Em busca da escola certa em Londres.
Cresci ouvindo meus pais falando sobre a importância de uma boa educação. Minha mãe é educadora e meu pai sempre trabalhou muito para me proporcionar acesso aos melhores colégios na Bahia e a atividades extra-curriculares que incentivavam meu crescimento intelectual.
Agora que sou mãe de duas crianças em Londres, me vejo falando aquelas mesmas coisas que ouvi na minha infância. Não tenho dúvidas com relação à importância de uma educação de ponta. Por isso, já que moramos em Londres e temos a possibilidade de oferecer oportunidades diferenciadas às crianças, a nossa decisão na escolha da escola certa para eles foi muito bem pensada.
Meu marido é Inglês, nascido e criado fora de Londres. Sempre frequentou colégios públicos (em sua maioria católicos) “state schools,” como chamamos por aqui. O sistema educacional aqui na Inglaterra é bem diferente do Brasil. Existem escolas públicas, privadas, grammar schools (públicas, porém seletivas através de exame de admissão) e, dentro da categoria de escolas públicas, as de cunho religioso.
A grande maioria das famílias opta por escolas públicas, pois são gratuitas, têm o currículo alinhado aos exames do sistema britânico e não fazem qualquer tipo de distinção no processo de admissão – tem vaga, a criança entra. O X da questão com relação às escolas públicas é a qualidade da escola… como em qualquer outro país!
O sistema escolar em Londres
Aqui na Inglaterra tem um negócio chamado “catchment area,” que significa a área de admissão de uma escola. As famílias geralmente tem duas ou três escolas dentro dessa área (pode variar de acordo com o bairro). Ao iniciar a idade escolar, a criança é inscrita nessas escolas e os pais colocam a sua preferência no formulário.
Cada escola tem sua performance avaliada todo ano e o resultado (ofstead rating) é divulgado, juntamente com um relatório avaliando os diferentes aspectos da escola. Ao fazer a inscrição do seu(s) filho(a), o pai busca sempre colocar como prioridade a escola que tem avaliação excelente (outstanding) ou boa (good), de acordo com o ofstead.
A nossa experiência
Moramos próximo ao novo centro financeiro de Londres (Canary Wharf), uma área que tem poucas opções de escolas públicas, e apenas uma é considerada excelente (outstanding) de acordo com o ofstead. E essa, como é de se esperar, é super concorrida e fora da nossa área de acesso (catchment area). Logo que nosso 1º filho nasceu, começamos a avaliar essa questão de escolas. Rapidamente concluímos que teríamos duas opções: 1. nos mudarmos para um bairro legal onde teríamos chance de acessar uma escola excelente ou 2. buscar alternativas de escolas privadas.
Como trabalhamos muito perto de onde moramos, nos damos o luxo de caminhar para o trabalho todos os dias; o que também significa que temos mais tempo com as crianças, tanto pela manhã como à noite. Mudar de bairro inegavelmente significaria ter que utilizar transporte público para ir e voltar do trabalho. Na minha cabeça de mãe, por melhor que fosse a casa e o bairro, a mudança representaria mais tempo longe das crianças. Ou seja, nada feito!
Escola privada então seria a solução para nós. Tomada a decisão, iniciamos as buscas. No nosso caso, existiam apenas três opções: uma escola montessoriana (adoro o método), uma escola no bairro de Blackheath, um pouco longe de casa, mas de fácil acesso (entrada através de avaliação acadêmica – detalhe que o meu só tem 3 anos!) ou uma escola um pouco mais longe, a 30 minutos de carro toda manhã.
Dizem que enquanto a gente planeja, Deus sorri. Pois bem, foi exatamente isso que aconteceu conosco. Fizemos mil planos ambiciosos, gastamos uma fortuna em taxas de inscrição para as escolas que considerávamos excelentes e passei seis meses estudando com meu filho tudo o que imaginei que fosse cair na avaliação de entrada das escolas seletivas.
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No dia da 1ª prova, da escola em Blackheath, meu filho acordou super bem, bastante animado com a aventura e muito bem disposto. Chegamos cedo à escola e na sala de espera tinham outras crianças – um chinês que parecia um pequeno Einstein, a irmã de um aluno e um outro menino que parecia muito tímido. As crianças são avaliadas individualmente e o resultado sai em 1 semana. A coordenadora já tinha nos avisado que a concorrência esse ano estava alta, 8:1, sendo que irmãos de alunos têm preferência.
Meu filho entrou todo sorridente na sala mas saiu meio apreensivo e com o dedo no nariz. Assim que vi aquilo pensei: pronto, já vão dizer que meu filho é melequeiro e nem vão querer ele na escola! Brincadeiras à parte, confesso que fiquei super nervosa. Ao sairmos da escola, ele virou pra mim e perguntou: “mamãe, quando podemos voltar para brincar nessa escola legal?” Respondi que teríamos que esperar uma cartinha no correio nos convidando.
Todos os dias naquela semana, ele, ao chegar em casa, olhava a caixinha do correio. Até que um dia veio a resposta… negativa. A casa caiu pra mim. Senti um pouco de raiva, frustração e mais do que tudo, medo. Medo de ficar sem opções! Planejei tanto essa etapa da nossa vida e de repente nos encontrávamos num impasse desses.
Semanas depois a coisa piorou ainda mais. Recebi uma carta da escola montessoriana falando que não teríamos vaga para aquele ano letivo, só lista de espera. Poxa vida….. como é que isso podia estar acontecendo?
