Na primeira parte desse texto, trouxe algumas indicações com destaque para o protagonismo negro. Continuo agora com sugestões de leitura imprescindíveis que trazem o protagonismo negro na Literatura para Infância.
Meu crespo é de rainha
(Bell Hooks e Chris Raschka -Boitatá)

Foto: Malu Carvalho
Uma leitura que pode levar a busca da identidade, enaltece a diferença sem desvalorizar o que não é igual para que todos possam sentir-se representados.
O livro nasceu após a autora presenciar um ato racista dentro da sala de aula(a professora leu um livro que falava sobre “cabelo ruim”), por meio da obra ela vem mostrar que há beleza na diferença, quando a personagem se encanta e se diverte com as inúmeras possibilidades que seu cabelo tem.
Com uma linguagem afetuosa e divertida nos fala sobre tolerância e pode ajudar, desde a infância, as próximas gerações desenvolverem empatia e isso podes er transformador. A autora é a ativista Gloria Jean Watkins, que assina com um pseudônimo de bell hooks em homenagem a mãe e a avó, e escreve assim mesmo, tudo em letras minúsculas, uma escolha consciente para mostrar que nomes não importam.
Pois é, demorei para acessar as camadas de leitura que este livro possibilita e acho isso grave! Mostra como vivemos questões veladas e que estão muito enraizadas, mas como sempre me arrisco a mergulhar na literatura, não desisti da leitura e assim sigo mergulhando para poder transformar (a mim inclusive).
João Felizardo
(Angela-Lago -Cosac Naify)

Foto: Malu Carvalho
O que gera a felicidade? Pequenos instantes? A brevidade das coisas simples? O acúmulo de riquezas? “João Felizardo – O rei dos negócios”, nesta edição, tem Angela-Lago como autora. Aqui ela realiza um reconto que ganha um destaque no aspecto visual. O texto é mais enxuto, mas não se engane pensando que a história foi reduzida! De jeito algum!
Muito pelo contrário! Quem conhece o trabalho da autora já sabe que pode buscar surpresas pelo livro! Aqui a artista traz para a obra um reconto que acontece também via narrativa visual. João recebe uma moeda de herança e resolve trocá-la por um animal, mas a cada troca percebe a necessidade da mudança e assim vive ciclos de renovação.
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Paralelo ao texto, acompanhamos uma narrativa visual cheia de pistas para que o leitor possa estabelecer uma leitura complementar ao texto. Um livro ilustrado cheio de possibilidades para mergulhar! A cada leitura me vejo percebendo algo na ilustração que me permite ressignificar a história. Belezas da Angela-Lago que foi editada pela antiga CosacNaify, mas que ainda podemos encontrar para venda em lojas virtuais!
Foi ele que escreveu a ventania
(Rosana Rios e Maurício Negro – Pulo do Gato)

Foto: Malu Carvalho
Pense em um livro que alimenta a alma! Assim é “Foi ele quem escreveu aventania”. Livro repleto de homenagem ao saudoso Manoel de Barros. A autora Rosana Rios nos apresenta Tui, um menino sensível que tem sede de poesia, ele deseja desvendar as palavras, usar versos para fazer mágica.
Tui tem um livro preferido, o de poesias que fica na caixa da sua sala de aula, ali ele brinca de ler poesia e descobre o autor Manoel de Barros. Ao perceber seu interesse, uma atenta professora lhe presenteia com um exemplar do mesmo livro que o menino tanto gosta. Tão feliz Tui fica que apesar de saber da recente morte do Manoel de Barros por um noticiário, ele se inspira e acabapor fazer ventar.
OPS!
(Marilda Castanha -Cosac Naify)

Foto: Malu Carvalho
Ilustrado em páginas duplas e cartonado, o livro traz situações de alegria, frustração, suspense… enfim, traz situações que geram a palavra “OPS!”
Aqui uma mesma palavra ganha diversas entonações. Nas situações narradas por imagens, os pequenos leitores podem se identificar e se encantar com a bela paleta de cores utilizada neste projeto.
Hoje é preciso garimpar para encontrar um exemplar pois este é da saudosa CosacNaify. Mas fiquem atentos, pois ele está para ser relançado! Se cruzar com algum, agarre e não solte mais!
Marco queria dormir
(Gabriela Keselman e Noemí Villamuza – Companhia das Letrinhas)

