Quando nem tudo vai bem na escola
Quem me acompanha há algum tempo (esse é o meu 15o texto para o site!!! Debutando por aqui gente!), sabe bem que adoro falar sobre meus filhos. Sou daquelas mães que se enche de orgulho quando fala das crias. Andei uns meses sumida, mas estou de volta para contar tudinho que tem rolado aqui para vocês.
Em textos anteriores, falei bastante sobre a vida escolar deles desde que nos mudamos do Brasil para a Itália, há quase dois anos. E vocês podem perceber que, bem ou mal, é sempre numa conotação bastante positiva. Mas dessa vez quero falar um pouquinho do outro lado da história, o tal lado “B”.
O ano escolar na Itália
Aqui nas escolas públicas da minha região, o ano escolar se divide em dois quadrimestres: o primeiro, que vai de meados de setembro, quando iniciam-se as aulas, a fevereiro; e o segundo que vai de fevereiro ao início de junho, quando começam as férias de verão.
No final do quadrimestre é publicado o boletim escolar dos alunos, num aplicativo ao qual os pais têm acesso através de um login e senha dados pela escola individualmente a cada responsável. Nele encontramos as notas, faltas e algumas avaliações das crianças.
As reuniões entre pais e professores, chamadas “Recebimento de Genitores”, é feita bimestralmente de forma individual. Uma no meio do quadrimestre e outra no final, quando publicam as notas. Então, acredito que já estive em pelo menos uns três “recebimentos de genitores”.
Nele, somos recebidos por todas as professoras da classe juntas. Sentamos num banquinho na frente delas e elas “desatam” a falar!! Hahaha!! Como cheguei aqui falando pouquíssimo italiano, praticamente só ouvia. Abria a boca para dizer “Buonasera, Grazie e Ciao”. Fora isso, só balançava a cabeça. Posso dizer que esse meu comportamento diante dos professores era porque sempre ouvia um monte de elogios em relação às crianças, que surpreendentemente acompanharam suas turmas de igual para igual em relação às crianças que nasceram aqui, mesmo sem falar a língua. Já contei em outros textos que com três meses de escola eles falavam italiano perfeito e sem sotaque.
Quem não gosta de ouvir que seus filhos são crianças inteligentes, que têm facilidade para aprender, que são cultos, que fizeram amizades em sala de aula? Fora as notas, sempre com médias altas. Saía das reuniões toda feliz e em casa contava para o marido de sorriso aberto.
Acho até que isso me deixou, além de mal acostumada, um pouco relapsa demais em casa com eles. Sem contar que passamos um período de praticamente cinco meses de casa cheia. Estamos emendando uma visita na outra desde dezembro do ano passado. É gostoso demais receber visitas, eu particularmente adoro. Traz alegria para casa, mata um pouco da saudade, as crianças ficam felizes, eufóricas, sem rotina, a mãe sempre ocupada e acaba não pegando no pé deles. E aí que mora o “perigo”.
A primeira decepção
Só fui descobrir o quanto estive relapsa esses meses quando chegou o primeiro bilhete na agenda da minha filha de 10 anos, para eu ter ciência que a mesma havia se comportado de forma desrespeitosa, por duas vezes, com a professora na escola. Aquilo me doeu, me enfureceu, me entristeceu… Senti tanta coisa, mas vamos lá: encarei de frente.
Apurei os fatos, tomei minhas atitudes. Respondi à professora em solidariedade com ela. No outro dia a procurei pessoalmente e conversamos nós três: eu, ela e minha filha, com pedido de desculpas feito e aceito. Castiguei-a tirando o que ela mais desejava no momento, o passeio do escoteiro onde ela pegaria a sua especialização. E acreditem, doeu mais em mim do que nela. Meu coração partiu, mas eu tinha a certeza de que estava agindo de acordo com meus princípios.
Mais uma surpresa
Passada uma semana, houve o “recebimento de genitores” do meu filho menor, de 7 anos. Fui toda feliz como sempre e sentei no banquinho na frente das professoras. Inicio da conversa: “Você sabia que seu filho anda tendo um mau comportamento em sala de aula? Ele brinca o tempo todo, anda pela sala, atrapalha a aula, não presta atenção.” Pronto! Aí o meu mundo caiu de vez!
