Mãe de dois e ciúmes entre irmãos
Vamos lá. Vida de mãe de dois. Escrevo esse texto enquanto o mais novo está na soneca e a mais velha monta um quebra-cabeça com o pai. Depois de, claro, os dois quererem colo ao mesmo tempo, coisa que vem se repetindo incessantemente nos últimos três meses. Por isso, quero falar de como é viver se dividindo nesse início de convivência entre irmãos.
Meus filhos têm exatos dois anos e dois meses de diferença de idade. Ela tem três anos, e ele um. Eu confesso que achei que essa questão dos ciúmes e a disputa por atenção chegaria mais para a frente, pelo menos da parte do mais novo.
O nascimento do irmão
Quando meu filho nasceu, óbvio que a minha pequena sentiu a mudança. Nas três noites que passei na maternidade (uma durante o parto e outras duas de recuperação), nos separamos pela primeira vez.
Deu tudo certo nesses dias. A chegada da minha mãe na França poucas horas antes do nascimento ajudou a segurar a barra, afinal tinha a novidade da avó presente. Mas me lembro de quando ela veio conhecer o irmão na maternidade e de seu olhar ao se despedir de mim para ir dormir. Ela compreendeu que precisa ir, porém seus olhos me diziam o quanto ela sentia aquilo. Quis vir me dar um beijo, algo que ela pouco fazia espontaneamente na época, e me abraçar com uma carinha de medo.
Ao sair da maternidade e chegar para pegá-la, a avistei na porta de vidro olhando para fora. De cortar o coração de mãe que acabou de dar à luz.
Os dias que se seguiram foram bem difíceis. A sorte é que como a vovó estava em casa, ela conseguia suprir a necessidade de colo da minha filha. Complicado explicar para uma bebê de dois anos que a mamãe não podia pegá-la, mas estava sempre com o outro bebê no colo.
A culpa materna
Foram apenas três dias para me sentir culpada. Eu pensava que não dava atenção suficiente ao meu filho. A impressão que tinha era que apenas amamentava e já passava ele para outra pessoa para ou poder descansar/comer/tomar banho ou ficar com a minha filha.
E como via o sofrimento dela, pensava que eu deveria ter feito diferente durante a gravidez para que ela estivesse menos apegada a mim. Hoje sei que tudo foi feito com amor e muita dedicação. Mas esse começo é difícil.
A Elisama Santos costuma dizer que é preciso aceitar que não seremos mais a mãe que éramos para o primeiro filho quando o segundo nasce. E entender que jamais seremos para o segundo a mãe que fomos para o primeiro. Isso realmente é libertador, afinal de contas, a situação da família mudou. Há uma pessoa a mais nesse arranjo todo.
A calmaria
Semanas se passaram e as coisas entraram nos eixos. A vovó foi embora. Aprendemos a viver em família de quatro pessoas. O ciúme foi aos poucos passando. Minha filha adorava o irmão, participava das trocas, do banho. Colocava suas bonecas na cadeirinha dele, no berço.
Seguíamos os conselhos dos especialistas de incluir o mais velho na rotina do mais novo. Eu também conseguia brincar com ela enquanto o bebê dormia. Ele sempre foi tranquilinho, então dava conciliar.
Nova mudança
Entretanto como sabemos, a maternidade não é linear. Eis que meu filho começou a se movimentar e pegar brinquedos e o bicho começou a pegar. Além de não querer que ele pegue os brinquedos dela, ela também não aceita que ele o faça com os próprios brinquedos.
Ele quer participar das brincadeiras dela, mas acaba estragando. O que a deixa nervosa, com razão. Porém ela encasqueta que quer brincar com o brinquedo que ele está brincando na mesma hora, o que irrita ele, também com razão.
E passamos dias e dias separando brigas. Sim, porque embora o conselho seja de deixar as crianças se resolverem, nessa idade isso é impossível, pois precisamos protegê-los de agressões.

Hora da amamentação com um colo para dois; foto: arquivo pessoal
Recentemente, ele começou a se defender da irmã. Quando ele está brincando com algo específico e ela chega, ele já reclama e bate as mãozinhas. E se ela pega o brinquedo ele vem em minha direção choramingando para me contar o que aconteceu.
Ele também olha para ela com uma cara de “aqui o lugar é meu” quando me pede colo e ela também e acabo pegando ele primeiro. Confesso que acho inacreditável ele já ter esse tipo de reação.
