Adaptação escolar na China e final feliz!
Nihao! (Oi) Meu nome é Juliane, sou casada com o Eduardo e temos um filho de cinco anos. Quando estávamos no Brasil, morávamos no interior de São Paulo.
30 de dezembro de 2016. Assim, quase no último dia do ano, começamos nossa jornada em Nanjing, capital de vários impérios e da República da China no início do século 20. Com 10 milhões de habitantes, é considerada pelos chineses uma cidade pequena. Há um ano nos aventuramos em terras asiáticas e nosso contrato de expatriação prevê que fiquemos de 3 a 5 anos. Essa é nossa segunda expatriação. Em 2012/2013, moramos na Alemanha.
Nossa primeira adaptação quando chegamos em Nanjing, ainda com resquícios do espírito natalino brasileiro e toda aquela festividade familiar, foi entender que 31 de dezembro aqui não representa nada. O Ano Novo Chinês acompanha o calendário lunar em que as datas são variáveis, o que significa que chegamos 30 de dezembro, mas ‘viramos’ o ano em fevereiro – nosso 2016 teve 13 meses! Para ajudar, chegamos durante o inverno e duas semanas antes das aulas começarem.
A escola: surpresa e caos
Quando morávamos na Alemanha, nosso filho ainda não frequentava a escola, portanto, quando retornamos ao Brasil, ele foi matriculado em uma escola pequena, onde todos o conheciam pelo nome, assim como a mim e ao Edu. A escola sabia seus hábitos alimentares, horários de chegada e saída. Tudo muito confortável e controlado. Esse ambiente seguro proporcionou a ele um ingresso muito tranquilo em sua vidinha escolar aos 2 anos. E nessa escola ele ficou até final de 2016, período em que ele já reconhecia letras, números e, especialmente, o valor das amizades.
Ao chegar na China, ele foi matriculado em uma escola internacional e se deparou, assim como nós, com um mundo completamente diferente: 750 alunos de 42 nacionalidades diferentes, inglês como idioma primário e estrutura que oferece cursos para crianças dos 3 aos 17 anos.
Para quem pensava que os hábitos alimentares e o regime político (A China é um país comunista) seriam os grandes desafios para a adaptação, entramos em um pequeno momento de caos emocional (risos).
Além de uma estrutura fenomenal, a escola trabalha com um sistema educacional muito diferente do Brasil. As crianças têm aula de gerenciamento das emoções, de sustentabilidade, de independência pessoal – no sentido de saber usar o banheiro sozinho, comprar o próprio almoço, arrumar seu material, trocar o uniforme da natação e, sim, ele só tem 5 anos! Já falei do pequeno caos emocional? Para a mãe, nesse caso. Foi muito difícil abrir mão das crenças e vivências culturais que me faziam vê-lo como meu bebê. E acredito que só depois de uma conversa solicitada pela psicóloga da escola eu ´melhorei´.
Assim que começaram as aulas, começaram também nossos problemas. O inglês do meu filho se resumia a pequenas palavras soltas, cores e números. Quando ele percebeu que não compreendia a professora, não conseguia se comunicar com os amigos e eu não estaria no período de adaptação, ele se retraiu e, nos dois meses seguintes, deixou de ser aquele menino alegre, carinhoso e criativo para se tornar um menino triste, retraído e estressado. Ele chorava todos os dias na escola, sem trégua; chorava em casa quando voltava, de tão exausto; chorava dormindo dizendo, em pesadelos, que não queria ir para a escola.
Todas as manhãs o deixávamos na sala chorando. Eu chorava, ele chorava e o pai tentava gerenciar todo o processo. Assim, quando a psicóloga fez uma leitura melhor da situação, nos chamou e disse com todas as letras: “Mãe, você é o problema do seu filho”. Preciso explicar? Me senti magoada, atacada, desrespeitada e todos os ‘adas’ que é possível imaginar. Mas, respirei fundo para ouvir o resto da conversa e chegar à conclusão que ela tinha razão. Ele chorava e eu chorava, ele pedia abraço e eu ajoelhava e não o largava mais, pedia para ir embora e eu o levava. Solução: Edu começou a levá-lo para a escola e eu aparecia apenas no horário da saída – o funcionamento do colégio é de segunda à sexta das 8h às 15h, fora as atividades complementares, sejam elas acadêmicas, culturais ou esportivas. Nesse caso, a aula termina às 16h15.
O processo
O que aconteceu nos dois meses seguintes foi maravilhoso. O meu menino foi se acalmando e criando alternativas para se fazer entender: usava mímica, desenhava, pegava pelo braço. (Sim, eu sei de tudo isso porque ficava espionando escondida de longe).
