Educação inspirada na comunicação não violenta
Já fui estagiária de direito, vendedora de roupas, advogada, coordenadora, educadora infantil, garçonete, caixa, mas nenhum deles chegou perto de educar. Educar os filhos é o trabalho mais difícil que já executei na vida, sem menor dúvida.
São tantas coisas a se considerar, tanta bagagem do que adoramos na nossa educação e o que não gostamos. Mais, óbvio, aquela vontade e amor de dar nosso melhor para nossos filhos.
Para mim essa coisa de mandar em criança nunca fez muito sentido. Já escrevi textos sobre Reggio Emilia, Montessori em casa, que são filosofias, inspirações que veem a criança como um ser humano capaz e não uma página em branco, como cresci ouvindo.
E acredito que outro fator fundamental sou eu, como mãe, não achar que meus filhos são minha propriedade para eu poder fazer o que bem entender com eles. Sempre os vi como pessoas que merecem respeito, amor e o meu melhor (mesmo que tantas vezes eu não tenha o meu melhor para oferecer a eles).
Quando nos tornamos pais, não somos só nós ali educando e cuidando dos nossos filhos. São nossos pais, nossos avós, tios, amigos e toda bagagem que carregamos conosco. Tudo que já vivemos, o que ouvimos, lemos, como fomos criados. Carregamos tudo conosco quando chega nossa vez de fazer do nosso jeito.
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O termo Comunicação Não Violenta, ou CNV, surgiu no inicio dos anos 60 durante o auge do movimento a favor dos diretos civis e contra a segregação racial nos Estados Unidos. Criado pelo psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg que atuava como orientador educacional em instituições de ensino que eliminavam a segregação.
O papel de Rosenberg, durante essa conturbada transição, era ensinar mediações e técnicas de comunicação. Nesse contexto, ele elaborou o método da Comunicação Não Violenta (CNV).
Rosenberg define a Comunicação Não Violenta como “uma abordagem da comunicação, que compreende as habilidades de falar e ouvir, que leva os indivíduos a se entregarem de coração, possibilitando a conexão com si mesmos e com os outros, permitindo assim que a compaixão se desenvolva”.
A ideia é que, com a CNV, as respostas que damos às pessoas, principalmente em momento de estresse, deixem de ser automáticas e repetitivas e passem a ser mais conscientes.
Quando li a primeira vez sobre o assunto me pareceu meio óbvio, fazia muito sentido para mim. Aí veio a vida, a rotina, a loucura e a aplicação fica mais difícil. Até porque trazemos na mala a bagagem conosco nessa insanidade que é a maternidade.
E por tudo que aprendi até hoje, vejo que a forma que agimos com nossos filhos tem muito mais a ver conosco do que com eles. Crianças são seres reativos, eles fazem o que vêem, não o que ouvem. Portanto, se queremos que eles nos ouçam, devemos ouvi-los. Se esperamos que eles sejam educados, devemos ser educados também. Se queremos que eles parem de gritar, devemos nós pararmos de gritar.
Aqui em casa, é um esforço diário. Quando estou muito nervosa, frustrada, cansada, minha paciência está curta e é mais difícil. Eu preciso cuidar de mim, usar um óleo essencial, tomar um chá quente, algo que me conforta e me ajuda a ficar mais calma.
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Uma coisa que sempre tenho em mente é a empatia. Faço esse exercício mental para ver se eu acharia normal alguém falar comigo daquela forma. Um exemplo do dia a dia. Meu filho quer brincar na água em um dia muito frio. Eu falo não e explico a razão e dou opções para ele brincar com outra coisa ao invés de dizer: “não, pronto e não porque sou sua mãe”.
As explicações que damos para nossos filhos são todas verdadeiras de uma forma mais curta e simples para eles. Outro exemplo: eu peço para minha filha fazer algo, ela diz não, chora, se joga no chão e grita. Eu respiro fundo, observo ela e vou conversar para falar sobre o que ela está sentindo e como podemos resolver juntas a questão.
Por sinal, falamos muito sobre sentimento aqui em casa. Reconhecemos, damos nome ao que estamos sentindo e falamos sobre como lidar com eles. E quando eu erro, perco a paciência, grito ou sou desrespeitosa com eles, eu peço desculpas.
Ouvir é respeitar
Dá trabalho? Muito. A curto prazo, pelo menos. Com o tempo, as coisas são mais fáceis. Meus filhos se sentem ouvidos, compreendidos e mais calmos. Imagine você convivendo em um ambiente que você é ouvido, sua opinião importa, ninguém grita? (muito, pois afinal somos humanos).
A Aline criança não tinha voz nenhuma. Eu vivia nas regras da casa dos meus pais e o que eles diziam era lei. Eles sabiam o que era melhor para mim e é isso. Eu cresci rebelde e só me acalmei na vida adulta quando passei a tomar minhas decisões.
Meus comportamentos eram vistos como má criação (por sinal, um termo doido de pais usarem, meio que um tiro no pé porque se a criança é mal criada eu me critico como pessoa que a cria, mas tudo bem), rebelde, sem limites, etc. Porém cada comportamento tem uma razão, um por quê. Os piores comportamentos aqui em casa tem nome: fome, sono o tédio. Por isso, ouvir e observar é um dos pilares da CNV.
Quando observamos e tentamos entender o comportamento, damos voz a criança que muitas vezes não consegue verbalizar o que sente.
Não pense que minha casa é uma anarquia, mas dialogamos muito sim. E erramos muitas vezes. E assim, acredito também que toda a informação que adquirimos, usamos o que nos faz sentido. Talvez nem tudo faça para você, mas use o que fizer.
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Dar voz às crianças, é incrível. É lindo ver como elas se sentem seguras e livres para ser quem elas são. E aí, a CNV faz sentido para você?