Imagine que você, um amigo ou algum famíliar estejam de mudança para outro país. Qual a primeira palavra que vem a sua cabeça? Bem, na minha é a palavra “adaptação”. Como já havia mencionado no meu primeiro post aqui no BPM Kids, essa foi minha maior preocupação desde o início do nosso processo de mudança para a Estônia. Ficava aflita só de pensar que meus filhos poderiam sofrer com a questão da adaptação escolar, da diferença cultural, do uso de uma língua estrangeira, com a mudança climática, enfim.
Como tudo na vida o percurso do processo de adaptação escolar tem seu lado bom e ruim e é o que eu tentarei destacar nesse texto, claro, que tudo com base na nossa experiência. Como já trabalhei o tema da educação infantil na Estônia e o processo de adaptação do meu filho mais novo, que tem 3 anos e é autista, foi um tanto diferente, irei me ater agora apenas ao processo de adaptação escolar do meu filho mais velho, que está no ensino básico.
Uma breve nota sobre educação básica na Estônia
A educação básica serve como o requisito mínimo obrigatório de educação geral, que pode ser adquirido nas escolas primárias (1 a 6 anos), escolas básicas (1 a 9 anos) ou escolas de ensino secundário superior, que também ensinem currículos escolares básicos (1 a 12 anos). Este último tipo de escola existe em maior número na Estônia.
A escola básica é dividida em três etapas:
Fase I: 1 a 3 anos
Fase II: 4 a 6 anos
Fase III: 7 a 9 anos
A graduação da escola básica exige que o aluno aprenda do currículo pelo menos o nível satisfatório, junto a isso é necessário a aprovação em três exames básicos de graduação escolar, que consistem em: língua estoniana como primeira ou segunda língua, matemática e um exame sobre um assunto de escolha do aluno. Após a graduação da escola básica, existem duas possibilidades para a continuação do caminho educacional: há a possibilidade de adquirir o ensino secundário na escola secundária regular ou ensino secundário vocacional, em alguma instituição de ensino vocacional. Vale salientar que o ensino secundário na Estônia é voltado para alunos em idade escolar de 10 a 12 anos.
Como meu filho tem 9 anos ele se encontra no último ano do ensino básico, mas não vou precisar mudá-lo de escola visto que ele estuda em uma instituição de ensino secundário superior, ou seja, que atende crianças de 1 até os 12 anos de idade.
No mais, os governos locais (estaduais) são responsáveis por custear os gastos com o ensino básico, assegurar vagas para as crianças em idade correspondente, controlar o atendimento escolar, providenciar o transporte e o fornecimento de refeições escolares.
Nossas maiores dificuldades
Lembro que o pior de tudo foi saber que nos intervalos das aulas meu filho chorava sozinho no banheiro da escola, porque nas primeiras semanas de aula as crianças não queriam brincar com ele, pois não entendiam o pouco inglês que ele falava. Nossa, aquilo partiu meu coração em pedaços e eu não conseguia parar de me sentir culpada, principalmente porque optamos por não colocá-lo numa escola internacional devido ao alto preço da mensalidade e por acreditarmos que ele, com seu “jeitinho” desenrolado e expressivo, poderia ter uma rápida adaptação numa escola regular estoniana.
A questão da língua foi um grande desafío uma vez que o estoniano tem uma herança linguística bem complexa e é capaz de por em teste até mesmo os linguistas mais experientes. O idioma descende da família de línguas fino-úgricas e se assemelha bastante ao finlandês. Por isso, hoje posso de dizer que sinto um orgulho imenso em ver meu filho falando com certa propriedade essa língua, após onze meses de estudo e imersão escolar.
Tivemos sorte, pois a escola que nos indicaram já tinha uma certa experiência em trabalhar com crianças vindas de outros países. Além das aulas regulares, os alunos estrangeiros participam de aulas específicas de estoniano com uma professora que ensina do inglês para a língua local. Após três meses de estudo, as crianças já são incentivadas a falar apenas em estoniano na sala e, sempre quando possível, fora dela. No mais a interação com os colegas nativos no dia-a-dia também ajudou bastante.
