A educação em um kibutz em Israel
Aqui em Israel há diferentes tipos de lugares para se morar: cidades, vilarejos, fazendas, cidades “em construção”, assentamentos, moshavim e kibutzim (quando a palavra termina em “im” é porque ela está no plural, em hebraico). Eu já morei e visitei todo tipo de lugar e, ao formar minha família, eu não tive dúvida à respeito de onde nós iríamos morar e educar nossos filhos: em um kibutz.
Kibutz é o nome dado à comunidades socialistas que foram construídas desde a independência do Estado de Israel (e até antes dela). O modelo original do kibutz era de uma comunidade auto-suficiente que sua principal fonte de renda é a agricultura e/ou pecuária. Em um kibutz há jardins de infância onde todas as crianças são criadas, lavanderia onde as roupas de todos os membros do kibutz são lavadas, um mercadinho, um refeitório onde todos comem o café-da-manhã, almoço e jantar e vastos campos onde são plantadas frutas, verduras e grãos que são usados tanto para a alimentação dos membros como para venda por Israel e pelo mundo.
A vida nos kibutzim de antigamente funcionava assim: cada membro trabalhava em um lugar diferente e todo o seu salário ia diretamente para o kibutz. Em troca, cada mês o membro recebe uma quantidade de dinheiro que o permite fazer compras básicas (roupas, produtos de higiene, etc.) e sair para um restaurante ou um filme no cinema. O resto, tudo que é necessário no dia-a-dia (refeições, roupa lavada e passada, educação para os filhos) os membros recebem do kibutz sem ter que gastar um centavo do dinheiro que eles recebem mensalmente.
Como é a vida nos kibutzim atualmente?
Hoje em dia o modelo de vida dos kibutzim mudou e pouquíssimos ainda mantém esse estilo de vida extremamente socialista. Mas o bonito disso tudo é que, apesar do socialismo não ter se mantido firme e forte, os valores de trabalho árduo e da vida em comunidade sobreviveram – e foi justamente por isso que nós resolvemos viver em um kibutz situado no deserto do Neguev, em meio à natureza.
No nosso dia-a-dia, nós colocamos nosso filho no jardim de infância de manhã cedo e cada um vai trabalhar. À tarde, depois do trabalho, nós pegamos nosso filho do jardim de infância e vamos brincar com ele no parquinho que tem em frente ao refeitório: esse é o ponto de encontro de todos os pais depois de pegarem seus filhos pois as crianças amam brincar nesse parquinho! Se temos força nós até saímos da área das casas para o deserto: nosso filho e cachorro amam longos passeios pelo deserto! No passeio a gente sai com um kit que dá pra fazer um cafezinho onde quer que você esteja, em hebraico chamado de ‘pakal café’. Em seguida, após o passeio, nós vamos para casa jantar e dormir.
A educação no Kibutz
No kibutz há dois tipos de sistema de educação: a formal e a não-formal. A formal é a que todos nós conhecemos como escola – as crianças vão de manhã cedo aprender com os professores nas salas de aula e à uma da tarde voltam ao kibutz. Ao voltar, eles são esperados por educadores (madrichim) que os levam ao refeitório para almoçar e depois vão todos fazer parte de atividades educativas até às quatro. O sistema não-formal é dividido em três: crianças de sete à dez, de dez à quatorze e de quatorze à dezoito anos.
As atividades são diferentes dependendo da idade da criança e são muito variadas: de atividades na piscina à brincadeiras relacionadas à experimentos científicos, passeios noturnos pelo deserto e muitos outros. Uma atividade que eu achei muito legal foi quando todas as crianças prepararam diferentes tipos de comida (bolos, sushi, hummus etc.) e venderam para arrecadar dinheiro para doações. Mais uma coisa interessante: aos quinze, dezesseis anos, os adolescentes recebem um quarto só para eles no kibutz e desse jeito eles podem sair da casa dos pais e começarem a viver sozinhos e serem responsáveis (pelo menos parcialmente) por si mesmos.
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Além da conexão com a natureza e a calmaria do kibutz, onde não se respira ar poluído, não há engarrafamento e não se ouve buzinas nem música alta vindo da casa do vizinho, a melhor parte pra mim é a vida em comunidade. No judaísmo há várias festividades como Pessach (Páscoa), Rosh Hashaná (Ano Novo judaico), Shavuot (a festa da colheita), Purim e muitas outras. Nessas festividades, o kibutz todo se reúne para fazer uma festa com danças, cantos e um jantar maravilhoso preparado pelos cozinheiros no refeitório.
Nessas festividades todos participam, crianças e adultos, desde a formação do palco para as apresentações até a hora de juntar todas as cadeiras e mesas e limpar o lugar onde houve a festa. Para mim, criar meu filho em um ambiente como esse, é ensinar o valor de trabalho conjunto, a importância da participação para se criar um evento em que todos nós desfrutamos dele e principalmente para ele ver que quando trabalhamos juntos, podemos criar coisas formidáveis.
O ser humano é um animal social – nós gostamos de viver juntos uns dos outros, fazer amizades e fazer parte de algo maior que o particular. O kibutz para mim é uma oportunidade de viver algo maior que uma vida dedicada apenas à mim, e viver desse jeito dá um sentido à vida que em outros lugares não há. Talvez, se nos dedicarmos a melhorar nossa sociedade, cada um no lugar em que vive, poderemos trazer um sentido à vida e fazer do nosso meio ambiente um lugar melhor.
4 Comentários
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Olá Janine! Muito legal seu texto! TInha curiosidade por entender como funcionam os kibutzim atualmente. Obrigada por compartilhar! Também estou gestando em outro país e muitas são as diferenças e desafios culturais, além de muito rico e válido toda a experiência para nós e nossos filhos! Um abraço! Gitana
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