Opções alternativas ao aborto na Flórida.
O mês de maio foi o mês da mães. Pelo menos no Brasil e também aqui nos Estados Unidos. Por isso resolvi falar de um tema que além de polêmico é tabu ao redor de todo mundo, mas está presente na vida de muitas mulheres (muito mais do que imaginamos): o aborto.
Assim que coloquei o pé em terras norte americanas, há aproximadamente quatro anos, descobri que estava grávida. Recém-chegada, sem conhecer nada e praticamente sem conhecer ninguém além dos poucos contatos que tivemos depois que chegamos (leia um pouco mais da minha história aqui), me vi totalmente perdida sobre como fazer sequer um exame de sangue para confirmar minha gestação. Eu havia feito apenas um teste de farmácia, mas para mim aquilo não era confiável. Mais tarde eu vim saber que aqui o teste de farmácia é o que todo mundo faz, não existe fazer exame BHCG como no Brasil. Sendo assim, fui pesquisar no Google algum lugar pra fazer o exame de sangue e um primeiro ultrasom, ver se encontrava médicos brasileiros, entre outras informações. O que me deixou chocada foi o fato de que a primeira clínica que eu encontrei (e depois muitas outras), era na verdade uma clínica de aborto.
Aborto sem limite de idade gestacional
O aborto foi um dos principais temas abordados nas eleições de 2016 para presidente. É legalizado em todos os estados dos Estados Unidos desde 1963 e, desde então, mais de 60 milhões de abortos foram realizados. Cada estado tem a sua própria legislação. A maioria dos estados não tem idade gestacional limite para permitir o aborto, ou seja, o bebê pode ser abortado até o momento do parto. De acordo com dados da Agência de Administração de Saúde do Estado da Flórida, 191 crianças são abortadas todos os dias na Flórida, 8 a cada hora e 1 a cada 8 minutos. Ainda de acordo com essa agência, as razões para a interrupção intencional da gestação são:
– Escolhas pessoais (ex: não estar preparada para ser mãe) – 92.2% dos casos
– Condições sócio-econômicas – 6.4% dos casos
– Deformidades, anomalidades ou defeitos genéticos – 0.7% dos casos
– Estupro / incesto – 0.5% dos casos
– Outros – 0,2% dos casos
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Apesar da legalidade, nos Estados Unidos o tema é bastante controverso e divide opiniões. Tanto pela visão política/econômica, mas principalmente pela questão religiosa. O país tem em sua maioria protestantes e católicos, que desaprovam a interrupção da gravidez em qualquer tempo. Não é raro ver pelas ruas placas de campanha pela defesa da vida.
Suporte e alternativas
Ainda gestante, eu tive a oportunidade e o privilégio de voluntariar por alguns meses no Center for Pregnancy (podemos traduzir como “Centro da Gravidez”) da First Baptist Orlando, uma grande igreja da região. Esse centro, um ministério da igreja cuja diretora é brasileira, chamada Carmem Carmo, oferece desde 1986 inúmeros serviços pró-vida através de apoio para gestantes de gravidez não-planejada. Entre esses serviços estão: teste de gravidez gratuito, primeira ultrassonografia gratuita, encaminhamento médico, aconselhamento confidencial, informações sobre alternativas ao aborto, informações sobre assistência do governo, suporte espiritual e muito amor. Todos os serviços são gratuitos.
A partir do momento em que uma grávida opta por ter o bebê, ela ainda terá o apoio do centro através de um programa chamado “Hope” (esperança), no qual as gestantes podem assistir DVDs com informações de temas diversos, estudo bíblico semanal, encontros com palestras informativas e motivacionais. Participando dessas atividades, as mães ganham cupons para comprarem itens de bebê, roupas, fórmulas, móveis de bebê, tudo isso em uma loja própria que fica dentro do centro. Além disso, o centro oferece assistência material até os 3 anos de idade da criança.
O centro conta com recepção, sala de espera para criancas com muitos brinquedinhos, sala de ultrassom, várias salas individuais para as grávidas (ou ambos os pais) assistirem os DVDs, salas individuais de aconselhamento, loja, lavanderia e parte administrativa. Tudo bem caprichado e sempre prezando a confidencialidade.
De acordo com Carmem Carmo, 2 a 3 brasileiras vão ao Pregnancy Center por dia. Eles atendem aproximadamente 300 clientes por semana, sendo 70% latinos e 30% americanos. O centro também oferece suporte pós-aborto. Se você conhece alguém que está numa gravidez não planejada, pensando em abortar, ou ainda que já passou por uma interrupção de gravidez, fale para ela do Center for Pregnancy, em Orlando, ou procure um centro na sua região. O próprio Departamento de Saúde da Flórida oferece centros de planejamento familiar para homens, mulheres e jovens. O mais importante é saber que sempre ha alternativas antes de se tomar uma decisão. Nós não estamos sozinhas, ainda que morando em um pais que não é a nossa pátria.
1 Comentário
Texto excelente, com muitas informações que podem ajudar àquelas mulheres que encontram-se em situação difícil, prestes a cometer um ato do qual elas se arrependerão por toda a vida. Parabéns à autora.