Leia também: Ensinando solidariedade aos meus filhos
Aliás, pedir colo ao mesmo tempo é o que me afeta mais. E é isso que minha filha tem feito ao perceber que o irmão quer meus braços. E ele também quando ela está comigo.
Muitas vezes fico irritada. Já neguei colo para os dois. Já tentei pegar os dois ao mesmo tempo. Já tentei explicar e conversar que é uma vez de cada. Por enquanto, nada tem efeito.
Brinquedos de todos
Quanto à briga por brinquedos, sempre que ela está concentrada com algo eu o tiro de perto. O inconveniente é que isso faz com que eu tenha menos disponibilidade para sentar com ela e brincar junto, pois estou ocupada em manter o irmão longe para não atrapalhar.
Colocamos em prática a dica de uma amiga que também é mãe de dois de que os brinquedos que estão na nossa casa são para todos brincarem. Não importa quem ganhou. Exceto alguns que eles se apegam mais como bonecas (afinal, filho é algo bem particular) e alguns ursinhos de pelúcia. O restante é coletivo.
Claro que isso é um processo que ainda não funciona. Mas a conversa sobre o sistema continua. Tenho fé que um dia dê certo.
A hora de dormir também é uma situação delicada, pois há dias em que estou tão exausta que me deito com o bebê, às 20h, e é o pai quem a coloca para dormir. Mas eu também sinto falta de ler a história para ela durante o ritual noturno e jogar joguinhos de tabuleiro ou montar quebra-cabeças.
Tem dias que eu me irrito, outros fico exausta emocionalmente. Outros que acho lindo os dois brincando juntos (nos dois minutos em que isso acontece) ou engraçada essa disputa por atenção e espaço tão natural nessa relação de irmãos.
Leia também: Exercitando a empatia, gentileza e compaixão com nossos filhos
E como eu mesma tenho os meus, sei que irmão briga, briga, briga, mas também é companhia e história. E ainda como sou mãe de segunda viagem, sei que as fases passam. Só que, no caso de irmãos, talvez o ciúmes esteja presente por uns bons 20 anos antes de finalmente passarem para outra etapa.
Então teremos que aprender a conviver de forma respeitosa. Ninguém é obrigado a amar ninguém, mas o respeito é um princípio que precisa fazer parte de qualquer relação. Essa específica me convence a cada dia de que sua complexidade ajuda no preparo de qualquer outra, pois por mais que eles briguem, disputem, se entristeçam, sintam raiva, também se beijam, abraçam, brincam, riem juntos e o mais surpreendente: o mais novo procura a irmã quanto ela não está; já a mais velha sempre menciona o irmão quando falamos algo bom dela, ressaltando o que ele faz de legal também.
6 Comentários
Também sou mães de duas. Isabela com 9 anos e Marina com 6, a diferença entre elas é de 2 anos e 5 meses. Fui lendo seu texto e revivendo todos os detalhes bons e “ruins” descritos por você. Lembro como se fosse hoje o olharzinho triste da Bela indo embora da maternidade, e o dia que cheguei em casa com a Nina nos braços, ela nos olhando da janela com estranheza, ficará pra sempre na minha memória. As brigas,implicâncias, brigas por brinquedos, ciúmes e afins, sinto te dizer, são infindáveis, mas o amor e a cumplicidade também. De vez enquando dos umas surta das, mas tá tudo certo.
Pois é, Aline! é uma aventura, dificil e linda ao mesmo tempo. Que bom que você se identificou. beijos
Mariana, vi-me nas tuas histórias, e olha que o meu colo tinha que ser grande para três!
Ainda hoje, elas têm 11 anos, e minhas filhas brigam para sentar ao meu lado à mesa no restaurante, no sofá quando olhamos um filme em família, para fazer comida comigo… Contam quanto tempo eu passo no quarto de uma e de outra na hora do ritual da ida para a cama à noite…
Não é fácil!
ai, Zandra, não passa né? Mas às vezes me sinto muito especial por isso também! rs
Mariana, que texto delicioso. Sou mãe de dois. A diferença é de 1 ano e 7 meses. É cansativo, mas é compensador ver os dois juntos brincando. Hoje com 9 e 10 anos. Super amigos.
Que bom saber disso! espero que aqui seja assim também!