Sou mãe de três crianças pequenas. Eu e meu esposo nos esforçamos diariamente para sermos bons pais e educarmos os nossos filhos da melhor maneira possível. Recentemente, eu me deparei com uma situação que não pensei que teria que lidar tão cedo. Meu filho de 6 anos sofreu bullying na escola.
O que é bullying?
Bullying é quando alguém é ridicularizado rotineira e constantemente por uma pessoa ou grupo. Os agressores debocham de pessoas que eles acham que não se encaixam ou estão fora do padrão. Geralmente os causadores de bullying zombam de outros por diversas coisas, incluindo a aparência física, o comportamento (como alguém age), o estilo (como alguém se veste), a cor da pele, a religião, o status social e a identidade sexual (como ser homossexual, transgênero ou transsexual).
Tipos de bullying
- Bullying físico: ocorre quando os agressores machucam seus alvos fisicamente.
- Bullying verbal: o agressor provoca através de xingamentos, palavras ou apelidos depreciativos.
- Bullying psicológico: é fofocar, ameaçar ou excluir a pessoa para fazê-la sentir-se mal consigo mesma.
- Cyberbullying: é quando os agressores usam a internet e as mídias sociais para atacarem o outro e dizerem coisas que provavelmente não diriam pessoalmente. Isso pode incluir a publicação de insultos sobre alguém no Twitter ou comentários rudes em suas fotos do Instagram ou Facebook. Os cyberbullies também podem postar informações pessoais, conversas no WhatsApp, fotos ou vídeos para ferir ou envergonhar outra pessoa; ou ainda criar contas fakes para denegrir a imagem de alguém.
O tipo de bullying sofrido pelo meu filho
Eu levo e busco as minhas crianças na escola praticamente todos os dias. Quando voltamos pra casa, pergunto pra elas como foi o dia na escola, o que elas aprenderam, se eles se divertiram. E foi no primeiro dia de aula na primeira série que o bullying físico e verbal ocorreu.
Era para ser um dia muito especial, meu filho estava muito feliz por estar começando uma nova fase escolar. Perguntei para a Agatha (minha filha de 5 anos) como foi o dia dela, que sorrindo respondeu: “Great!” (Ótimo). Quando perguntei para o Noah, ele começou a chorar e disse que estava tudo bem até o “fulano” xingá-lo e chutar sua perna. Naquele momento eu fiquei sem reação e muito indignada com o ocorrido. Eu senti na pele a dor que o meu filho estava sentindo.
No outro dia, questionei a professora sobre o ocorrido. Ela me disse que conversaria com o agressor e iria observar o comportamento dos dois. Infelizmente, meu filho continuou sendo alvo de agressão por mais duas semanas até que eu e meu esposo fomos à escola, conversamos com a diretora e com a mãe do agressor e exigimos que o bullying parasse!
Efeitos do bullying
O bullying pode causar danos ao psiquismo, interferir de forma negativa no desenvolvimento emocional, cognitivo e socioeducacional. Além disso, pode levar a vítima ao sofrimento demasiado, isolamento social, depressão, ansiedade, transtorno de humor, irritabilidade, baixa na resistência imunológica e na autoestima, stress, sintomas psicossomáticos, transtornos psicológicos, podendo até levar ao suicídio.
Entre os transtornos psicológicos estão síndrome do pânico, TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizado), bulimia e anorexia, fobia escolar e fobia social.
As consequências para as vítimas desse fenômeno são graves e complexas, promovendo ainda no âmbito escolar o desinteresse pela escola, o déficit de concentração e aprendizagem, a queda do rendimento, o absentismo e a evasão escolar. Daí a importância de evitar o bullying e ao mesmo tempo de tratar a vítima adequadamente com acompanhamento psicológico, psicopedagógico e, alguns casos, medicamentosos.
Como são as crianças e adolescentes que causam o bullying?
Geralmente são crianças e jovens que costumam humilhar colegas e sentem prazer em liderar um grupo ou expor de forma agressiva alguém que julgue mais fraco ou vulnerável. As vítimas são normalmente alunos considerados diferentes dos demais, como, por exemplo, ser um ótimo aluno, ser muito pequeno, usar óculos, possuir atitudes afeminadas para os homens ou masculinizadas para as mulheres, entre outros.
