Há pouco mais de dez anos tomei a decisão de me mudar para a Inglaterra com a minha filha, que na época tinha 4 anos. Eu já havia morado em Londres por quase um ano quando terminei a faculdade e tinha me apaixonado pela Inglaterra. Em menos de 6 meses me organizei, consegui um emprego em Bristol, aluguei um apartamento mobiliado, comprei as passagens e lá fomos nós!
Como todas nós mães, a minha maior preocupação era com o bem-estar da minha filha. Mesmo sabendo que o ano acadêmico começava em setembro, arrisquei chegar atrasada para o primeiro bimestre escolar (term em inglês) para que tivéssemos tempo de nos situarmos com tranquilidade. Eu só começaria a trabalhar em janeiro, portanto a idéia era chegar em novembro para que eu pudesse fazer a adaptação dela na escola (afinal ela não falava nada de inglês e tudo era novo). Na teoria, tudo programado para ser perfeito!
A primeira surpresa foi que apesar do governo prover educação a todas as crianças, a Rafa chegou tarde e, por isso, a única escola que nos foi oferecida não era muito perto de casa e naquela época eu ainda não dirigia aqui. Pânico. Na Inglaterra quando chega a idade do seu filho ingressar na escola (4 anos completos) você faz uma solicitação das 3 escolas de sua preferência e aguarda. Mas não adianta morar super longe das escolas escolhidas, sua moradia tem estar dentro da área de captação (excelente pois há muito menos trânsito, a maioria dos pais e alunos caminha, anda de bicicleta etc para chegar na escola). Tem muita família que na hora de comprar uma casa por aqui, avalia a qualidade das escolas próximas para garantir um bom estudo para os filhos. Você pode ler mais sobre o assunto aqui.
Pois bem, o bairro onde nós morávamos era excelente e as escolas próximas também, ou seja, super competitivo conseguir uma vaga, ainda mais quando você chega atrasada…
Passei o mês de novembro e dezembro indo de escola em escola no bairro para checar se havia alguma desistência. Depois de muita persistência, na semana anterior a do Natal, antes da escola fechar para as festas, recebi um telefonema confirmando que uma criança havia saído da escola e que minha filha tinha agora essa vaga! Felicidade!
E corre para comprar uniforme. Fui na escola registrá-la e lá mesmo eles vendiam, exatamente como na escolinha no Brasil. Comprei tudo o que era necessário e saí de lá com minha pequena matriculada, várias sacolas debaixo do braço e menos dindim no banco. Somente mais tarde eu descobri que a maior parte dos uniformes das escolas primárias é vendida em supermercados (como por exemplo Asda, Sainsbury’s, Tesco, Aldi) pela metade do preço do que eu havia pago! Fazer o que, né? Vivendo e aprendendo.
Quando chegou o verão, as meninas começaram a usar um vestidinho xadrez e aí eu já sabia que não deveria comprá-lo na escola. Fui até um supermercado próximo e vi que eles tinham em três cores diferentes: azul, verde e vermelho. Fiquei super dividida e acabei comprando um de cada, afinal eles eram bem baratinhos. Quando mostrei pra minha filha os modelos comprados ela me disse: – Mamãe, na minha escola só se usa azul, outras cores não são permitidas… Ninguém merece… mas bola pra frente!
O próximo passo agora seria a adaptação dela, já que eu começaria meu novo trabalho exatamente no mesmo dia em que ela começaria a aula. E agora, José? Situação super complicada. Me lembro até hoje desse dia.
Chegamos na escola e tanto a professora quanto as crianças foram super receptivas. Fiquei cerca de uma hora e meia com ela na sala de aula, mas depois eu tive que sair. Ela não chorou. Meu coração apertou, mas eu também não chorei – em respeito a minha filha. Tenho certeza de que ela se esforçou para não chorar e até hoje agradeço por esse momento.
As escolas aqui começam por volta das 08:30 e terminam em torno das 15:15. Um dos fatores importantes quando estava procurando por escolas era que ela oferecesse o chamado After School Club (ASC), uma outra organização dentro da própria escola que oferece atividades, esportes etc para as crianças até cerca das 18:00, 18:30. Minha filha também teve que encarar a adaptação no ASC na marra, mas mais uma vez os coordenadores foram maravilhosos e tudo aconteceu com tranquilidade.
Como eu disse anteriormente, o ano escolar aqui é dividido em 6 bimestres ou terms e entre eles, sempre há pelo menos uma semana de férias. No intervalo perto da Páscoa são duas semanas de férias o mesmo perto do Natal. No verão são ao menos seis semanas. Além disso, há cerca de 6 inset days, ou seja, dias em que a escola está fechada para os alunos, mas os professores recebem treinamento. Durante todos esses dias e férias o ASC se transforma em Holiday Club (colônia de férias) e é a salvação dos pais que precisam trabalhar. Tenho que confessar que todas as crianças que utilizam demais esses clubes chegam a ficar um pouco “cansadas” mas… pra mim por exemplo, não tinha outro jeito.
Enfim, o tempo foi passando e, em 6 meses, minha filha estava completamente fluente em inglês – sem sotaque brasileiro como eu por exemplo! Em casa a língua oficial sempre foi o português, portanto, até hoje o português dela é ótimo e agora que ela está na escola secundária, vai fazer uma das provas opcionais do CGSE (General Certificate of Secondary Education) na matéria “Português”. A entrada na escola secundária fica pra próxima!
15 Comentários
Ei Andrea, como você sabe, eu também no início deste ano tomei a mesma decisão que você, so que com 2 filhos, um de 7 e outro de 2, passei pelas mesmos perrengues em relação a escola, o meu filho de 7 ja fala Inglês fluente e o pequeno entende tudo, so falamos português em casa também. Estamos super felizes apesar dos apertos para conseguir conciliar trabalho com eles na escola. Quando pergunto se querem voltar para o Brasil a resposta é NÃO. Parabéns pela iniciativa, amei!
Obrigada Ana Claudia! Somos mulheres corajosas com certeza! Toda sorte do mundo pra voce e seus filhotes.
Que interessante, bom saber
Que bom que gostou! 🙂
Muito bom! Logo logo é minha vez de encarar a escola primária… Beijos!
Boa sorte Anna! Bjs
Adorei! Perfeito! Tb sou colunista da Inglaterra, Londres. E um tema super questionado pelas pessoas q pretendem se mudar pra ca.
Que pena que nao li voce o ano passado.
Tivemos a oportunidade para mudar para Inglaterra e fiquei completamente apavorada, a educação foi o principal fator para não investirmos nessa nova aventura.
Seu texto ‘e super leve e divertido. Adorei!
Obrigada Dani! Mudar nao e facil mas vale muito a pena! Espero que sua aventura esteja sendo boa tambem!
Obrigada Monica!
Parabéns pelo texto, Andrea. Achei leve e fluído.
Obrigada Claudia! Tambem curti muito o seu. 🙂
adorei o texto, Incrível como vocês foram corajosas, meu marido é Inglês, ele se aposenta este ano e está querendo voltar a morar na Inglaterra, estou tentando criar essa coragem agora aos 58 para me adaptar em um país tão diferente do Brasil…será?
Ola Iva! Muito obrigada. Venha sim, sera muito bem vinda! Boa sorte pra voce.
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