Se a mesada é a campeã de dúvidas dentro do tema educação financeira infantil, a pergunta “que tarefas domésticas devo remunerar?” fica em segundo lugar no ranking. Muitos pais têm a ideia de que, para oferecer mesada ao filho, é preciso “pedir algo em troca” para que a criança comece a aprender o valor do dinheiro e do trabalho.
O que quase nenhum pai considera são os efeitos negativos dessa prática e é sobre isso que gostaria de conversar com você nesse texto de hoje. Pra isso, é importante que você revisite todas as crenças relacionadas ao dinheiro com as quais cresceu e avalie quais delas deixaram de fazer sentido, mesmo que elas ainda continuem direcionando seu comportamento.
Se você pensa que é fundamental ensinar ao seu pequeno a importância do trabalho, dedicação e empenho para que o dinheiro chegue até a nossa conta bancária, você tem toda razão. O ponto a se considerar é que a mesada não é a ferramenta pra isso e remunerar tarefas domésticas não vai educar sua criança sobre a importância do trabalho. Ao invés disso, você pode utilizar como recurso falar do seu trabalho de maneira positiva, levar seu filho para uma visita ou até mesmo enaltecer a importância de outras profissões. Podemos citar aqui todos os profissionais da linha de frente na pandemia que assola o mundo, por exemplo.
Outro ponto de atenção é lembrar que a família é o primeiro contato que a criança tem com uma estrutura parecida com a sociedade. E sabemos que como cidadão temos direitos e deveres e, muitas vezes, não existe remuneração envolvida. Fato é que, para o bem estar das pessoas que amamos, o ambiente precisa estar em ordem e cada um deve dar sua contribuição para que isso aconteça. Além da responsabilidade envolvida, é um ato de amor e cuidado com quem amamos.
Mais uma consideração sobre esse tema: as crianças precisam encontrar motivações internas para cumprirem com suas responsabilidades. Quando associamos tarefas domésticas ao pagamento de mesada ou a recompensas corremos o risco de estimular as crianças a buscarem sempre motivações externas para fazerem o que deve ser feito. A prática rotineira dessa associação, no longo prazo, pode criar adultos que só fazem algo mediante a alguma vantagem para si, seja ela financeira ou de interesse próprio e, que muitas vezes, não desenvolveram empatia e não levam em consideração o meio em que vivem ou trabalham.
Não se surpreenda, aliás, se depois de algum tempo você ouvir da sua criança: Mas o que eu ganho com isso?
O que fazer então?
A primeira sugestão é realmente delegar algumas atividades, de acordo com a faixa etária, para que a criança exerça na rotina familiar. Isso vai ajudá-la a se organizar, desenvolver responsabilidade, autoconfiança, se sentir parte ativa da família e priorizar, dentre tantas outras habilidades que são possíveis a partir dessa prática. Para educar é preciso começar de maneira leve, lúdica e divertida a construir o adulto que desejamos que nossos filhos se tornem. E não me entenda mal, podemos desenhar valores e habilidades, mas é importante permitir que nossos filhos sejam quem eles desejarem. Nosso papel é só guiar alguns caminhos. Um deles é o da educação financeira.
Dito isso, você pode se perguntar: mas e se meu filho quiser muito trabalhar para ganhar seu próprio dinheiro? Estou proibida de incentivá-lo?
É claro que não. Muitas crianças nascem com a veia empreendedora e encontram no trabalho remunerado a primeira alternativa para colocar em prática toda sua criatividade, iniciativa e interesse em contribuir para o mundo. Nesses casos a sugestão é oferecer às crianças a oportunidade de realizar tarefas que pagaríamos para terceiros, como por exemplo, lavar o carro, cortar a grama, limpar a piscina, etc.
Ainda assim, vale ressaltar a importância de que você negocie todos os detalhes com o seu filho: período do trabalho, valores, o que é esperado dessa atividade e o que acontece se não for bem feita (como por exemplo, refazer).
Esses acordos são importantes para que a criança não execute o trabalho somente quando estiver precisando de uma grana extra e desfaça o compromisso quando for conveniente. Isso, inclusive, pode ser extremamente prejudicial para o desenvolvimento de valores e características que serão levados para a vida adulta. Afinal de contas o que aconteceria se você só trabalhasse quando precisasse de dinheiro?
O fato aqui é um só: em se tratando da educação das nossas crianças, todos os nossos passos devem ser dados de maneira consciente e analisando o que nosso filho aprenderá a partir daquela atividade. Parece complexo, mas o hábito nos tornará especialistas, eu te garanto.
6 Comentários
Adorei o texto e a dica da remuneração extra se a criança quiser assumir um trabalho que seria pago a terceiros. Outra boa ideia, na minha opinião, é incentivar tarefas como venda de livro usado, venda de limonada, cupcakes, etc para um projeto De arrecadação en que a criança se envolva.
Sua dica funciona super bem, Ana! Algumas crianças tem muito interesse e essa veia empreendedora e devemos usar isso a nosso favor na educação financeira delas.
Adorei as dicas. Valiosas!!
Obrigada Déborah!
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