Por Maya Eigenmann*
Você sabia que dependendo de como elogiamos nossos filhos nós influenciamos a motivação interna deles? Até pouco tempo atrás eu me considerava uma elogiadora fervorosa: todo acerto dos meus filhos era motivo de festa. Em partes porque eu estava realmente feliz pela conquista deles, mesmo que fosse uma simples garatuja, aqueles rabiscos que eles chamam de desenho. E em partes porque acreditava que meu incentivo festivo em forma de elogios fosse uma forma de estimular a autoestima das minhas crianças.
Só que lendo o livro “Disciplina Positiva”, da doutora em educação Jane Nelsen, eu aprendi que a crença de que os elogios ajudam a desenvolver a autoestima é um mito. E ela diz mais: ninguém pode dar ou conceder autoestima a ninguém. Ela é desenvolvida de dentro pra fora, através de uma confiança em si mesmo que é aprendida com o tempo, por meio de desafios, desapontamentos e oportunidades de aprender com seus próprios erros. A autoestima tem pouco ou nada a ver com os elogios que damos aos nossos filhos. Diante desta informação eu comecei a me perguntar para quê então os elogios servem e se existe uma forma entre aspas “correta” de se fazê-los.
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No livro “Crianças Dinamarquesas”, as autoras Jessica Alexander e Iben Sandahl escrevem que o elogio, se usado da forma correta, pode gerar motivação e resiliência. Ou seja, dependendo de como elogiarmos nossos filhos estaremos influenciando a motivação interna deles. Neste sentido, o dr. e autor Carlos González descreve 3 tipos de elogios em seu livro “Crescer Juntos”.
O primeiro elogio que ele categoriza é o elogio à pessoa. Exemplos para este elogio frases como “você sabe desenhar tão bem” ou então “você é mesmo muito inteligente.”. Aqui estamos elogiando a criança por fazer algo muito bem ou por ser boa em alguma coisa.
O segundo elogio é o elogio ao resultado. Exemplos de elogios ao resultado seriam “que desenho lindo que você fez” ou “tirou 10 em matemática, parabéns”. O foco está no resultado bom que a criança alcançou.
Estes dois tipos de elogios são parecidos no sentido de que eles dependem de algo bom acontecer para que sejam feitos. Se numa próxima ocasião a criança não conseguir desenhar tão bem ou tirar nota 10 ela não receberá mais o mesmo elogio e isto se torna um fator desmotivador para a criança.
Precisa haver uma outra forma de elogiar nossos filhos a fim de podermos estimular a motivação interna deles!
Felizmente o dr. González apresenta um terceiro e último tipo de elogio: o elogio ao processo. Inclusive a dr. Jane Nelsen, a quem me referi antes, chama esse último elogio de “encorajamento”.
Este tipo de elogio é o elogio que estimula a motivação interna de nossos filhos. Um exemplo seria “Dá pra se notar que você se aplicou muito para pintar este desenho “, ou então “Essa nota 10 é reflexo do seu esforço.” Este tipo de elogio é considerado motivador porque independentemente do resultado ser bom o não, a criança recebe o reconhecimento pelo seu esforço e dedicação.
Com este tipo de elogio ou encorajamento estaremos motivando nossos filhos a se aplicarem e a se empenharem em tudo que fizerem ENQUANTO o fazem, ou seja, no processo. Se fosse para nossos filhos estudarem pelo mero resultado de conseguir uma boa nota eles poderiam, por exemplo, simplesmente memorizar o conteúdo ou levarem uma cola escondida para a prova. Porém, se eles crescerem motivados pelo processo eles saberão que o que mais importa é realmente compreender e assimilar o conteúdo. Uma boa nota será consequência.
Eu tenho certeza de que não faltam oportunidades para você elogiar seus filhos. Da próxima vez, tente focar no esforço do seu filho e elogiá-lo neste sentido. Assim estará ajudando-o a fortalecer sua motivação interna e estimulando sua resiliência e inteligência emocional.
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*Maya Eigenmann é pedagoga certificada em Disciplina Positiva e educadora parental. Mãe de 2, idealizadora do perfil no Intagram @maelabarismo, co-fundadora do portal www.edujuntos.com e co-apresentadora do podcast iMama. Nascida na Suíça, ela morou por quase uma década no Brasil e atualmente reside com seu marido e filhos em Cascais, Portugal.