Os agressores são normalmente habilidosos em ridicularizar o outro com piadinhas ou em retratar a caricatura das vítimas como algo engraçado, estereotipado, frágil e desengonçado. Frequentemente apresenta esse tipo de comportamento por ser infeliz, ter baixa autoestima, se sentir impotente em outras áreas da sua vida, como conflitos familiares e emocionais.
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Os agressores podem ser de ambos os sexos e têm em sua personalidade traços de maldade e desrespeito. Apresentam desde muito cedo aversão a normas, não aceitam ser contrariados e não sentem culpa ou remorso pelos atos cometidos.
Segundo especialistas, as causas do comportamento abusivo dos agressores são inúmeras e variadas. Deve-se à carência afetiva, à ausência de limites e ao modo de afirmação de poder e de autoridade dos pais sobre os filhos, por meio de “práticas educativas” que incluem maus-tratos físicos e explosões emocionais violentas.
Os agressores possuem necessidade de reproduzir contra outros os maus-tratos sofridos em casa ou na escola e desenvolvem comportamentos identificados como “Síndrome de maus-tratos repetitivos”. O portador dessa síndrome possui necessidade de dominar, de subjugar e de impor sua autoridade sobre outrem mediante coação, necessidade de aceitação e de pertencimento a um grupo, de auto-afirmação, de chamar a atenção para si. Possui ainda a inabilidade de expressar seus sentimentos mais íntimos, de se colocar no lugar do outro e de perceber suas dores e sentimentos.
O que a escola pode fazer contra o bullying
Uma vez identificado, o bullying deve ser imediatamente comunicado à instituição e aos responsáveis pela agressão. Devem-se aplicar medidas de bloqueio, extermínio e reflexão de tais condutas dentro do ambiente escolar.
A escola pode realizar um trabalho preventivo e contínuo que discuta sobre o tema violência, seja física, verbal ou psicológica. Pode ainda traçar um mapeamento da realidade escolar, suas características culturais, sociais e psicológicas, bem como das relações estabelecidas entre os membros da instituição, famílias e comunidade, possibilitando o conhecimento do panorama geral das relações interpessoais que acontecem dentro e ao redor da instituição.
É importante buscar ajuda de um psicólogo para que esse, juntamente com o corpo docente, promova espaços de discussões e reflexões que possam abordar o bullying, promover a construção de um ambiente de confiança e respeito mútuo, e verificar ambiguidades e conflitos existentes nas relações. Assim, é possível buscar o fortalecimento de vínculos nas relações interpessoais e propiciar um espaço para a elaboração de normas e regras na escola.
Nesse texto, você pode conhecer o projeto Banco da Amizade (chamado de Buddy Bench na Irlanda e Friendship Bench na Inglaterra) desenvolvido em escolhas e bairros do Reino Unido. Nessa mesma linda, é possível desenvolver um projeto de cultura da paz como sugerido por Fante (2005). É um conjunto de estratégias psicopedagógicas que se fundamenta sobre princípios de solidariedade, tolerância e respeito às diferenças.
Estas e outras medidas podem ser aplicadas e desenvolvidas no ambiente escolar. O que de fato é inadmissível é a naturalização da conduta de violência escolar. É de suma relevância abordar a temática e colocar em debates para que possamos extinguir essa prática e tratar agressores e vítimas, promovendo uma cultura de paz e respeito.
Para ouvir a opinião de especialistas num bate-papo com muita informação sobre o tema, ouça o episódio 126 do Mamilos podcast sobre Bullying. É extremamente esclarecedor e nos dá dicas de como fortalecer nossos filhos para não se tornarem alvos.
Leia também o guia completo sobre cyberbullying para pais .
*Este texto foi escrito com a contribuição da dra. Cristiene Alencar (@escoladepaisbycris), doutora em educação, mestre em Psicologia Educacional e psicopedagoga clínica.
A ilustração de destaque foi feita por Aline G. S. Scheffler, graphic designer (@arte.final).
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