Você recorda com saudade da sua infância? Você gostava de contos de fadas e se via inserido neles? Eu tive uma infância muito feliz e era considerada uma criança sonhadora, pois eu me imaginava sendo uma princesa ou uma heroína. Eu era a Mulher-Maravilha e os meus irmãos eram o Super-Homem e o Batman.
Hoje em dia, vivendo a maternidade e atuando como educadora infantil, sou muito questionada se devemos incentivar ou não as crianças aos contos de fadas e ao mundo dos super-heróis. Eu e meu marido divergimos sobre esse assunto, pois na concepção dele as crianças desde cedo devem ser preparadas para a realidade, e não para um mundo fantasioso que não existe. Alguns estudiosos pensam da mesma forma. Porém, eu me posiciono a favor das pesquisas que dizem que os contos de fadas são bons para as crianças. Então, eu leio para os meus filhos os mais diversos contos de fadas. Estes são essenciais para desenvolver o lado lúdico das crianças, formação de valores e o desenvolvimento psíquico.
De acordo com Vilma Viana de Lima, os contos de fadas são um tipo de literatura que contribui de maneira incomensurável para o desenvolvimento infantil no que se refere aos aspectos cognitivo, psíquico, motor e, consequentemente, para a formação de valores. Como uma obra de arte, são passíveis de inúmeras interpretações. Por isso, despertam a fantasia que é o motor propulsor do desenvolvimento infantil.
A importância dos contos de fadas
Os contos de fadas exercem uma influência benéfica na formação da personalidade e ao mesmo tempo formam indivíduos mais humanizados e com bons valores. Descobrindo o verdadeiro sabor de ser criança e um futuro adulto seguro de suas opiniões, decisões e atitudes. Para Bettelheim* (2012), os contos colocam um dilema existencial de maneira breve e incisiva, permitindo à criança apreender o problema em sua forma mais essencial, enquanto que expô-lo de forma mais complexa confundiria as coisas para ela. Os contos de fadas simplificam todas as situações e os seus personagens são esboçados de uma maneira clara. Diferentemente de qualquer outra forma de literatura, direcionam a criança para a descoberta de sua identidade, vocação e também sugerem experiências que são necessárias para desenvolver ainda mais o seu caráter.
Neste contexto, os contos são histórias que nos tocam profundamente e nos conquistam. Essa conquista é coletiva e ocorre na mais tenra idade, quando ainda vivemos no período mais frutífero e repleto de significados: a infância. É nele que vivenciamos as experiências, as fantasias, os jogos, as alegrias e dramas que vão moldar nossa personalidade, nosso caráter, nosso jeito de ver, interagir e de viver o mundo.
Histórias como Cinderela, Chapeuzinho Vermelho, A Bela Adormecida, Branca de Neve, dentre tantas, são parte desse processo de desenvolvimento, de aprendizagem, dessa aventura infantil que nos conduz ao crescimento e ao amadurecimento.
Vivendo o conto de fadas com as minhas crianças
Em conformidade com as afirmativas acima, faço de tudo para que as minhas crianças sejam crianças, vivam cada fase sem pular etapas e se desenvolvam psicologicamente bem. Eu amo ler os contos de fadas para eles e não tenho vergonha de imitar ou me fantasiar dos personagens preferidos deles.
O meu filho primogênito, que já tem sete anos, se identifica com o Super-Homem, mas confesso que ele não é muito fã de super-heróis não. O Noah gosta de Minecraft e LEGO. E tive que me informar sobre esses personagens, pois estava um tanto quanto temerosa sobre esse mundo Minecraft que o fascina tanto. Comprei cadernos, livros e jogos; descobri que Minecraft é muito educativo e que muitos professores já o estão trazendo para a sala de aula.
Já as minhas filhas, que têm cinco e três anos, são fascinadas pelo mundo encantado dos contos de fadas. Eu apresentei para elas desde pequeninas as histórias das princesas da Disney. A Agatha sempre prestou muita atenção na história da Branca de Neve, e quando tinha dois anos se intitulou como a mesma. Já Alice diz ser a Bela e a Elsa. Por isso, na festa de aniversário delas de três anos e de um ano respectivamente, o tema foi princesas e eu contratei as princesas Bela e Branca de Neve para comparecerem ao evento.
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Era surpresa e elas não sabiam de nada. Quando a campainha tocou e eu fui abrir a porta, as princesas entraram e a Agatha ficou tão surpresa, numa felicidade tão grande, que não acreditava no que estava vendo: as princesas dos livros agora na frente dela! A Agatha, com um olhar muito inocente, olhou para as princesas e disse: “Snow White and Belle together?” (Branca de Neve e Bela juntas?). E a Bela respondeu: “Sim, nós somos melhores amigas!” Aquele encantamento da minha filha na festa dela foi algo inesquecível. A Alice estava fazendo um ano, mas percebi que ela também estava fascinada. Depois da festa, a Agatha só falava nisso e pedia para rever o vídeo e as fotos da festa. Os anos se passaram e até hoje a Branca de Neve é a princesa favorita dela.
Em 2018, levamos as crianças para a Disney em Orlando e foram momentos mágicos, preciosos e inesquecíveis! O meu marido ficou com o Noah e o levou no LEGOLAND enquanto eu fiquei com as meninas no Magic Kingdom. Dois dias não foram suficientes para visitarmos todos os lugares que queríamos, mas ainda tínhamos que ir nos outros parques. Eu confesso que virei criança de novo, me vesti de Minnie, me diverti e me emocionei ao ver a alegria que as minhas crianças estavam vivendo. Tirar fotos com as princesas, com o Mickey e a Minnie, interagir com os personagens do Toy Story, Cars, assistir à Disney’s Christmas Parade foi sensacional, mágico e inesquecível.
A criança e o mundo mágico
Quando voltamos para casa, as crianças não paravam de falar sobre o que tinham vivido e ficaram mais motivadas ainda para ler e ouvir os contos de fadas, que para elas agora eram reais. Eles viram, ouviram e conversaram com os personagens dos livros!
Veio mais uma festa de aniversário e dessa vez o tema seria Frozen. A Alice, que agora faria três anos, me pediu para ser a princesa Tiana, já que ela seria a Elsa e a Agatha seria a Anna. Elas me chamam de princesa Tiana e o pai carinhosamente de frog (sapo). O que uma mãe não faz para ver as crianças felizes, não é mesmo? Claro que eu me vesti de princesa Tiana no dia da festa das meninas e me juntei com as outras duas princesas que contratei: a Elsa e a Anna.

Durante a festa com as princesas contratadas; foto: arquivo pessoal
Resultado: as minhas filhas ficaram muito felizes com a Anna e Elsa na festa, mas elas amaram me ver vestida, penteada e maquiada como uma princesa. Foi, sem sombra de dúvida, um dos dias mais felizes das nossas vidas! O Noah também curtiu a festa e se sentiu um príncipe no meio de tantas princesinhas (as amiguinhas das minhas filhas também se vestiram de princesas). Confesso que essa festa foi bem trabalhosa e no final eu estava exausta, mas faria tudo de novo só para ver o sorriso, a alegria e a magia que essa festa proporcionou para as minhas filhas e para as amiguinhas delas!
Em suma, os contos de fadas estendem a imaginação para além do infinito. As crianças não precisam ser lembradas das duras realidades desse mundo; elas precisam se maravilhar com sua beleza e possibilidades.
Fonte:
*BETTELHEIM, Bruno. A Psicanálise dos Contos de Fadas. São Paulo: Paz e Terra, 2012.
A ilustração de destaque foi feita pela fotógrafa Clarissa Crouch, @clarissacrouchphotography