Eu realmente não esperava! Aquilo bateu na minha cabeça como um martelo. E conforme a conversa foi se desenvolvendo eu fui só me surpreendendo. Tive que, pela primeira vez, abrir a minha boca e dizer com meu italiano já não mais tão fraco, mas com muitas palavras que me faltavam no momento, que tudo aquilo para mim era uma grande novidade, pois todas as vezes que eu estive ali elas mesmas só me faziam elogios em relação ao menino. Porém, eu me predispus a tomar atitudes para que, juntamente com elas, conseguíssemos reverter o quadro desse comportamento.
Saí daquela reunião com a cabeça a mil. Sabia das minhas falhas, sabia que as crianças andavam soltas demais, mas não sabia que estava nessa dimensão. Foi realmente mais uma surpresa. Em casa, eu e o pai resolvemos conversar e apertar bastante o cerco.
Quando não estamos na nossa língua
No dia seguinte, fui eu para o “recebimento de genitores” da mais velha. Fui já preparada, pois, após o episódio do bilhete, já esperava o que ia ouvir pela frente. Sentei e disse: “Estou pronta”! E lá vieram as professoras repetindo a conversa da semana anterior. A minha pergunta foi: “Do episódio do bilhete para cá, melhorou?” E vocês não acreditam na minha alegria em ouvir que sim. Ufa!
Porém, ouvi muita coisa boa também. Não me esqueço do momento em que fui relatar que minha filha tinha dificuldades nas tarefas de gramática e a professora me disse que ela sabia mais gramática do que muitos italianos.
Entretanto, resolvi dessa vez me expressar mais e desandei a falar. Mas mesmo já tendo um certo domínio da língua, ainda me senti muito presa. Muitas coisas por mim ditas não foram entendidas como eu queria. E aquilo me deu um nó horrível na garganta que resultou em várias lágrimas correndo dos meus olhos na frente das professoras.
Hora de repensar
Estou cansada de saber que “na vida, nem tudo são flores”! Sei também que com o tempo nós mães vamos ficando mais fortes e calejadas, mas quando o assunto envolve os filhos, parece que o espinho craveja mesmo em nós. É ou não é?
Eu me senti tão frágil e inútil! Saí de lá com um furacão dentro de mim. Aquele turbilhão de emoções, sabe? Mas após alguns dias, com atitudes tomadas, poeira baixada, confesso que foi muito difícil ouvir críticas, algo que me desagradasse, mas pude perceber também que o que mais doeu foi que eu ainda não havia aprendido a ouvir coisas assim em relação aos meus filhos. Assim, tive a certeza que tudo isso veio para me alertar e me ensinar que eles não são perfeitos.
E é isso! Estamos aqui para aprender a cada dia. Todos estamos sujeitos a tudo. Todos temos telhados de vidro. E se não abrirmos nossos olhos e não ficarmos ali sempre bem pertinho dos nossos filhos acompanhando-os nos detalhes, nos perdemos mesmo. Para mim foi muito importante aprender a lidar com certas surpresas, críticas e decepções. De cara doeu, mas me fez abrir os olhos para muitas coisas que precisam mudar e muitas que tenho que aceitar.
Quem aqui já passou por isso? Vocês aceitam as críticas numa boa ou dão uma decepcionada assim como eu? É duro ser mãe! Sem dúvidas a missão mais difícil que recebi até hoje aqui na face da Terra.
3 Comentários
Amei o seu texto e me identifiquei demais. Eu também fico bem chateada quando escuto reclamações sobre a Sarah, no caso dela é distração e conversa paralela. Isso que você disse de se expressar e não conseguir se fazer entender como gostaria, também acontece comigo. Eu fico doida!
É bom saber que não estamos sozinhas, que os meus desafios também podem ser de outras mães.
Obrigada por compartilhar Tati.
Ass. Patty Siqueira
Com certeza Patty! Nossos desafios são sempre parecidos. Estamos sempre juntas! Grande beijo!
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