A sociologia define relações sociais toda interação entre indivíduos ou grupos, seja de maneira natural ou em busca de um objetivo comum. A palavra felicidade, por sua vez, segundo o bom dicionário Aurélio significa o “concurso de circunstâncias que causam ventura; estado da pessoa feliz; sorte; ventura; bom êxito”.
Dito isto, dou início ao tema central deste artigo: a importância das relações sociais na infância.
Recentemente, tomei conhecimento de uma pesquisa realizada na Bélgica, pelo professor da Universidade de Ghent, Dr. Lieven Annemans, onde procurou responder à pergunta: “O que faz os belgas felizes?”. Foram 2 anos de pesquisas entrevistando a população acerca da origem da felicidade.
Apesar da Bélgica ter um alto índice de suicídio levando-se em conta o número populacional, o resultado foi positivo. Sendo assim, abriu-se espaço para a formulação de recomendações para tornar os belgas ainda mais felizes.
Enfim, o interessante é que uma das recomendações foi: favorecer as relações sociais desde a infância. E por que? Talvez porque muitos belgas, alienados e enraizados a antigos padrões de educação, não percebam que as relações sociais das crianças em idade escolar deixam muito a desejar.
Nós, brasileiros, temos uma cultura muito diferente e somos mais acolhedores, compreensivos e, às vezes, exageradamente permissivos. Damos uma grande importância às relações sociais, principalmente a de nossos pequenos, os envolvendo sempre em atividades grupais – hoje, com o domínio dos eletrônicos, muito menos – e os despertando para a flexibilidade na resolução dos problemas.
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Na Bélgica, porém, o que se vê é uma resistência à mudança, vide o artigo que escrevi sobre as tentativas de inserção de um novo conceito e prática educacional. As crianças são educadas a seguir um padrão e caso escapem à linha, o meio – escola, professores, colegas – serão os primeiros a excluí-lo e a ferir seu pertencimento social. Sabemos que, de acordo com a resiliência individual e a rede de apoio, isto pode causar severas e longas marcas no desenvolvimento da criança, principalmente em seu meio social.
A pesquisa também trouxe um dado interessante sobre a importância do professor na felicidade do indivíduo e quanto ter mestres inspiradores durante a infância e juventude é responsável por criar indivíduos mais fortes e felizes.
O desenvolvimento das relações sociais
O desenvolvimento da sociabilidade se dá pelo aprendizado da criança através da observação e imitação dos comportamentos das pessoas e outros meios de comunicação a sua volta, bem como com a interação com o ambiente em que está inserida. E por esta razão não pode-se exigir o seguimento de regras rígidas para relacionar-se com o outro, pois as habilidades sociais misturam sentimentos, valores, crenças e um grande repertório de estratégias que a criança e a família criou para sobreviver.
Nós nos relacionamos com o outro sem nos desprendermos de nossos raízes culturais e emocionais e, por esta razão, a interação é complicada e requer muita flexibilidade e disposição. Porém, o que temos visto é um aumento cada vez maior de crianças frustradas, com pouca iniciativa e manutenção de relações sociais e, por consequência, isolamento.
É sabido e inquestionável que a sociabilização e a forma de se relacionar no ambiente mudaram. A minha forma de ver e conviver não é a mesma que meu filho viverá, independentemente da educação que passarei para ele, pois a tecnologia é dinâmica e oferece oportunidades rápidas, sem filtros e com baixo mecanismo de controle.
Muitos leigos e especialistas questionam o papel dessas novas ferramentas no desenvolvimento das crianças, seus benefícios e malefícios. Particularmente, sou favorável a ampliação e inserção de novos cenários e recursos à disposição infantil, desde que sejam suficientes e necessários para que as crianças possam se desenvolver de maneira eficaz e saudável em sua esfera social.
Estratégias para ensinar a habilidade social
- Criar uma linguagem social: para isto serão necessários primeiramente que a criança aprenda a exercer uma escuta ativa, respeitando a vez do outro e os intervalos de comunicação e a praticar o autocontrole. A melhor maneira de ensiná-las é sempre dando nosso próprio exemplo, ou seja, se as ouvimos em seu discurso completo, sem interrupções, repetirão o mesmo comportamento. Ensinar as crianças palavras de gratidão, de desculpas e solicitações gentis também ajuda na construção da linguagem social, bem como reforçar comportamentos positivos e apontar os erros cometidos, acompanhados de explicações;
- Favorecer a autoestima e a imagem positiva de si: ensinar os pequenos a perceberem seus valores e seus potenciais de criação e imaginação, bem como a proteger sua identidade, seus direitos, seus gostos e preferências. Nisto, é importante sempre oferecer tempo de qualidade, espaço e oportunidade de criação e exploração do seu potencial. Outra recomendação importante é evitar qualquer estereótipos e comparações com outras crianças, seja irmãos, primos ou amiguinhos e valorizar sempre os esforços dela;
- Ensinar a arte da assertividade: saber posicionar-se e reclamar seus direitos não é algo importante apenas aos adultos, pois ensinar a criança a saber proteger-se e ser afirmativa sem ferir ou desrespeitar o próximo é a chave das relações sociais saudáveis;
- Empatia: ensinar a criança a compreender e nomear as próprias emoções para assim entender e respeitar os sentimentos alheios, escutar e apoiar o próximo. Cabe, também, ensiná-los a saber identificar e reagir diante dos aspectos que estragam a convivência;
- Ensiná-los a enfrentar as dificuldades e conflitos: cabe aos pais não eliminar os problemas, pois neste caso estaremos criando uma pessoa para viver fora da realidade, em um entorno de fantasia e perfeição. Assim, é preciso dar a elas estratégias para que, a partir dessas contradições, surjam também coisas boas e aprendizagens.
Em suma, bons contatos e relacionamentos harmoniosos na juventude, seja com pais, irmãos ou com amigos, multiplicam as chances de felicidade na vida adulta.
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Até a próxima!
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