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No começo foi bem complicado para nós acompanharmos as atividades escolares do nosso filho, uma vez que tudo é escrito em estoniano. Então, passamos a estudar em casa através do site Keeleklikk e a comprar livros e dicionários para que pudéssemos reforçar o que aprendíamos online. Atualmente faço um curso presencial e mais aprofundado de estoniano, afinal, se você pretende morar permanentemente ou passar um bom tempo num determinado país é interessante que fale a língua local e não apenas o inglês (com exceção dos países que tem o inglês como língua).
Outro ponto um tanto complicado no âmbito escolar foi a questão da diferença cultural e comportamental, uma vez que os estonianos são um povo relativamente fechado e reservado. Não é fácil fazer amizade com um estoniano, nem mesmo na infância, mas uma vez que essa amizade existe, em geral, é para a vida toda. Uma das principais críticas do meu filho era a de que, mesmo depois de ter aprendido a falar estoniano, as crianças daqui ainda pareciam um tanto desconfiadas e resistentes a fazer novas amizades e, somente após um ano de escola, ele conseguiu fazer alguns poucos amigos, mas que considera serem “amigos de verdade”.
Benefícios da mudança na vida escolar de uma criança expatriada

Benefícios da mudança escolar para uma criança expatriada. Arquivo Pessoal.
Para algumas famílias, a adaptação escolar em um país diferente pode ser um processo rápido e tranquilo e para outras pode ser longo e complicado. Digo famílias porque apesar de serem as protagonistas, as crianças não devem ser as únicas a viverem isso, nós pais também precisamos fazer parte desse processo. E uma coisa é certa: mesmo frente a tantos obstáculos é um caminho cheio de aprendizados e que, no final, nos possibilita ter uma bagagem cultural, emocional e de conhecimento incrível.
Quanto a nossa experiência posso dizer que isso só nos aproximou ainda mais do nosso filho e ensinou a ele que as diferenças precisam ser respeitadas e os conflitos mediados. Que os momentos mais difíceis são os que mais nos fazem crescer.
Acredito que o mandamento de ouro nesse caso é nunca deixar de conversar com seu filho, pois é crucial que ele se sinta seguro e amparado no meio familiar, sabendo assim que ele sempre terá com quem contar.
10 Comentários
Sensacional, Pri!
Orgulho demaaais de vocês!
Beijo grande.
Obrigada 😘
Muito bom o seu texto Priscila , parabéns!!! Voce já pode se considerar vitoriosa ao lado do Rodrigo, pois o Lucas já conseguiu passar com a ajuda de vcs por essa fase de adaptação e novas descobertas, que eu bem sei não foi fácil. Sucesso também no seu curso.
Obrigada 😘
Quase choro,doeu no meu coraçao.O texto está ótimo,muito bom mesmo.Que possa ajudar muitas outras famílias espatriadas.Parabens.
Coração de mãe é assim mesmo. 😊. Obrigada 😘
Priscila,que texto fabuloso confesso que fiquei com seu relato cheio de uma força que sabemos que vem de Deus. Estou prestes a ter que conviver com essa mudança pois o noivo da Yasmin pretende ir para a Nova Zelândia. Você está sendo muito importante para mim com sua experiência partilhada.Muito obrigada beijo beijo.
Nossa Dri, fico muito feliz em poder ajudar 😊. No que precisar estou aqui. 😘
Priscila, obrigado por compartilhar a tua experiência. Sou brasileiro e português e a mais de 2 anos moro na cidade do Porto em Portugal. Apesar de encontrar poucos vídeos e artigos sobre a Estônia, tenho amado as informações que tenho sobre o país. Estou pensando em mudar para a Estônia e por causa da língua local e também por não saber o inglês, estou pesquisando cursos de inglês para estrangeiros na Estônia e não tenho achado. Não existe escola que possue cursos de inglês desde o básico aí?
Olá Elisio,
Obrigada por seu comentário. Infelizmente a Priscila não colabora mais com o Mães Mundo Afora e não temos ninguém na Estônia.
Um abraço