Foto: Malu Carvalho
Um medo que costuma arremeter as crianças nos é apresentado aqui com muita sensibilidade. Marco é um menino com medo de dormir. Por mais que tente, a hora de dormir é um momento assustador. A escuridão transforma os objetos que alimentam a imaginação potencializando o medo e impedindo o pequeno Marco de adormecer.
A mãe busca ajudá-lo e de formas muito carinhosas, cria um traje antimosquitos, escreve uma carta à lua, arranja um bastão de escalada para que ele possa sentir-se seguro, mas o que o tranquiliza é algo muito mais simples do que leitor e mãe podem supor.
Tanto, tanto!
(Trish Cooki e Helen Oxenbury- Editora Àtica)

Arquivo pessoal da autora
Uma data especial reúne uma família para uma deliciosa festa surpresa, um encontro que enche o bebê da casa de muito carinho. Cada um dos convidados que chega, festeja com ele de um jeito particular e especial, cheio de amor.
Com um texto ritmado, carregado de repetição, a leitura parece nos embalar e torna o mergulho na obra um deleite. As ilustrações são vibrantes e a alegria que os personagens transbordam ao celebrar a vida deste bebê nos contagia, daqueles livros com o qual os leitores criam memórias de leitura carregadas de afeto.
The Carpenter
(Bruna Barros -Gibbs Smith)

Foto: Malu Carvalho
“The carpenter” é um livro ilustrado que narra com muita delicadeza a capacidade imaginativa das crianças, ou seria a infância que nos habita? Trata-se de um livro imagem que apesar do título estar em inglês, é possível ler independentemente da língua, a autora inclusive é brasileira.
Nesta narrativa, por meio de cores contrastantes e linhas marcantes, conhecemos um menino que está entregue a um aparelho tecnológico (tablet ou celular) na carpintaria de seu pai (pode ser outra figura, na leitura que faço me remete a paternidade). O garoto está em um ambiente de trabalho e parece entreter-se com a tecnologia, quando é capturado pela própria imaginação por meio de um metro de madeira amarelo.
Com este metro a autora nos mostra como objetos simples podem enveredar pela imaginação e constituir experiências fantásticas. É com este metro e a imaginação do personagem que uma carpintaria aparentemente comum, ganha aresde magia e torna-se um mar de maravilhas. O que mais me encantou foi o fato de que o adulto da história também deixou-se levar pela brincadeira, entrou no jogo e mostrou como mergulhar na infância.
A autora Bruna Barros, artista que dedica-se a diferentes modos de aplicar sua arte, com um estilo próprio carregado de sutileza, delicadeza e força. Um encanto de narrativa que me espanta ser encontrada publicada pela editora americana Gibbs Smith e não ser encontrada no Brasil (digo nas livrarias físicas, na Amazon é possível!). Trata-se de um livro-imagem, toda essa história nos é narrada sem nenhuma palavra, mas com muita poesia.
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Eis alguns dos títulos que indico para acervos particulares, bibliotecas ou escolas. Existem outros títulos primorosos, mas foi preciso fazer escolhas, aqui priorizei a qualidade do livro por si, além da questão da representatividade. O que mais me encanta é que nestas obras o tema é apresentado de forma natural e orgânica, não traz um modelo para ensinar nada, não se presta ao utilitarismo, a discutir o politicamente correto, pelo contrário, nos traz provocações, inspirações e questionamentos, assim como toda boa literatura.
Bons mergulhos!
Conheça a Malu

Arquivo pessoal
Malu Carvalho é antes de tudo uma leitora apaixonada por literatura, professora, idealizadora do Mergulho Literário e especialista em Literatura para Infância. Atua na formação de leitores, promovendo cursos, palestras, curadoria e assessoria na área da literatura e leitura. Mergulhe nas redes abaixo para conhecer mais sobre o trabalho dela em seu perfil no Instagram e no Facebook
Para outros contatos e informações envie um e-mail para: omergulholiterario@gmail.com
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