Educando junto à escola Charter na Califórnia
Muito bem! Hoje vou falar com vocês sobre uma escola do tipo charter aqui de Marin County, região norte da baía de San Francisco, na Califórnia, onde a Isadora está matriculada.
Em seu texto de agosto de 2018, Andrea Damas nos contou sobre a sua experiência com uma escola charter lá na Flórida. Porém, já aviso que nossa vivência aqui em Marin com uma escola charter enquanto rede de apoio para o Unschooling (desescolarização) da Isa – sobre o qual tenho falado tanto em meus textos (leia mais aqui) – acabou levando-me a escrever esse post. Tem sido para nós uma prática muito diferente da que a Andrea está tendo.
O que é uma charter school?
Em termos gerais, uma charter school seria um tipo de escola gratuita, como as escolas públicas americanas são, mas que foram concebidas para funcionarem como unidades independentes dos conselhos escolares governamentais, que seriam as secretarias de educação estaduais aqui dos EUA.
Essas escolas normalmente recebem fundos do Estado e dos investidores locais, com base no número de estudantes que agregam, além de fundos do Governo Federal para custearem serviços especiais de educação, como acontece com as escolas públicas. No entanto, outras verbas especiais do governo federal também são alocadas para a expansão da oferta das charter schools nos EUA.
São conferidas a essas escolas grande liberdade e flexibilidade operacional em todos os quesitos: horários, programas, currículos (ou a falta dele). Mas, em contrapartida, a fiscalização a que estão submetidas é muito maior do que acontece com as escolas públicas comuns.
Basicamente, as escolas charter – termo que, em português (neste caso), poderia ser traduzido como “autorizada por carta/alvará” – são abertas a todos os alunos e têm o intuito de oferecer outra opção de qualidade em educação, haja vista os inúmeros problemas já constatados no sistema público de escolarização americano.
Uma curiosidade: quando a legislação referente à autorização do funcionamento das escolas charter foi aprovada, em 1992, a Califórnia foi o segundo estado americano (depois de Minnesota) a implementar a criação desse tipo de escola. O grande intuito foi o de apoiar os crescentes grupos de pais, educadores e membros das comunidades na concretização de um tipo alternativo de escola/educação para os californianos.
Sem brincadeira, a Califórnia é mesmo diferente, irmão (lembram da música Garota Eu Vou Pra Califórnia?)! Aqui, a temática de base é a de que todos os direitos devem ser respeitados. Direito de educar sem escola, direito de ter o gênero que quiser, direito de os animais terem uma vida digna, direito da não submissão aos decretos padronizantes estabelecidos pelo governo federal (a obrigatoriedade da vacinação, por exemplo). De fato, todas as diferenças que concernem a modos de vida e de pensamentos tendem a ser largamente respeitadas na Califórnia. A California é sim, diferente, irmãs. Tenho muito orgulho em já ser um pouquinho californiana.
Escola Charter e não-escolarização?
Sim, essa associação pode funcionar super bem, no caso desse tipo de charter que escolhemos.
Procuramos seguir com a Isa o preceito fundamental do Unschooling (não-escolarização), que nada mais é do que que a aprendizagem autodirigida, em que ela é quem toma as rédeas para aprender os seus profundos interesses na vida. Esse modo de aprendizagem não tem lugar definido, nem horário, nem depende de professores ou materiais específicos para acontecer, mas desenrola-se o tempo todo em todos os lugares. Com efeito, ninguém pára de aprender um instante sequer.
Não vou dizer a vocês que é super facinho, à primeira vista, seguir essa liberdade. A ideia toda é bastante simples, mas para a nossa cabeça de pessoas treinadas em universidades, meu marido e eu, tudo parece desprendido demais e nós, brasileiros, não estamos acostumados com tamanha autoconfiança e autonomia. Pois foi assim que entrou a charter school nessa jogada.
Modo Pathways
A escola charter que escolhemos, a Pathways, não determina currículo, mas sugere temas de possíveis interesses que as crianças possam gostar de explorar. Também não estabelece a obrigatoriedade de aulas presenciais, o que para nós foi espetacular, já que depois do bullying a Isa ficou muito receosa em conviver diariamente com outras crianças, todas metidas em um mesmo espaço durante horas.
Então, sua aprendizagem se dá através dos temas que ela escolhe, dentre os oferecidos pela Pathways, e outros que define em conjunto conosco. Os assuntos serão explorados das mais variadas formas pelos EUA afora.
Por exemplo, ela ama animais de todos os tipos e o tema Ciências engloba animais. A Pathways fornece os livros pelos quais ela possa se interessar e todos os atlas para estudo em campo (estudo de pássaros, répteis, insetos, etc) nos parques pelo país afora. Até mesmo aulas com especialistas em um tópico de seu interesse é viabilizado pela escola, sem custos.
Como fazemos? Isa, meu marido e eu pegamos o carro toda sexta-feira para nos encontrarmos com um grupo de pais, mães e crianças unschoolers (pais que não adotam a escolarização de suas crianças )em parques nas mais diversas regiões para observarmos, conversarmos e aprendermos sobre os animais que forem o assunto da vez.
A única forma de aprendizagem que está sendo sistematizada em casa aos moldes tradicionais é a tabuada. O raciocínio matemático pode ser explorado e estimulado através de inúmeros jogos, mas a tabuada requer treino constante, como fazemos para aprender uma letra de música, ou seja: repetição atrás de repetição.
Também usamos muitos os flashcards (cartões didáticos) de tabuada para ficar mais divertido e prevenir o caminhão de reclamação que sempre se achega nesse tópico.
Qual a diferença?
Vemos uma grande transformação efetuar-se nessa Isa desescolarizada. Principalmente em relação à sua autoconfiança e capacidade de estender os raciocínios lógicos a inúmeras situações diárias. Sua capacidade de argumentação melhorou muito, quesito não explorado em sua escolarização. Ou seja, nos três anos de escola pública cursados aqui nos EUA.
Isadora é uma criança de 10 anos capaz de citar exemplos de estudos de artigos que leu, de vídeos que assistiu sobre os mais variados assuntos, demonstrando um nível de raciocínio, de reflexão e de compreensão gentil e compassiva sobre o mundo, que muitas crianças ou até mesmo adultos escolarizados não demonstram, segundo algumas pesquisas.
É fato que muitos adolescentes que foram homeschooled ou seja, educados em casa ou simplesmente fora da escola( lembrando que o unschooling pode ser visto como uma vertente do homeschooling) conseguiram atingir pontuações mais altas e foram considerados mais criativos em relação aos adolescentes escolarizados quando se candidataram para universidades renomadas como UC Berkeley, Stanford, MIT, Princeton, Caltech, entre outras. Se houver interesse, deixo aqui mais informações a esse respeito.
Enfim, desejo muito que vocês tenham se sentido inspiradas ao lerem esse texto, embora respeite profundamente o projeto de cada família em optar por caminhos diferentes em termos de educação. Essa é a nossa história e está sendo o nosso o percurso, extremamente benfazejo para a nossa família no momento. O que mais desejo mesmo, do fundo da alma, é que sejamos todas muito felizes! E nossos filhos também.
Disponho mais links abaixo sobre homeschooling e pesquisas, em inglês, para maior aprofundamento.
https://homeschoolsuccess.com/colleges-recruiting-homeschoolers/
https://www.selfdirectedlearning.com/
Mil beijos e até a próxima!
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