As férias de verão estão se aproximando aqui na França. O ano letivo termina em junho, e começo de julho os pequenos já estão liberados da escola. A maioria das famílias já está contando os dias para elas. A nossa entretanto, está vivenciando outra expectativa: a preparação para a entrada no maternal na França da minha filha.
Mãe de primeira viagem que sou dela, tive várias dúvidas e continuo me colocando muitas perguntas sobre essa etapa. Por isso, vou contar aqui um pouco deste momento.
A boa experiência com a creche
Eu não tinha certeza se iria querer colocar minha filha na escola aos 3 anos. Por todo seu primeiro ano de vida, cuidei dela em casa. Mas a necessidade de fazer outras atividades fora da maternidade começou a aparecer muito forte e a matriculamos numa creche próxima de casa, no esquema de halte-garderie (modo de guarda eventual), duas vezes por semana, por meio-período.
A experiência deu tão certo que logo ela não queria vir embora comigo ao meio-dia. Chorava, pois queria participar do almoço com as outras crianças. Decidimos então colocá-la em período integral (também por dois dias na semana), para que ela pudesse acompanhar os coleguinhas, no início de setembro de 2018.
Mudança no sistema educacional nacional
A pauta já estava sendo tratada desde o ano passado e se tornou oficial no início deste ano: a escola maternal passou a ser obrigatória para crianças a partir de 3 anos. Antes, a obrigatoriedade começava aos seis.
Segundo o governo, a medida tem o objetivo de dar oportunidade igual para todas as crianças. Os pais não são necessariamente obrigados a matricularem seus filhos em escolas, eles podem escolher fazer isso em casa, para isso existe um acompanhamento anual. Caso as crianças não estejam em escolarização ou não tenham o nível de instrução determinado pelo sistema, os pais podem ser multados e obrigados a os inscreverem em escolas regulares. Este artigo do Le Parisien explica melhor a questão: Instruction obligatoire dès 3 ans : qu’est-ce que cela va changer ?
Quando fazer a inscrição?
Na atual vila em que moramos, próxima de nantes, existe apenas uma escola pública e uma particular, de ensino católico. Essa última não me atraía. Isso porque uma das questões que mais prezo é a oportunidade de conviver com a diversidade. Aquela imagem de escola particular com alunos na quase totalidade brancos, com a mesma condição financeira e religião é algo que quero muito evitar.
Então partimos para a escola pública. Eu sabia que o período de inscrição era em fevereiro/ março devido aos avisos na creche antiga da minha filha. Ligamos para pedir as informações em fevereiro, mas escolhemos a data errada: férias de inverno. Sim, porque aqui além das grandes férias, há duas semanas de descanso a cada seis de estudo.
Tive que aguentar a ansiedade e esperar esses dias passarem. Quando, enfim, conseguimos falar, mais uma surpresa: uma criança atendeu o telefone e passou para a professora. Pensei “como assim uma criança atende o telefone?”. A professora logo explicou que a diretora só estaria disponível na sexta-feira para agendar uma visita, pois ela também dava aula. Algo que no Brasil não acontece, já que os cargos são bem definidos. Mais uns dias de espera e, finalmente, conseguimos marcar uma visita, para a outra sexta-feira, com nossa filha junto, como pediu a diretora.
A dúvida me tomou naquela semana. Eu, que tinha estudado tanto o método Montessori desde o nascimento da minha pequena, estava relutante com a ideia de ela ir para uma escola onde ficaria sentada, olhando para uma professora falando, falando, falando. Mas a escola Montessori aqui é uma opção particular e cara, além de bem distante da nossa casa. Sem chances de bancar esse ensino.
Conhecendo a escola
O dia da visita chegou, a diretora nos esperava e fomos super bem recebidos. A instituição é bem maior do que eu imaginava, tudo estava muito limpo e me senti bem imediatamente. Mesmo apresentando os espaços para a gente, a diretora falava com a Amélie, afinal a maior interessada seria ela. Ponto positivo para esse tratamento.
Logo de cara, entramos na biblioteca, um local que eu não esperava ver por lá, já que a biblioteca da vila é super próxima e tem visitas frequentes da creche. Mas não só a escola tem uma (claro, né?) como a achei bem grande. Ao lado, o laboratório de informática, formado por umas quatro mesas com dois computadores cada.
Banheiro dos pequenos separado e bem limpinho também. Pátio isolado dos maiores. Há ainda a cozinha onde os alunos do maternal vão uma vez por mês preparar o bolo dos aniversariantes.
Conhecemos então a sala de aula. Totalmente diferente do que imaginava, o amplo espaço continha mesas redondas com atividades expostas ao centro, um setor para livros, outro para desenhar, outro de Lego, outro de jogos de imitação (cozinha, bonecas, etc).
Para saber como funciona o maternal aqui na França, leia também: A escola maternal na França – um rito de passagem
Uma tabela na parede guarda os crachás das crianças. As maiores com o nome escrito. As menores com a foto e inicial do nome. Isso porque a sala é mista, de 3 a 5 anos completos. Outra informação que me agradou. Afinal, eles podem aprender e ajudar uns aos outros dependendo do conhecimento e não da idade.
As crianças têm a liberdade de escolher o que querem fazer. Elas pegam seus crachás e colocam na tabela da atividade referente. As professoras fazem rodízio para que todos possam passar pelos setores disponíveis, que mudam mês a mês. Ao lado da sala principal, fica um ateliê para as atividades de pintura. Na frente, os porta-casacos e mochilas com um trabalhinho pintado que indica o exato ponto de cada um.
Saldo da visita
Após visitarmos o ambiente, fomos conversar com a diretora e fazer a matrícula da minha filha. Eu fiquei mais do que aliviada ao conhecer o local, saí de lá feliz e animada. Mudamos inclusive os planos de viagem ao Brasil, ponto também abordado durante a conversa e bem recebido pela diretora.
Ter feito essa visita acalmou meu coração por um tempo. Pois agora surgem outras dúvidas: o que é preciso comprar? Vou buscá-la para almoçar em casa ou deixo ela fazer a refeição na cantina? Como serão as outras mães da classe? Vou me enturmar com elas? E por aí vai.
Enquanto setembro não chega, Aguardamos o mês de junho, quando haverá um dia de portas abertas para que as crianças que irão começar a frequentar as aulas possam experimentar um pouco e os pais tirarem dúvidas. Mas com certeza este ano o início das aulas está sendo mais aguardado que as férias.
Ps.: a escola organiza visitas com os alunos maiores à casa de repouso da vila com o intuito de trocar experiências com os mais velhos. E também instituiu, em 2018, o momento leitura: meia hora após o almoço para os alunos lerem seus livros antes de entrarem novamente em sala. Não é para querer estudar lá também?
3 Comentários
[…] O binômio mãe-bebê só tem a ganhar com os dois tendo novas experiências e investindo um tempo em si mesmo. Até a próxima! (Ah! Caso queira ler sobre a próxima etapa, a escola maternal, sugiro esse texto aqui) […]
[…] uma escola montessoriana para minha filha, não dava para bancar isso. Sofri por semanas até conhecermos a escola pública normal para onde ela foi e estamos tendo uma experiência maravilhosa. Sempre tive a disciplina positiva […]
[…] texto, escrevi sobre minhas angústias quando ao início da vida escolar da minha filha. Fui surpreendida […]