Alimentação escolar em Portugal.
Para falar sobre esse assunto, terei que confessar meus péssimos hábitos alimentares. Não, não sou um exemplo na alimentação e nunca me importei com isso até ser mãe e até estar em Portugal.
Na minha época de escola, lembro que os lanches eram os mais saudáveis possíveis (mentira, risos). Cresci tomando refrigerante, suco e achocolatado de caixinha, biscoito recheado e o famoso “Cheetos”, mais conhecido no Ceará como xilito, risos. Esses eram os itens que iam na minha lancheira escolar, e lembro que a maioria dos meus colegas também levava coisas parecidas, exatamente porque naquele tempo não existiam tantos alertas sobre o açúcar, o sódio, o glúten, então a consciência de nossos pais estavam tranquilinhas enquanto lambíamos os dedos sujos e grudentos de tanto corante e sal do cheetos.
Enfim, eu cresci e, depois que me tornei mãe, passei a ficar mais ligada a assuntos sobre alimentação infantil. Apesar de minha filha só ter provado doces após os 2 anos, nunca ter tomado refrigerante e não comer enchidos (embutidos), eu não me tornei uma mãe nutricionalmente correta (não me julguem, basta minha consciência que já grita). Mas procuro fazer aquele mínimo que é evitar doces na semana e no final de semana impor regras como “doces só após a refeição saudável”.
Mas vamos prosseguir para o que interessa, a minha experiência com alimentação na escola, aqui em Braga.
A abordagem na escola
Comecei a perceber a maneira com que é tratado esse assunto nas escolas já na reunião de pais que aconteceu um dia antes do primeiro dia de aula. Tivemos uma pequena palestra com a nutricionista do local, que explicou sobre a rotina de almoço das crianças. Ela abriu a conversa já falando:
“Criança não sabe o que é melhor para ela. Na sua casa, o seu filho opina no que vai comer? Na escola, não! Na sua casa, ele só come o que gosta? Na escola, não!”
E prosseguiu explicando que na escola as crianças são estimuladas (pra não dizer obrigadas) a comerem tudo o que está no cardápio, inclusive a sopa antes do prato principal, que é um costume aqui em Portugal e foi novidade não só para minha pequena, mas para toda a nossa família.
Os horários padrões para alimentação na escola onde minha filha estuda são*:
10h – Intervalo para o lanche que pode ser 1 peça de fruta ou 1 iogurte (enviado pelos pais)
12h – Almoço: Sopa + Refeição (salada, proteína e carboidrato) + fruta
16h – 1 pão + 1 leite
*As crianças que têm o prolongamento de horário no ATL (Atividades de Tempo Livre) possuem outros momentos para alimentação.
Adaptação a essa nova abordagem
Eu tive que fazer todo um esforço para ajudar minha filha a se adaptar nessa nova rotina, já que, antes de iniciar na escola, ela acordava tarde e as refeições eram consequentementes fora de hora. Por exemplo, tinham dias que ela almoçava às 14h. Enfim, tive que adequá-la a um processo de acordar cedo e tomar um café da manhã reforçado.
Os demais desafios, incluindo o da alimentação, estavam entre ela e a escola, momento que eu não podia estar presente para acompanhar. Tinha apenas que apoiar e confiar nas educadoras.

Foto: arquivo pessoal – Espaço para refeições
Nas escolas públicas de Portugal (pelo menos em Braga), eles são bem rígidos quanto à alimentação. Estimulam a criança desde o infantário a comer todo o menu do dia, sem ter a opção de dizer “não quero isso, porque não gosto”. A criança pode até não comer toda a comida, mas é exigido que se prove de tudo (a sopa, todos os itens da refeição e a fruta). Ah, detalhe: se sua criança já tem 3 anos, ninguém vai dar comida na boquinha dela, ela vai ter que comer só.
