Educação é um dos maiores desafios quando se tem filhos. Pais são por si duas pessoas diferentes que cresceram educados por adultos diferentes que cresceram educados por pessoas diferentes… Deu para entender o drama?
Quando começamos a falar sobre filhos, já discutimos alguns estilos de educação. Eu sou a caçula temporã, e quando nasci, meus pais estavam em uma situação econômica estável, minha irmã tinha 9 anos, meu irmão 8. Minha mãe teve uma infância muito pobre no interior do Rio Grande do Sul, então coisas como alimentação na minha casa era uma várzea.
Minha família era uma família patriarcal, como tantas outras da geração dos meus pais. A criança não tinha voz, e ouvíamos direto “minha casa minhas regras” e éramos tratados como uma folha em branco que precisa ser preenchida.
Já meu marido teve uma educação muito diferente com mais regras e limites que eu. Ele não podia comer tudo que queria, como eu, tinha horários para dormir, por exemplo.
E aí nós vemos os dois, com referências tão diferentes prestes a educar uma pessoa para ser cidadã. E quero ressaltar aqui, que minha ideia com esse post é dividir meu conhecimento e experiência com o método Montessori.
Minha história com Montessori começou lá em 2013 quando comecei a estudar Educação Infantil. Meu primeiro trabalho foi em uma escola que é inspirada em Reggio Emilia. Escrevi um post sobre esse tema aqui. Nesse mesmo trabalho, uma educadora era Montessori e com ela aprendi os princípios desse método que faz tanto sentido.
Para falar da história de Maria Montessori, referencio o site “Lar Montessori” de onde busco muita inspiração.
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“Maria Montessori (1870-1952) foi uma psiquiatra italiana e uma das primeiras mulheres a se formarem em Medicina na Itália. No final do séc. XIX, as condições de vida e tratamento de crianças com deficiências internadas em instituições psiquiátricas era terrível, e Montessori, em parceria com um colega e um professor da Universidade de Roma, trabalharam para transformar essas condições, e oferecer às crianças chances de um desenvolvimento mais completo e uma vida melhor.
Para isso, criaram a Escola Ortofrênica, cuja base eram textos de antropologia pedagógica e os métodos didáticos desenvolvidos por Édouard Séguin. Os resultados do trabalho do trio foram surpreendentes, e algumas das crianças conseguiram aprender mais na Escola Ortofrênica do que as crianças sem deficiências aprendiam nas escolas regulares da época.
Estimulada por isso, Montessori voltou a estudar em cursos livres da Universidade que tratavam de Filosofia da Educação, Psicologia Experimental e Antropologia Pedagógica, até que em 1907 teve a chance de usar os mesmos princípios para montar uma escola em São Lourenço, um bairro da periferia de Roma e experimentar livremente novos métodos pedagógicos.
A Casa das Crianças, como foi chamada essa instituição, deu a Montessori a chance de observar o comportamento de crianças com desenvolvimento típico, em liberdade, num ambiente que era reestruturado a cada nova demonstração das necessidades de desenvolvimento das crianças.
Lá, os filhos de famílias que trabalhavam até dezoito horas por dia e eram quase todas analfabetas, alfabetizaram-se muito melhor e mais rápido do que se esperava – na época – para a idade e classe social. Além disso, tornaram-se crianças tranquilas, admiravelmente educadas, gentis e generosas, concentradas, independentes e disciplinadas.
Assim, nasceu a Pedagogia Científica, uma abordagem educacional que se transforma a partir das observações que o professor faz, enquanto as crianças vivem no ambiente com liberdade para fazer tudo o que as conduza a um bom desenvolvimento.”
Não é apaixonante? Uma escola para vida, onde a criança é vista como um ser humano competente e capaz. Não é à toa que ela é atual até hoje.
Em casa, como aplicamos o método Montessori:
Independência da criança
Prezamos pela independência das crianças. E para isso, adaptamos a casa para segurança das crianças. Não tem nada de perigoso na altura das crianças. Nunca usamos travas para gavetas, nem portinhas, nem playpens.

Educação em casa inspirada no Método Montessori – Minha filha com 2 anos ajudando meu marido a cozinhar
Tentamos eliminar tudo que é perigoso, como produtos de limpeza, usando produtos naturais para limpar a casa. Colocamos todas as coisas perigosas no alto que não conseguimos eliminar, como remédios e facas, bloquear as tomadas, prender móveis na parede.