Foi então que um amigo sugeriu ligar para uma escola que nem estava na minha lista. Aparentemente, muito concorrida e excelente, mas como eles tinham passado por uma ampliação, existia uma pequena chance de encontrarmos uma vaga.
A tão esperada vaga
Sabe quando as coisas acontecem na hora certo e do jeito certo? Pois bem… liguei na escola e a pessoa da área de matrículas falou: “Hoje deve ser seu dia de sorte. Tivemos uma desistência e apesar de termos uma lista grande de espera, se você quiser a vaga, ela é sua.”. Hã?? Minha? Sim, claro! Quero a vaga sim! Na hora que respondi me deu um frio na espinha. Nunca visitei a escola, fiz zero pesquisas sobre ela e acabei de aceitar uma vaga!
Pronto, estava tomada, ao meu ver, uma das mais importantes decisões da vida de uma mãe – a escolha da escola do filho. Passados 7 meses, posso afirmar com tranquilidade e convicção de que foi a melhor coisa que já nos aconteceu. Essa escola nos acolheu como um membro de sua família. Como é pequena, cada aluno e cada família tem grande valor. Academicamente é extremamente forte. Mas, ao mesmo tempo, prioriza o carinho e a atenção às necessidades individuais a performance acadêmica do aluno.
Quando nosso filho foi diagnosticado como autista, a escola trabalhou conosco para construir um plano de educação que atendesse às necessidades dele. Nos colocou em contato com um grupo de apoio a pais de crianças no espectro autista. Me inscreveu num curso junto à sociedade nacional de autismo…Enfim, foi além do seu papel de escola para estender um ombro amigo.
Aprendizado
E o que aprendi nessa nossa jornada? Primeiramente, aprendi muito sobre o sistema educacional do Reino Unido e pude vivenciar as diferenças entre esse e o sistema brasileiro. Também aprendi um pouco sobre como funcionam essas avaliações para entrada escolar. Aprendi a passar esse conteúdo de uma forma lúdica para o meu filho. E, mais do que tudo, aprendi que a gente às vezes faz mil planos e bola mil estratégias, mas algumas coisas estão fora do nosso controle. Ah, também aprendi a ter paciência e a acreditar que as coisas eventualmente dão certo!!
7 Comentários
Olá Joana! Sou Ivan Evangelista Carneiro graduando do curso de Sistemas Biomédicos da Faculdade de Tecnologia de Sorocaba (SP, Brasil), estou envolvido em um projeto de uma sala de timeout ou sala de retiro (sala que proporciona ao autista o mínimo possível de estímulo sensorial na hora em que ele está com seu comportamento alterado), com o pessoal da Associação Amigos dos Autistas de Sorocaba (AMAS).
Buscando informações sobre o tema me deparei com a publicação do seu artigo,achei muito interessante e motivador (por sua experiência ) já que o autismo pode estar cada vez mais presente na mídia, porém ainda falta muito, aqui no Brasil, para se desbravar e fazer acontecer, isto a começar pelos nossos governantes…
Buscamos desenvolver projetos com uma demanda específica na área da saúde, adequando esses projetos com as limitações da Instituição, aqui no caso a Instituição AMAS. Resumindo, o projeto da sala está sendo especifico para o AMA aqui de Sorocaba, onde levamos em consideração os limites estruturais, financeiros, ambientais etc.
Gostaria de saber se você tem conhecimento se existe salas desse tipo aí na Inglaterra?
Se sim, quais normas e/ou órgãos que regem a construção de uma sala desse tipo? Algo também relacionado a segurança do autista, por exemplo, qual material é usado para revestir esse tipo de sala?
Caso queira e possa estar me passando algo no whatsapp meu número é: +55 015997155678.
Desde já muito obrigado!
Que DEUS continue abençoando você e toda sua família!
Atenciosamente, Ivan.
ola Ivan e obrigada pela mensagem. ja ouvi falar dessas salas sim, aqui eles chamam de quiet rooms. na escola do meu filho nao temos, no entanto, a escola permite que ele, assim como as outras criancas no espectro, almocem antes dos demais para nao her barulho e confusao, assim como pernitem que as crianças no tea vao a biblioteca para buscar silencio e tranquilidade quando estao em crise ou precisando relaxar.
[…] Leia também: Em busca da escola certa em Londres […]
Oi joana dou Renata do Rio de Janeiro meu marido trabalha em uma multinacional e moramos quatro anos no Mexico e chegamos a um mes aqui em Londres por um prazo indefinido … tenho 3 meninas e um menino de idades entre 8 e 15 anos estou no processo de procurar escolas para os 4 mas como
Meu filho de 9 anos esta no espectro autista estou tendo muitas duvidas em relacao a qual escola seria a melhor opçao pra ele… me da uma ajuda ?!!! Nao sei por onde começar 🙏🏻🙏🏻🙏🏻🙏🏻
Obrigada
Prezada Renata,
Infelizmente a Joana precisou parar de colaborar com o BPM Kids.
Espero que consiga a ajuda que precisa.
Um abraço,
Maila
Olá! Que legal o seu post. Você sabe me dizer se existem escolas públicas mais alternativas (montessorianas, construtivistas, waldorf) em Londres e em quais regiões? Meu filho entraria com 4 anos.
Obrigada!!!
Olá Paula,
Infelizmente esta colunista não colabora mais com o BPM Kids. Temos outras colunistas na Inglaterra que podem te ajudar. Você pode encontra-las buscando pelos textos na categoria Inglaterra. Apenas preste atenção nas autoras, pois a Joana não terá como responder.
Obrigada