O que pode estar por trás do comportamento da criança?
Você já ouviu algumas dessas frases?
– “Meu filho está batendo na escola…”
– “A minha filha está mordendo!”
– “Meu filho grita demais!”
– “Minha filha se tranca no quarto e não me diz o que está acontecendo!”
– “O meu filho não presta atenção na aula, está muito distraído.”
– “A minha filha não dorme!”
– “Meu filho não come direito…”
Isso já aconteceu na sua família? Aposto que se você já viveu alguma situação como essas, deve ter experimentado um misto de emoções: preocupação, raiva, culpa, vergonha, medo, ansiedade, impotência, insegurança… E provavelmente uma pergunta não saiu da sua cabeça: “Por que meu filho está fazendo isso?”
A maratona em busca de respostas
A maioria dos pais, quando não compreende o comportamento do filho, entra em uma verdadeira maratona. Em geral, começam perguntando para os amigos, comparam com o filho do vizinho e deixam uma pergunta no grupo de mães: “o que fazer quando o filho…”.
Em seguida, mandam uma mensagem para a pediatra. Daí, conversam com a professora e deixam perguntas em outro grupo de mães. Depois resolvem procurar mais especialistas: outro pediatra, uma psicóloga, às vezes um pedagogo, um fonoaudiólogo ou terapeuta ocupacional.
Nessa altura, já estão desesperados! Passam a madrugada pesquisando na internet, entram em outros grupos de mães, conversam com mais amigas, buscam nas redes sociais, mas não encontram a reposta. Parece uma busca sem fim, mas onde será que está a solução?
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Ser mãe e pai não é fácil: além de todas as atividades que fazemos, queremos ter todas as respostas. Nós buscamos a certeza de que estamos fazendo tudo para que nosso filho cresça bem, para vê-lo com saúde, felicidade e se desenvolvendo.
Isso é natural, mas precisamos tomar cuidado.
Eu ouço frequentemente: “eu não estou curtindo a maternidade, só vivo preocupada!” Mas não precisa ser assim! A maternidade pode ser mais leve!
Como a maternidade pode ser mais leve?
Um dos segredos para que a maternidade seja mais leve é identificar o que está por trás do comportamento da criança. Quando sabemos a causa, temos muito mais chance de resolver o problema ou ajudar o filho ou a filha a lidar com a sua questão. E o mais bonito é que começamos a identificar os gatilhos e podemos prevenir os comportamentos mais difíceis! Assim, ao invés de brigas constantes, passamos a ter de volta mais harmonia e felicidade no lar.
Marshall Rosenberg, pai da comunicação não violenta (CNV), fala que
atrás de todo comportamento existe uma necessidade.”
Eu concordo com essa afirmação e fui me aprofundar sobre o tema. A minha busca não foi apenas por curiosidade. Em um texto anterior eu compartilhei como comecei a mudar a rotina de meus filhos, de acordo com as suas necessidades. E a minha pesquisa não parou por aí. Além da CNV, estudei obras de outros autores que investigaram as necessidades humanas e as particularidades das crianças. Cheguei então à conclusão de que existem sete grupos de necessidades humanas. Quando essas necessidades não são supridas, tendemos a demonstrar o nosso incômodo através do comportamento. E é claro que o mesmo acontece com os nossos filhos.
Quais são as sete necessidades humanas?
Abaixo você encontrará uma breve descrição sobre cada grupo de necessidades:
- Conexão segura: sensação de ser amado, considerado, visto, ouvido, ter o seu lugar na sua família e no coração das pessoas significativas. Isso acontece quando, por exemplo, o seu filho te desafia, mas no fundo, ele só quer um abraço.
- Bem-estar: relaciona-se às necessidades fisiológicas (como: sono, alimento/fome ou água/sede, por exemplo), além de ter ambiente e rotina equilibrados. Você já parou para se observar como você age quando está com fome?
- Emocionais: capacidade de lidar com as emoções de forma saudável. Sabemos que as crianças têm mais dificuldade em se controlar quando estão frustradas, com raiva ou com medo. Isso porque não têm o córtex pré-frontal bem formado (essa é a região do cérebro relacionada com a regulação da resposta às emoções). Então da próxima vez que ele fizer aquela birra, lembre-se que, por mais que pareça um motivo pequeno, ele deve estar sentindo fortes emoções.
- Acolhimento e estímulo: sensação de ser acolhido como é, sem precisar mudar para agradar aos outros. Se você tem um filho na idade escolar ou adolescente, já deve ter notado como ele pode mudar de comportamento diante dos amigos. E você pode ajudá-lo, fortalecendo a sua autoestima.
- Autodesenvolvimento: sentir-se estimulado para desenvolver as suas capacidades em diferentes áreas. Comportamentos difíceis podem acontecer, por exemplo, quando acham que a escola é chata, ou seja, não é estimulante o bastante.
- Relacionamentos saudáveis: Sentir-se capaz de estabelecer relacionamentos que trazem bem-estar para si e para os outros, conseguindo fazer trocas significativas com outras pessoas. Quantos conflitos existem por desentendimentos nos relacionamentos, não é mesmo?
- Necessidades existenciais: encontrar sentido e propósito na vida. Os pais podem ajudar os filhos a encontrarem o que gostam, além de mostrar a eles que suas ações podem ter impacto positivo.
Como investigar as necessidades não supridas?
Na minha experiência como pediatra e homeopata, essa metodologia me permitiu encontrar a causa dos comportamentos mais difíceis. Pela sua simplicidade, pode ser usada por todos os pais e mães. E você também pode fazer isso!
Da próxima vez que seu filho ou sua filha tiver um comportamento que você não compreende, comece a se perguntar: o que está faltando? Será que precisamos melhorar a conexão? Ele pode ter algum incômodo no corpo? Qual a sua emoção e como ele está lidando com o que está sentindo?
Em seguida, procure por padrões. Será que esse comportamento acontece mais em um determinado horário? Ou em um ambiente? Ou será que ocorre quando encontra com alguma pessoa ou se repete quando vive uma determinada situação?
Ao encontrar um padrão, tente identificar o que o está incomodando. Então, você pode conversar com a criança para encontrar soluções. Às vezes, basta mudar algum ponto da rotina, como o horário da alimentação, por exemplo. Ou retirar algo do ambiente que o está perturbando.
E uma dica valiosa: se você ainda tiver dúvidas qual a causa do comportamento da criança, invista em CONEXÃO! Eu te garanto que, se não for suficiente para resolver a questão, com certeza abrirá caminhos para que seu filho ou sua filha te conte ou te dê mais sinais do que o está incomodando lá no fundo.
2 Comentários
Adorei o artigo! As famílias ficam muito perdidas e suas orientações são valiosas e inspiradoras!
Que bom, Cristiane! Fico feliz que o artigo seja útil!