Terremotos e os protocolos de emergência nas escolas chilenas
Chile é um país altamente sísmico. Isso significa que tremores de terra aqui são algo extremamente comum. Inclusive este é um dos poucos países que decidiu usar a palavra tremor para eventos de intensidade menor que 6 na escala Richter e deixou o termo terremoto somente quando a terra resolve se sacudir com uma energia acima dessa média.
Além disso, como em qualquer outro lugar do planeta Terra, a natureza e a intervenção humana sempre deixam o país em estado de alerta. Incêndios, desabamentos de terra, enchentes… Há um sem fim de situações que podem acontecer sem aviso prévio e toda a sociedade, inclusive as crianças, precisa estar atenta e preparada para emergências da forma mais assertiva possível. Daí a importância dos protocolos de emergência que as escolas chilenas ensinam aos alunos.
ONEMI
No Chile, a Oficina Nacional de Emergência do Ministério do Interior (ONEMI) é a entidade responsável por entregar informação à população sobre como se comportar em caso de tremores de terra, por dar avisos de diferentes eventos e emergências, sejam naturais ou causadas pelo homem (como os incêndios que ocorrem com frequência durante o verão), além de prevenir alguns desses eventos quando possível.
Essa entidade também é responsável por preparar os estudantes do país inteiro para essas eventualidades, caso venham a acontecer enquanto eles estão sob a responsabilidade do colégio.
Todos os anos as escolas chilenas entregam, junto com o manual de convivência do estabelecimento educacional, uma série de informações que formam os protocolos de emergência que tratam das formas de evacuação do colégio e os lugares considerados como zona segura dentro do edifício.
Uma vez ao ano, pelo menos, a ONEMI organiza uma simulação de sismo de grande intensidade nas escolas para que todos, desde o pré kinder (alunos de quatro anos) sejam capazes de compreender as recomendações e sigam o protocolo de forma segura, caso seja necessário. Os jardins e creches também têm seus próprios protocolos, adequados ao nível de autonomia que a idade de cada criança permite.

Aviso de simulação de terremoto (Fonte: Onemi)
De modo geral, cada sala designa professores e alunos que ficam responsáveis pela brigada de emergência e precisam cumprir algumas tarefas simples como pegar o diário de classe para ter acesso ao nome de todos os alunos presentes naquele dia, ter em mãos chaves que sejam importantes, certificar-se de que não fique ninguém para atrás, ajudar colegas com dificuldade de mobilização etc.
A ideia é que todos aprendam a se comportar de forma ordenada e calma em situações de emergência, para evitar assim outros acidentes e riscos pessoais durante uma possível evacuação.
Todos os colégios precisam ter a aprovação de zonas de segurança feita por empresa especializada. Os protocolos a seguir devem estar de acordo com as orientações da ONEMI e, ao mesmo tempo, incentivam a que cada escola e suas respectivas brigadas de emergência possam identificar riscos específicos para cada estabelecimento. Pela localização geográfica ou estrutura, podem existir riscos diferentes e, desse modo, podem reforçar os protocolos de emergência de forma mais assertiva.
A nossa experiência
Ainda não vivemos nenhum sismo de grande intensidade estando longe uns dos outros, apesar de já termos passado por mais de um tremor leve ou moderado em casa. Em 27 de fevereiro de 2010 passamos por um terremoto de 8,8 Richter, mas ainda não tínhamos filhos.
Ainda assim, esse tremor me causou um estresse pós-traumático que só foi amenizado depois de uma temporada de dois anos no Brasil, com acompanhamento psicológico. Ali compreendi a importância da preparação para emergências como essa. E quando decidimos voltar ao Chile, em 2012, sabia que precisava ter informação e planos de emergência definidos com a família.
Em 2015, quando o meu filho mais velho tinha quase três anos e eu estava grávida de quatro meses, passamos por um tremor de 8,4 Richter e, apesar do susto, não tivemos problemas (nem física, nem emocionalmente). Estávamos todos juntos e eutambém já havia preparado nossos itens para caso de emergência e isso me dava segurança.
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Hoje em dia, com seis anos, meu filho mais velho já sabe o que precisa fazer em caso de terremoto ou incêndio no colégio e também já conhece o nosso protocolo familiar para casos de emergência. Este ano minha pequena de quatro anos entrou na escola e já nos enviaram um aviso de que durante esta semana farão dois simulacros: um sobre comportamento em caso de sismo e outro em caso de incêndio.
Empresas em edifícios corporativos também têm pelo menos duas pessoas responsáveis por andar para ajudar em possíveis evacuações em caso de emergência. Há simulacros que paralisam a cidade inteira para preparar a população para uma catástrofe.
Sendo estrangeiros, é importante compreender os protocolos para eventos naturais que muitos nunca viveram. Buscar as informações sobre os kits básicos de emergência que o governo recomenda ter, estar com os documentos originais e cópias armazenadas em lugar seguro porém de fácil acesso também é importante. Conhecer as zonas de segurança do lugar onde se mora e onde se trabalha é parte imprescindível para comportar-se de maneira segura em situações de emergência.

Kit básico de emergência “Plan Familia Preparada” (Fonte: Onemi)
Aqui não faltam sinalizações e informação sobre o assunto. Não é sobre apavorar a população, muito pelo contrário, é sobre manter a calma em momentos em que o instinto de sobrevivência pode causar mais problemas do que ajudar. Sendo mãe, muitas vezes o medo pode ser maior pelo instinto de proteção com os filhos. No entanto, informação é poder. Ler os protocolos, analisar, discutir, se necessário, para poder confiar no estabelecimento escolar onde decidimos colocar nossos pequenos, é parte importante da maternidade no Chile. Afinal, é ali onde passam grande parte do dia. E ali eles devem sentir-se e estar seguros.