Austrália ensina crianças desde cedo a evitar o câncer de pele.
Na Austrália, a prevenção ao câncer de pele é coisa séria. O país, brindado com belíssimas praias e natureza exuberante, tem o segundo maior índice desse tipo de câncer, perdendo apenas para o vizinho, a Nova Zelândia. De acordo com o Cancer Council, instituição que trabalha para prevenir a doença, quase 1 milhão de pessoas foram diagnosticadas com câncer de pele em 2014.
A boa notícia é que a incidência entre os jovens está diminuindo e é sobre isso que quero falar. Desde que me mudei para cá, me chamou a atenção o fato das crianças sempre brincarem de chapéu, não importa se nos parques ou nos pátios das escolas. Lá estavam elas, todas felizes com seus chapeuzinhos tão característicos!
Assim que matriculei meu filho na escola, a professora me pediu para mandar um chapéu para ele também. Ela me explicou que eles seguem as recomendações do governo sobre a prevenção do câncer de pele e que as crianças aprendem desde cedo a importância de usar chapéu e aplicar filtro solar.
Eu também já tinha reparado que existe uma loja do Cancer Council no shopping, voltada só para a venda de bonés e chapéus de todos os tipos. Quer dizer, não é uma loja com ênfase na moda, com modelos elegantes e super cheios de estilo. Nada disso. O foco é mesmo a proteção.
Achei interessante a consciência quanto aos riscos da exposição excessiva ao sol estar tão presente no dia-a-dia dos australianos e resolvi pesquisar sobre o assunto. Descobri que se trata mesmo de uma política pública conhecida informalmente como “no hat, no play”. Traduzindo: sem chapéu, não tem brincadeira! Na verdade, esse foi, digamos assim o bordão que os professores encontraram para engajar as crianças na prevenção.

Campanha de conscientização sobre a importância de brincar de chapéu.
Por trás do bordão, existe um documento bastante completo elaborado pelo governo australiano, com diretrizes sobre o que eu chamaria de “aproveitamento seguro do sol” – sun safety, como eles dizem. As orientações são voltadas para os educadores, a família e a comunidade.
A ideia é que todos são responsáveis pelo bem-estar e saúde das crianças e, portanto, todos devem se engajar na causa. Gosto muito dessa visão. É preciso uma vila para criar uma criança, já diz o ditado. Os australianos parecem entender isso muito bem. Para eles, o câncer de pele é um risco que deve ser evitado juntos.
Para isso, algumas medidas são essenciais. A principal delas é a adoção do chapéu para todas as brincadeiras ao ar livre. E não é qualquer boné que eles recomendam, não. A proteção ideal deve cobrir a cabeça, pescoço e orelhas. As crianças daqui já sabem direitinho e é até meio automático para elas usar o chapéu. O único momento em que ele sai de cena é o no inverno, quando é substituído pelo gorro ou capuz.

O chapéu ideal deve cobrir cabeça, pescoço e orelhas.
Além de promover campanhas de conscientização, o governo australiano orienta as escolas a incluirem em seus currículos tópicos sobre as formas de prevenir o câncer de pele. Na escola do meu filho, os alunos formam uma fila para passar filtro solar sempre que vão brincar no sol. A professora ajuda, mas todos aprendem a aplicar o protetor, que deve ter fator de proteção necessariamente acima de 30.
Outro ponto interessante, para mim, é que o governo entende que os pais devem ser modelos para os filhos. É como eu disse antes: todo mundo jogando junto para o bem-estar das crianças. Não adianta nada a escola fazer um super esforço para conscientizar seu filho se você não usa filtro solar e manda a criança para a praia sem chapéu. O bom dessa política pública é que o tema se torna tão natural para os pequenos que eles mesmos acabam nos lembrando sobre a importância de evitarmos o sol de rachar.
Eu cresci vendo minha mãe fazer loucuras para conseguir um bronzeado perfeito. Óleo de avião, urucum, Rayito de Sol e horas deitada sob o sol inclemente do meio-dia. A minha geração já começou a ouvir sobre a importância de uma exposição moderada aos raios solares. Digamos que eu esteja no meio do caminho: uso filtro solar, mas não tenho tanta disciplina.
Aqui em casa, se eu esqueço de vestir o chapéu no meu filho na hora de ir para a escola, ele me cobra. Observo que essa nova geração de crianças crescidas na Austrália, ao que tudo indica, será do melhor tipo possível: a que une informação e naturalização do conhecimento. Assim, a disciplina deixa de ser um esforço e a proteção vem de forma natural. Todos ganhamos.
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