Uma professora me explicou que eles adotam essa regra porque se abrirem exceção para uma criança, as outras também vão selecionar o que querem comer, e elas não podem administrar isso. Minha menina, por exemplo, não gosta de carne, mas na escola ela tem que comer nem que seja um pedaço.
No início, isso me assustou um pouco. Fiquei imaginando que isso poderia causar algum trauma na minha filha, ou que ela pudesse não querer ir mais a escola e tal (coisa de mãe acostumada com os mimos de escola privada do Brasil). Querem saber o resultado que tive em 6 meses? Uma criança que aprendeu a comer sozinha e toda semana chega toda orgulhosa por ter experimentado e gostado de uma comida nova “Mamãe, hoje experimentei tomate e adorei” (essa foi uma das últimas, rs).
Leia também: Crianças e uma alimentação saudável na Dinamarca
Temos que estar abertos para entender a cultura do país em que estamos. Aqui, em Portugal, os educadores e auxiliares têm uma abordagem mais fria, exigente, sem mimos, mas também sabem ser carinhosos e acolhedores quando necessário. Bem que eu gostaria que alguém colocasse minha filha no colo quando ela estivesse com sono ou a abraçasse sempre que ela caísse, mas procuro olhar o lado bom de toda essa tratativa, que é a oportunidade das crianças terem mais autonomia e responsabilidade.
Veja: minha filha tem 3 anos e é obrigada a comer carne e outras coisas que ela não gosta, mas também por outras exigências da escola já faz muita coisa sozinha: calça sapato, meia, abaixa e sobe a calça quando vai ao banheiro, escova os dentes, entre outras coisas. Isso tudo com a mãozinha torta dela e com 1 dedinho a menos (clique aqui para entender a agenesia radial da minha pequena). E diferente do que eu temia, ela AMA a escola.
Foco do país na alimentação saudável
Portugal conta com o PNAS – Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, que é responsável pela administração dos cardápios nas escolas, assim como orientação dos profissionais de educação para que tenham em mente a importância de disseminar a boa alimentação no interior das escolas.
Mais informações sobre esse Programa aqui
Aqui, em Portugal, vejo que as escolas são ambientes excelentes para as crianças desenvolverem hábitos alimentares saudáveis, pois além dos cardápios balanceados, nutritivos que são ofertados, as educadoras ainda organizam atividades para que os pequenos descubram os alimentos. No dia Mundial da Alimentação, por exemplo, fizeram brincadeiras com as crianças, nas quais elas tinham que separar os legumes das verduras, deixaram que elas tocassem nos vegetais, brincassem com as cascas das frutas. Tudo isso para despertar nelas o interesse por esses alimentos.
Existe também um programa educativo que entrou em vigor em agosto de 2017 chamado “Novo Regime Escolar de Distribuição de Fruta, Verdura e Leite”, que se aplica em toda União Europeia. Esse regime garante que toda criança em idade escolar deve ter acesso a alimentos saudáveis que poderão ser ingeridos diretamente ou transformados em sopas, iogurtes, queijos e outros. Veja mais em sobre esse regime nesse link
Enfim, é excelente ter esse apoio da escola na alimentação da minha filha, sabendo que ela está tendo a oportunidade de se alimentar de forma saudável, já que aqui em casa andamos a passos lentos na tentativa de ter um estilo de vida saudável.
3 Comentários
Adorei! Estamos chegando para morar em Braga em Junho e o que mais me preocupa é a alimentação. Meu filho não gosta de nenhuma fruta e legume, não consigo fazê-lo comer por nada. Tenho certeza que não aceitará comer na escola e ficará com fome. Estou tensa com essa situação!
Amei seu post … mudamos para Lisboa no ano passado e a minha filha que tem 2 anos já se alimenta muito melhor que eu e meu marido!! 🤣🤣 Estou adorando essas novas culturas que estamos tendo aqui e abrindo o nosso campo de visão para as coisas boas do mundo.
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