As atividades extraclasses nas escolas públicas da Itália
Em um ano de Itália, pude aprender e acompanhar de perto todas as atividades escolares pelas quais meus filhos passaram na rede de ensino público daqui. Como me admirei positivamente e curti bastante essas experiências, resolvi compartilhar um pouquinho delas com vocês.
Como já contei nos meus textos anteriores, cheguei aqui em julho do ano passado (2017), iniciando as atividades escolares das crianças em meados de setembro. Logo no primeiro mês de aulas, minha filha mais velha, que cursava o 4º ano da escola elementar, veio com uma autorização para um passeio de trem a uma cidade vizinha, onde iriam fazer uma atividade extraclasse. Passariam o dia, deveríamos mandar dois lanches e um pranzo al sacco, que é um almoço rápido, tipo um sanduíche reforçado. Pagaríamos apenas a passagem do trem. Nós pais éramos incumbidos de levar as crianças por volta das 7h30 da manhã na estação e buscá-los por volta das 17h no mesmo local.
Os passeios
Nesta atividade, as crianças foram a um parque da cidade onde receberam uma educação de trânsito, passaram por um oftalmologista para exames de vista, no qual o resultado foi encaminhado aos pais posteriormente com indicação ou não para uso de óculos de grau. Além disso, fizeram diversas outras brincadeiras para a integração dos colegas no início do ano letivo.
Achei fantástico não só receber esses resultados do exame de vista como perceber que realmente a minha pequena voltou toda integrada e cheia de confiança na nova escola e na nova vida. Falava sem parar na volta para casa dentro do carro, cheia de histórias para contar.
Daí em diante, vieram outras saídas importantes como a ida a Florença de trem, onde visitaram a Museo Archeologico Nazionale e andaram pela parte histórica e turística da cidade; a ida de ônibus fretado a Abadia de San Galgano, que fica próximo a Siena, onde estudaram a história da espada presa na rocha e almoçaram na Casa da Mulino Bianco, famosa fábrica de biscoitos da Itália. Sem contar diversas outras saídas pequenas a pé pela nossa cidade mesmo, como a ida à feira para comprarem produtos artesanais locais e a ida ao instituto agrário onde produzem azeite da cidade.
Posso dizer que minha filha de 9 anos tem tanta ou mais cultura local do que eu.
E mais, o meu filho mais novo, de 6 anos, que cursou o primeiro ano, também teve seu primeiro passeio. Foram de ônibus a Frattoria didática Quarrata, onde tiveram uma aula sobre o processo de produção dos queijos: como plantavam, como a vaca comia e o que comia, como era tirado o leite e como era feito o queijo. Botaram a mão na massa e produziram seu primeiro queijo. Almoçaram e lancharam na fazenda. Meses depois receberam o queijo que fizeram lá para degustação em sua salinha de aula. Não é bacana, gente? Esses detalhes me encantam.

arquivo pessoal
O Programa “Fuoriclasse”
Estas ocasiões fazem parte de todo um plano educativo e didático traçado no P.T.O.F. (Piani Triennali dell”Offerta Formativa) das instituições escolares, que têm completa autonomia para programá-los e realizá-los.
O Programa “Fuoriclasse” trata-se de uma importante oportunidade formativa para os estudantes conviverem e participarem ativamente, descobrindo e valorizando o território onde vivem, além de experimentar uma didática interdisciplinar experimental.
Segundo eles, a escola reconhece a sua importante função ligada à aprendizagem e seu papel na educação das crianças para uma cidadania ativa e participativa. A escola é um lugar onde se é educado para crescer juntos, para confrontar as diferenças; um lugar onde você aprende a se tornar cidadão que se descobre como parte da mesma comunidade. E é justamente para fortalecer essa importante função da escola que os passeios desempenham um papel fundamental no percurso de crescimento e educacional dos jovens.
Na escola, aprendemos a ler o mundo. Aprendemos as regras da vida compartilhada que serão então reproduzidas lá dentro e depois reproduzidas novamente pelas próprias crianças fora do contexto escolar. Assim, sair e conhecer o próprio território só pode sustentar esse importante processo que busca descobrir e reconhecer-se como parte ativa de sua comunidade e da vida de suas cidades.
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O Programa acredita ainda que viagens e passeios respondem a objetivos educacionais que o corpo docente identifica e pretende alcançar. Assim, por trás da organização dessas experiências, há um caminho de identificação e respostas às necessidades específicas, resultado do trabalho dos professores e que visa oferecer oportunidades de aprendizagem únicas e especiais para os alunos envolvidos.
Não gosto de ficar comparando com o Brasil, mas para mim que saí há apenas 1 ano, é inevitável ao menos não me lembrar do ensino público brasileiro. É lamentável a situação que se encontram as escolas públicas hoje no interior do Rio de Janeiro onde eu morava. Que educação é essa que vem sendo dada aos nossos brasileirinhos? Que jovens têm se formado? Qual o exemplo de cidadania e valorização eles vem tendo? Que visão vocês têm da educação pública brasileira hoje? Será que tem solução? O que podemos fazer para melhorar ou ajudar?
Fica aí meu texto contando um pouquinho da visão do sistema educacional público italiano sobre a importância da formação de cidadãos. Quem sabe contribuo ao menos para o início de uma pequena reflexão ou até mesmo um debate sobre o tema.
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