Nosso passeio do mês é pelo livro “A menina do País das Neves”. Mas antes de entrarmos no extremo norte da China preciso contar sobre a autora, He Zhilong.
É tão importante, às vezes, contextualizar a narrativa. Investigar o autor, ilustrador e tudo que estruturou e resultou naquele livro. A autora/ilustradora em questão nasceu na região fria da Manchúria. Filha de pintor, formou-se na Academia de Belas-Artes de Pequim, e vive atualmente em Paris.
Pronto: contextualizei e, de cara, não tem como desviar o olhar dessa jovem que nos presenteou com uma história real, de dentro do seu coração, sobre a sua mãe.
Então, leitoras, mães, pais e interessados por literatura de vínculo, de afeto, essa é uma história que um filho escreveu sobre sua mãe. Já dá aquele aperto no coração e um “uau” sai em forma de suspiro.
He Zhilong retrata sua mãe em traços delicados, com uma técnica precisa e envolvente. Apresenta as emoções dos personagens através de uma paleta de cores suaves e reveladoras, provoca sensações e nos faz sentir o frio severo do inverno, a brisa leve de um outono esperançoso, o aroma de pétalas rosadas desabrochando na primavera.
Então, numa primeira camada levantada, as estações já são caminhos a serem desbravados através das ilustrações.
E a autora traz a história de Fang, sua mãe. Impossibilitada de frequentar a escola, pois a mãe era doente e ela tinha que ajudar a criar seu irmão pequeno e nas tarefas da casa. Fang assistia pela janela da escola a vida que desejava, e que era tão impossível.
Acho interessante esse contexto da narrativa, porque é o momento de trazer para seu filho que, em muitas partes do mundo, estudar, frequentar a escola, algo que parece tão simples e rotineiro, é impossível para muitas crianças refugiadas, isoladas em tribos, amedrontadas em comunidades carentes. Crianças perto de você, leitora, e de mim, bem mais perto que a distante China!
O desvio corajoso e destemido do olhar de Fang para dentro daquela sala de aula, através da janela, transforma sua vida e a de toda sua família.
O desafio vem em forma de problema matemático – aqui é um desses desvios que os livros oferecem, de abrir um caminho paralelo para pais, professores e mediadores literários aproveitarem para criar outros exercícios matemáticos e estimular, desenvolver e sistematizar vários cálculos – que a menina, timidamente, responde pela janela, no desafio lançado pela professora. Fang surge em cena e é notada pela professora, que, sensível à descoberta, procura a família de Fang para encaminhar uma solução. A menina é inteligente e tem potencial.
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Ah, seria simples, não fosse complicado!
Claro que nem passa pela cabeça da mãe de Fang a possibilidade da filha ir para escola e deixar de ajudá-la.
A ilustração que se segue, em página dupla, é uma reação universal, conhecida por mães/pais e filhos: “Fang teve que engolir o choro…”

Arquivo pessoal
But, there’s always a but (porém sempre existe um porém), Fang engole o choro… e se fortalece com esse movimento. O inverno rigoroso não a detém e ela estuda como nunca, enfrentando a tradição chinesa, tomando o destino em suas mãos e se transformando em um exemplo para as crianças da sua tribo e de tantas outras “tribos” espalhadas pelo mundo.
A trajetória da menina é excepcional, não tem como não se emocionar ao se descobrir que Fang se tornou uma grande engenheira aeronáutica.
No fim do passeio pela história real de Fang, é impossível não lembrar da corajosa Malala Yousafzai, “ Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo”; de Anne Frank e seu diário transformador e revelador; do pequeno paquistanês Iqbal Masih, vendido como escravo aos 4 anos de idade e que, aos 10, se libertou e passou a ajudar crianças, inspirando várias causas contra a exploração infantil, entre elas, Free the Children.
Citei alguns nomes, mas existem tantos outros que talvez você conheça, que têm em comum uma história de superação e coragem. Olha aí o terreno perfeito para uma conversa com seu filho!
Esse livro tem o apoio da Anistia Internacional, que trabalha para que todos tenham acesso à educação. Embora constitua um direito fundamental, estudar continua sendo um sonho para muitas crianças como Fang.
Então, agora é hora de anotar:
Qual livro?
“A menina do País das Neves” saiu pela Éditions du Sorbier, em 2007.
No Brasil, foi editado a primeira vez pela Edições SM, em 2011.
Para qual idade?
A partir de 6 anos é um delicioso passeio e pode ir confiante, porque a leitura é direta no coração!
Para os menores, explore as ilustrações, as expressões, os elementos, as estações do ano, a natureza e tudo mais que seus olhos desvendarem!
Qual é o tema?
Coragem!
Como essa menina teve coragem! E estamos falando da China, do extremo norte, frio, muito frio.
É também sobre determinação, sonhos, família, escola, trabalho infantil, cultura, História e Geografia.
“A menina do País das Neves” é sobre filhos, como nos veem, como nossas decisões influenciam seus caminhos.
O que o livro tem que é um charme?
He Zhihong! A autora/ilustradora compartilha uma parte de sua vida e se revela para o mundo. Portanto, vale muito a pena uma ida à página dela. Tem música, tem um portfólio incrível e você, com certeza, vai se encantar!
Em que lugares o livro está disponível?
Na Amazon – Versão em Português
A versão original, em Francês, pela Éditions du Sorbier
Edições SM, versão em Português
Fácil de ser encontrado também na Travessa, Saraiva, Skoob, Americanas e também na Estante Virtual, com boas opções de preços.
8 Comentários
Cristiane, que “passeio”, que artigo belíssimo!
👏🏻👏🏻👏🏻 para a história de vida de He Zhilong!
Objetivos movem a vida. Junto com eles vêem a motivação para conquistar o que desejamos. Nem sempre é fácil, no entanto, com perseverança e dedicação tudo é possível.
Muito obrigada! Essas histórias reais são inspiradores e nos impulsionam a seguir lutando e acreditando! Um super beijo!
Esta resenha me encheu de vontade de ler o livro! Espetáculo!
Você vai adorar! A autora/ilustradora é demais!
Puxa! Que presente precioso para os pais: identificar boas leituras e como explorá-las com seus filhos dependendo da faixa etária. Excelente e instigador comentário.
Boas leituras são tesouros infinitos! Que bom que gostou!
Viajei um pouco nas tuas palavras e fiquei com muita vontade de ler e de ver este livro. Obrigada Cris
Ah, que bom, Li! Essa é a ideia, um passeio literário com muito afeto! Beijão!