Você algum dia passou por momentos em que estava tão cansada, com mil coisas na cabeça para fazer e seus filhos gritando, brigando ao seu lado, fizeram você simplesmente perder a paciência a ponto de gritar com eles? Em seguida veio a culpa te aterrorizar, não foi?
Imagino que sim, pois no mundo contemporâneo em que vivemos, cheio de atribulações (quando devemos ser não apenas pais capazes e presentes, como bons profissionais), a relação familiar acaba sendo prejudicada devido ao cansaço, ao stress e o desgaste emocional.
E, para famílias imigrantes, tudo isto é duplicado, já que o stress é maior por estarmos o tempo todo conhecendo e se adaptando a uma nova cultura. Há o desgaste emocional por ter que lidarmos com pessoas diferentes, numa língua diferente e em um lugar diferente. Sem contar no cansaço por não ter ajuda da família, amigos e ajudante em casa.
Como posso melhorar a relação com os filhos em meio a este stress?
Como fazer meus filhos entenderem que chego em casa cansado(a) e não tenho paciência para escutar brigas e gritos? Como fazer para eles obedecerem as regras da casa sem discussão?
O primeiro ponto a se observar é como falamos com nossos filhos. Que tipo de linguagem uso? Se eles me perguntam ou fazem algo, como eu reajo? Normalmente as respostas são qualificativas e julgadoras.
Vamos ver um exemplo, para clarear: Quando uma criança derrama um copo de suco no chão, a resposta qualificativa seria “Ah, que menino estabanado! Derramou tudo no chão! Olha que sujeira você fez, você não aprende nunca.”
Esse tipo de linguagem culpa e menospreza a criança por sua falta de controle motor. E, quando uma pessoa é acusada, sua primeira resposta é se defender. Neste caso, a criança poderia mentir dizendo que não havia sido ela quem derramou o suco, gerando assim uma nova grande discussão.
Além de discussões, a linguagem que rotula gera limitações no outro. Se sou conhecido por ser estabanado eu irei fazer de tudo para manter este rótulo. Isto acontece porque todo ser humano deseja ser reconhecido e pertencer a algum grupo. Se meus pais me colocaram no grupo dos estabanados, eu vou ficar neste grupo para me sentir reconhecido e pertencente. Se quiser saber mais sobre o assunto, clique aqui.
Educar sem rótulos através da linguagem descritiva
O que aconteceria no caso acima se usarmos uma linguagem apenas descritiva, sem qualificações? Poderíamos dizer “Vejo que você derramou o suco”, e em seguida lhe dar um pano para enxugar. Deste modo você evita culpar a criança e a incentiva a buscar soluções.
Assim, uma linguagem descritiva evita a culpabilidade, o menosprezo e evita discussões. A descrição liberta a criança para buscar as soluções dos seus problemas.
Nos momentos agradáveis a descrição também é bem vinda. Se uma criança lhe mostra um desenho que acabou de fazer, ao invés de dizer “Que lindo, você é um pintor maravilhoso”, isto pode fazer com que a criança perca o interesse, pois se já é maravilhoso não há mais nada o que fazer.
Usando a descrição, você pode dizer: “Nossa, vejo uma borboleta e uma casa colorida, que me fazem sentir felicidade”. Assim, a criança se sentirá incentivada a continuar pintando, por perceber que estes desenhos fazem você sentir algo.
Uma linguagem descritiva permite que a criança fique solta para evoluir e persistir no que lhe traz prazer. A descrição não julga, ela deixa aberta uma janela para a criança desenvolver suas capacidades.
Chega de rótulos
Você já parou para refletir sobre como seus pais te tratavam quando criança? Eles te rotulavam? Quais eram os rótulos que você recebeu? Você ainda se identifica com estes rótulos?
Refletir sobre nossa infância é importantíssimo no trajeto da parentalidade. É apenas através da consciência sobre o tipo de pais que tive e sobre minhas experiências que poderei buscar uma transformação para o tipo de pais que desejo ser com meus filhos.
Outra reflexão importante é sobre seu dia a dia, tente perceber se você usa rótulos, julgamentos ou qualificações com seus filhos. Por exemplo: Você é teimoso, você é hiperativo, você é perfeito, etc…
Após esta reflexão, apenas tente oferecer mais descrição do que julgamentos. Não se preocupe em conseguir fazer isto sempre, o mais importante é não rotular o tempo todo. Se você conseguir descrever na maior parte do tempo e apenas julgar nos momentos em que você perde o controle por estar cansada ou estressada, isto já é sucesso total.
Não precisamos nem devemos ser pais perfeitos, devemos errar e falhar para nossos filhos entenderem que isto é ser humano. E nos momentos em que a culpa fizer uma sombra sobre você, apenas lembre-se de que você está fazendo o seu melhor.