Para contribuir no processo de adaptação, sentamos em família e listamos tudo que cada um precisava para se sentir mais tranquilo. Os pedidos dele foram o ponto central para que entendêssemos suas reais angústias – recomendo a tática!
Eis o que ele pediu:
- quero que mamãe seja sempre a primeira a chegar na classe para me pegar;
- quero um relógio para ver quanto tempo falta para ir para casa;
- quero que a ´tia´ (professora) me dê a mão na hora de ir e voltar do parque porque tenho medo de me perder;
- quero poder trazer um amigo em casa.
E assim, com todas as listas feitas e seguidas à risca, nossa realidade foi se alterando devagar, até o dia em que cheguei na porta da classe e ele me disse. “Hello mom, I’m very happy and I don´t want you to stay here anymore” (Oi mãe, estou muito feliz e não quero mais que você fique aqui). Eu não poderia querer mais nada: além de estar seguro, ele me disse tudo isso em inglês, do jeitinho dele! Começava aí nossa verdadeira vivência escolar.
Pontos de contribuição
– Como a escola é internacional, as mães são bem unidas já que todo mundo vivencia uma realidade nova. Toda a equipe do colégio é aberta e o acesso da família à escola, por meio de um cartão com códigos de barra, é 100% permitido o tempo todo. Trocar experiências e sentir acolhimento foi fundamental;
– A televisão só veicula desenhos em inglês. João foi aprendendo seu vocabulário vendo os canais infantis então, nesse caso, ver TV ajudou muito;
– Na escola, ser diferente é o normal. Todas as crianças se ajudam, entendem a dificuldade, acolhem, facilitam a integração. Todos eles já passaram por isso e abraçar a diversidade faz parte, assim como aprender a lidar com as despedidas quando um amigo volta para seu país. É um processo muito bonito de acompanhar;
– Apesar de todo tamanho e estrutura, a professora solicitou uma reunião para entender quem era o meu filho, seus hábitos e preferências, para que pudesse estar mais próxima dele e transmitir segurança no seu processo de adaptação;
– Sempre, em todas as ocasiões, falamos com ele em português em casa;
– O sistema educacional não prevê tarefa de casa, então, nosso tempo é aproveitado sem exigências escolares após a aula.
Dias atuais
Após todo aprendizado da nossa família com a adaptação escolar, meu filho está completamente integrado, fez uma rede imensa de amigos e nos criou outro problema: não quer mais falar português em casa porque, segundo ele, “explicar em inglês é muito mais fácil, né mamãe?”
8 Comentários
Juliane, que historia interessantissima a sua! Fiquei triste com voce lendo a parte dificil mas me enchi de alegria no final. Adaptacao nem sempre e facil mas e importante achar solucoes e persistir que foi exatamente o que voce fez. Parabens para voces tres por cada conquista! Tambem sou colunista da BPM kids e vou acompanhar seus textos sobre suas aventuras na China!
Obrigada Andrea! Muito bom saber que o texto te levou as emoções que eu também senti! Vamos juntas na jornada 😘
OI Andrea,
Que bom que o texto chegou até você com minhas emoções!! Agradeço o feedback.
Vamos trocando experiências.
Seguimos juntas
Um abraço
Amiga, chorei e sorri com seu texto. Tenho muito orgulho de você. Parabéns pela mae, esposa. Amiga e super colunista que é. Amei!!!!
Ju!
Adorei seu texto! Fiquei imaginado todas as cenas enquanto lia! Vc sabe o quanto te admiro e sou sua fã! Parabéns! Isso contribui para acalmar o desespero de muitas famílias que estão e irão enfrentar fora de seu país.
Ah, só senti falta de vc relatando a busca do João na escola de “motinho” pq essa eu não consigo imaginar rs
Um grande beijo com saudades <3
Oi Ju, muito orgulhosa dos seus desafios vencidos, adaptações contínuas e resiliência de sempre.
Muito feliz pelo João, que parece, aos poucos, encontrando seu caminho e se desenvolvendo cada vez mais rápido…
Sei que aí o ano não acaba agora, mas por aqui estamos nos arrastando de cansaço para chegada de 2018.
Saudades… especialmente do João, que deve estar uma delícia de conviver.
Desejo de coração que a jornada esteja leve e estimulante. Que os desafios só façam crescer o amor de vocês e odesenvolvimento dos três.
Estarei sempre por aqui, quando quiserem.
Bjs no ❤️
Nossa, chorei senrindo suas dores … foram praticamente as minhas a poucos meses atrás. Tão bom presenciar a superação. Parabéns e muito sucesso.
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