O sistema de ensino público francês
Este é um tema crucial para os pais brasileiros que vivem na França com seus filhos. Sendo o sistema de ensino francês diferente do brasileiro, ter o máximo de informações ajuda a vencer os desafios intrínsecos a toda mudança.
Para começar, gostaria de abordar uma questão linguística. No Brasil, usamos “escola” e “colégio” como sinônimos o tempo todo. Em francês, os termos são bem precisos, embora “escola” seja uma nomenclatura mais geral, e é melhor saber usá-los.
“Escola” (“école”) é o termo usado para a educação infantil, que, na França, compreende o maternal (a partir de três anos) e primário (até 10/11 anos). “Colégio” (“collège”) é usado para os quatro anos de educação fundamental (de 11/12 a 14/15 anos ). “Liceu” (“lycée) é para o ensino médio. Por isso, se você disser que seu filho de oito anos está no colégio, vai soar estranho para um francês.
A escola é obrigatória de 6 a 16 anos e é integral (manhã e tarde), com exceção das quartas-feiras (aulas apenas pela manhã). Há sanções legais contra os pais/responsáveis para faltas não justificadas e repetidas.
Na França, existem escolas públicas gratuitas e escolas particulares. Dentre as escolas particulares, há escolas católicas, muçulmanas, judaicas, protestantes, além das escolas internacionais.
Quanto à repetência, pode-se repetir de ano uma vez.
No link abaixo, você pode consultar um quadro de equivalência das séries na França e no Brasil. Ele data de antes das modificações feitas no sistema de ensino brasileiro, mas dá uma boa ideia.
Matrícula na escola pública
A distribuição de alunos é feita por setor (bairro, município, cidade – dependendo do tamanho), determinada pelo governo. A regra geral estabelece que a criança ou adolescente deve estudar na escola mais próxima de onde mora. Mas, como toda regra, há exceção.
Para fazer a matrícula no maternal, é preciso se dirigir primeiramente à “Mairie” (“prefeitura”) e, em seguida, à escola designada por ela. Para a matrícula no colégio, os responsáveis devem entrar em contato direto com o estabelecimento desejado.
Alunos não-francófonos
Se o aluno não fala francês, pode ser matriculado na escola sem problemas. Durante seu primeiro ano, ele participará de uma classe específica para alunos que não falam o idioma. Nesse período, o método de ensino é o mesmo da escola primária (alfabetização). Depois disso, ou paralelamente, ele começa a assistir às aulas curriculares com os alunos francófonos.
Ensino de idiomas
O ensino de idiomas começa na escola primária e pode ser o inglês ou o alemão. No colégio, o aluno continua a ter aula do idioma iniciado na escola primária e, a partir do segundo ano no colégio, aprende uma nova língua estrangeira. Cada colégio/liceu oferece diferentes opções de idiomas. Alguns, inclusive, têm a língua portuguesa na grade curricular.
Além das aulas, algumas escolas organizam viagens para o país do idioma estudado. Essas viagens, geralmente, são pagas pelos pais/responsáveis, mas há um sistema de ajuda para famílias desfavorecidas.
Exames nacionais obrigatórios
Não há exames para entrar nas escolas elementares (maternal e primária), no colégio e no liceu. No entanto, há exames no último ano do colégio e no último ano do liceu. Os exames são gratuitos.
Ao final do colégio, os alunos fazem o “Brevet”. São provas das matérias estudadas e, embora obrigatório, a reprovação não impede o aluno de ir para o liceu. Há uma prova de recuperação para os reprovados. Esse exame permite que o aluno tenha seu primeiro diploma e o prepara para os exames posteriores.
Leia também: A mudança para a França com um bebê: passaporte, a primeira etapa
Ao final do liceu, os alunos fazem o “Bac” – como o Enem no Brasil. A aprovação nesse exame é condição obrigatória para a entrada na universidade. O Bac se divide em Bac geral, Bac técnico e Bac profissional, de acordo com o objetivo do aluno (humanas, exatas ou saúde). As matérias das provas dependem do tipo de Bac. Para cursos como Medicina, o Bac é apenas a primeira etapa. Depois do primeiro ano de curso, todos os alunos fazem um tipo de “vestibular”, de caráter eliminatório.
Férias escolares
O ano letivo tem início na primeira semana de setembro e termina na primeira semana de julho, dividindo-se em três trimestres. Há várias férias escolares:
– férias do feriado de Finados (duas semanas), numa mesma data em todo o país;
– férias do feriado de Natal (duas semanas), numa mesma data em todo o país;
– férias de inverno (duas semanas em fevereiro/março), com datas diferentes pelo país, dependendo da “académie” a que pertence o estabelecimento escolar;
– férias do feriado de Páscoa (duas semanas em abril), com datas diferentes pelo país, dependendo da “académie” a que pertence o estabelecimento escolar;
– e férias de verão em julho e agosto, numa mesma data em todo o país.
Curiosidades
– Não há uniformes nas escolas francesas.
– O novo ministro da educação proibiu celulares de alunos dentro dos estabelecimentos escolares. Antes dessa lei, os celulares já eram proibidos em sala de aula, porém os alunos podiam usar seus telefones nos recreios.
– Os alunos aprendem desde cedo a não chamar o professor de “você” ou “tu”, mas de “senhor(a)” (“vous”, “madame”, “monsieur”).
– No colégio e no liceu, os alunos devem ter sempre com eles uma caderneta chamada de “carnet de correspondance”. Nela, constam os “bilhetes” entre pais e professores, e também as observações e punições feitas aos alunos.
– As notas das avaliações vão de 0 a 20.
– Não há formatura nem festa de formatura para crianças e adolescentes.
– Há estabelecimentos de ensino em antigos castelos. Isso mesmo: tem gente que estuda em um castelo!
Para saber mais informações sobre o ensino francês, deixo alguns links abaixo:
5 Comentários
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Hola Helena,
Uma vez mais te parabenizo pelo texto e aproveito para parabenizar também toda a familia BPM (da qual me sinto parte). Meu nome é Maira, sou hispano-brasileira e atualmente moro no Brasil com minha familia. No ano que vem nos mudamos a Lyon. Seria possível “trocar figurinhas” com você sobre a cidade e dúvidas de mãe para mãe? Desde já te agradeço conterrânea.
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