Como fazer um processo saudável de transição das férias escolares com crianças com necessidades educativas especiais
“Mãe quanto tempo falta para as aulas voltarem?”, pergunta diária da minha filha de 8 anos. As férias de verão são longas aqui na Califórnia. São praticamente três meses. “Quem será o meu professor?”, “Será que terei amigos novos?” são perguntas frequentes.
A minha pequena está muito ansiosa para rever as amigas, a mochila já está pronta com o material escolar e o uniforme limpo já guardado no armário. Já escolheu a saia azul marinho com pregas, uma camiseta branca polo e o penteado que irá fazer para o primeiro dia de aula.
Na tentativa de reduzir a ansiedade, fomos organizando os livros e cadernos antigos, limpamos a lancheira, compramos uma mochila nova com o tema preferido. Ela optou por mochila comum, não quer mais rodinhas, afinal disse que está no 4° ano e que ninguém usa rodinhas na escola mais.
Revisamos os lanches que mais gosta de comer na escola e procuramos receitas novas. Saímos para comprar os materiais do ano escolar em que está matriculada. Os supermercados grandes como Target e Wal-Mart possuem a lista de material de cada ano escolar, a básica e a econômica. Cheque aqui a lista de material escolar.
Tiramos as camisetas pequenas do uniforme escolar e substituímos por novinhas. As escolas públicas tem um código de vestimenta, e os supermercados e lojas de departamento vendem camisetas e calças de acordo com as cores que as escolas públicas adotam.
Reservamos uma tarde para levar as roupas, brinquedos e livros que não queria mais para um centro de doação. Releu os livros preferidos. Passeou por locais da cidade que mais gostou de ir. Foi turista nas férias na cidade em que mora. Ligou para amigas do Brasil e as novas amigas daqui. Marcou os dias que faltavam no calendário.
Se uma criança neurotípica já fica ansiosa com o retorno à escola, imagine uma criança com transtorno do espectro autista (TEA)?! Então, contarei aqui a minha experiência ao ajudar também o meu pequeno nesta fase de transição entre um ano escolar e outro.
Transição com crianças com necessidades educativas especiais
Aqui nos Estados Unidos quando se faz a reunião do IEP (Individualized Education Program) é possível pedir o Extended School Year (ESY), ou seja, um programa de extensão do ano letivo. Esse programa tem como objetivo continuar trabalhando os objetivos do IEP por mais um mês nas férias de verão. Importante mencionar que a elegibilidade para esse programa varia em cada estado.
O ESY (programa de extensão do ano letivo) visa a manutenção das habilidades já adquiridas no ano letivo, assim como a socialização. Ótima opção para crianças com TEA, que possuem dificuldades em reter os conteúdos já aprendidos e precisam de uma rotina.
Tivemos duas experiências com o programa de extensão do ano letivo: no verão de 2018, uma escola pública centralizou todos os estudantes elegíveis do bairro para o programa. O ambiente era totalmente novo, assim como a professora titular, assistente, terapeuta ocupacional e fonoaudióloga, porém mantiveram o apoio especializado da escola de origem.
Nesse verão de 2019, o local é na escola em que o meu filho está matriculado; a professora e toda a equipe continuaram a mesma. A transição foi bem melhor!
Dicas para amenizar a transição das férias escolares
Também gostaria de dividir algumas dicas para melhorar a transição das crianças com TEA, pois acredito que o nosso objetivo como pais é proporcionar uma experiência escolar positiva para as nossas crianças, portanto não podemos favorecer situações de estresse, assim como os profissionais da educação.
Sugiro algumas semanas antes do primeiro dia escolar, reiniciar a rotina com os horários de dormir e acordar estabelecido pelos responsáveis.
Calcule o tempo que a família demora para se organizar, entre o acordar e o sair de casa. É uma logística que precisamos fazer, pois talvez será necessário acordar um pouco mais cedo e pensar no trânsito matinal para o deslocamento até a escola ou a parada de ônibus.
Livros de volta às aulas e histórias sociais são excelentes para a criança internalizar que o momento de voltar para a escola está próximo. Um calendário visual com a rotina é uma ideia. Pode-se utilizar imagens da escola ou da mochila que será usada no retorno às aulas, por exemplo.
Brincar de escolinha em casa (role-play) é uma alternativa divertida. Que tal fazer uma visita na escola? Mostrar onde é o parquinho, o banheiro, a sala de aula e o refeitório. Combine uma visita com a Direção.
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Nada melhor do que andar com roupas e sapatos confortáveis. Que tal verificar se o tecido do uniforme está agradando? As etiquetas estão cortadas? Os sapatos ou tênis estão macios? A costura da meia incomoda?
Separar o uniforme ou a roupa que utilizará no primeiro dia de aula é uma opção, assim como organizar a mochila e deixar próxima da saída da casa.
E sabe aquele lanche preferido? O primeiro dia de aula é o melhor dia para enviar para o seu pimpolho. Toda criança gosta de saber que o lanche foi preparado com muito carinho. Também traz conforto e boas memórias.
E, por fim, trace uma estratégia de comunicação com a escola, para sempre ter informações a respeito do dia da sua criança. Pergunte se a professora ou a monitora relatará como foi o dia do seu filho (a) e sobre qual será a forma de comunicação com você. Será por agenda? Será por email?
Desejo uma excelente transição para todas as crianças, e que o novo ano letivo seja repleto de alegrias e aprendizagens!
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