precisa contar com o apoio dos pais.
Saiba também o que é o Ciberbulismo
Se seu filho é vítima de bullying (“harcèlement”) na escola, fale com a direção. Se não resolver, pode falar com a Inspeção Acadêmica (escola primária) ou a Reitoria (colégio).
Neste artigo, há conselhos e orientações para agir em caso de bullying na escola.
Acidentes com crianças
Mudando de assunto, mas sem sair do tema de situações perigosas para menores, o número de acidentes envolvendo crianças tem sido motivo de preocupação no país. Os mais frequentes são o afogamento e o atropelamento (ao dar marcha à ré no carro) em casa. Todo o cuidado é pouco para evitar essas tragédias.
Neste verão, as mortes por afogamento aumentaram tanto que se discute sobre a obrigatoriedade de aulas de natação para crianças.
1 Comentário
Hola Helena, duro, porém necessário artigo, parabéns. Por favor, conterrânea, pretendemos nos mudar a Lyon, no próximo ano, então podemos trocar algumas figurinhas de mãe para mãe sobre a cidade. Desde já grata. Maira