A torre de aprendizado é bem popular por incentivar a independência da criança e incentivar a participação nas atividades da casa como lavar a louça, fazer café da manhã e cozinhar.
Quarto das crianças
No quarto deles só tem a cama, as roupas e os livros. Nenhum brinquedo e tudo na altura deles.
A cama dos dois sempre foi no chão. Com minha filha tentamos berço e ela odiava. Assim que coloquei o colchão no chão ela passou a adorar. A cama no chão dá autonomia para criança e cria uma consciência quanto ao dormir.
As roupas estão ao alcance deles para estimular a se vestirem e escolherem as próprias roupas.
Brinquedos
Fazemos rotatividade dos brinquedos. Esse é um princípio que amo, Maria Montessori sempre dizia que menos é mais. Era mais fácil ter menos brinquedo quando era só um filho, com dois é mais difícil porque as idades e interesses são bem diferentes.

Cantinho de artes arrumado e convidativo para criança
Mas em geral temos sempre uma cozinha e seus utensílios. Blocos (dois tipos, lego e algum outro). Artes e brinquedos de criatividade, jogos (minha filha está super interessada no momento), um jogo de trem também sempre está ali e aí variam conforme o interesse: barbies, carrinhos, bebês.
Quando percebo que eles não estão mais brincando com um brinquedo específico, trocamos. Hoje faço esse processo com minha filha. Ela escolhe o que guardamos e o que fica. É bem legal, quando terminamos, parece que eles têm novos brinquedos.
A escolha por brinquedos educativos é algo bem forte em casa. No aniversário dos meus filhos pedimos dinheiro ou experiência para não correr o risco deles ganharem um monte de brinquedo e muitos não condiz com nossos valores e preferências.
Maria Montessori reforçou a ideia de menos brinquedos, mas objetos cotidianos. E as crianças amam. Um exemplo é o armário das panelas e contêineres que eles amam brincar.
Atividades na casa
Cada criança tem suas responsabilidades e funções na casa: tirar a mesa, colocar roupa na máquina de lavar, dobrar a roupa, guardar, passar pano. Tentamos sempre que possível incluir as crianças nas atividades da casa.
Era algo que Maria Montessori dizia muito que as crianças aprendem muito com a rotina e atividades divididas entre os membros da família. Criar responsabilidade e zelo por tudo que é nosso.
Eles adoram ajudar e criamos o hábito de que a responsabilidade da casa é de todos nós. Até brincamos que eles estão pagando o aluguel fazendo as atividades.
O ambiente
O ambiente é fundamental para as emoções e humor das crianças. Vemos isso aqui todo dia. No método Montessori, os ambientes de aprendizado estão sempre arrumados e organizados.
Aqui em casa, quando eles estão entediados e sem brincar com nada, paramos tudo e organizamos os brinquedos. É lindo ver o resultado, eles na hora respiram fundo e voltam a brincar.
Fantasias x Realidade
Falamos sempre a verdade para nossos filhos, de uma forma didática e apropriada para idade. Portanto, aqui em casa personagem é personagem. Elsa é um personagem de desenho animado e a princesa na vida real é Charlotte, por exemplo.
Escrevi sobre papai noel nesse post aqui que expressa um pouco como lidamos com fantasias em casa.
Respeito à criança e sua personalidade
Por último e não menos importante, Maria Montessori dizia que temos que respeitar cada criança individualmente e lidar com elas com amor e respeito.
Sempre damos escolhas para eles, mesmo quando não tem escolha. Por exemplo, escovar os dentes é algo que não tem discussão, porém a escolha aqui é, “você coloca a pasta ou eu? Você escova sozinha ou precisa de ajuda?”.
Meus filhos fazem parte ativamente nas escolhas diárias. Eles são ouvidos e respeitados. Como por exemplo, o que vamos almoçar. Damos opções e eles escolhem. E assim, seguimos juntos.
E você, gosta do método Montessori? O que mais você usa na sua rotina?
2 Comentários
Oi Aline, amei seu texto. Trabalho como educadora aqui na Alemaha e na creche onde trabalho seguimos a linha da Maria Montessori. Parabéns pela sua iniciativa.
Beijos,
Luciana
Obrigada Luciana :). Que bom que gostou
Beijos