Bicicletas em Madri: um legado da pandemia?
De uma forma geral, aqui em Madri a bicicleta é prioritariamente utilizada para fins de lazer ou esporte. Como meio de transporte é bem menos usada em comparação a outras capitais europeias. Em um ranking divulgado em 2019 (veja a lista completa aqui), Copenhagen aparece como a cidade mais bike-friendly, onde 62% dos deslocamentos para o trabalho ou escola são feitos de bicicleta.
Já na Espanha, apenas 3,5% da população utiliza a bicicleta para deslocamentos obrigatórios diários. Veja o gráfico abaixo, com dados de 2019:
Para mais dados sobre a Espanha, clique aqui.
O uso da bicicleta pós-COVID-19
Há muito se fala sobre sustentabilidade e a consequente necessidade de privilegiar os meios de transporte “verdes” ou “limpos”, incluídas aqui a bicicleta comum e também a elétrica. Pois, elas apresentam benefícios individuais e coletivos, como a melhora da saúde física e mental, evitam engarrafamentos e não poluem o meio ambiente.
O transporte coletivo também se apresenta como uma solução mais sustentável que os carros. Em Madri, o transporte público é eficiente e bastante utilizado. Mas, pós-COVID-19, o distanciamento social ganha protagonismo e tudo o que se quer evitar é estar em aglomerações.
Nesse contexto, entre carro e bicicleta, qual deveria ser privilegiado?
No centro de Madri, por exemplo, há severas restrições ao trânsito de veículos movidos a gasolina ou a diesel, baseadas em questões ambientais. Se o governo abrir concessões ao uso do carro, certamente caminhará em sentido contrário de seus compromissos de desenvolvimento sustentável do Acordo de Paris.
Será então um impulso para as bikes?
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Desde que começou a flexibilização da quarentena, a bicicleta já aparece como um dos legados da pandemia. Diariamente os jornais trazem matérias sobre o tema, o governo apresenta propostas e os ciclistas fazem cobranças.
As lojas que vendem bicicletas e acessórios estão desabastecidas, tanto pelo aumento da demanda (da ordem de 50% na Catalunha, por exemplo) como pela redução da produção nas fábricas. Os serviços de manutenção também tiveram grande aumento de procura. Veja mais informações aqui.
Mas, Madri está preparada para aumentar o uso da bicicleta como meio de transporte?
Vejamos a seguir o que a cidade oferece e o que falta desenvolver.
BiciMAD
A BiciMAD é um serviço disponibilizado pela prefeitura de Madri, considerado como mais um meio de transporte público. São 2028 bicicletas elétricas, disponíveis em 165 estações ao longo da cidade.
Pode ser utilizada ocasionalmente, com cartões de um, três ou cinco dias. Neste caso, a primeira hora do aluguel custa dois euros. Mas, há também um plano anual vinculado ao cartão de transporte público, com valores mais baixos.
É um serviço pensado para moradores, mas nada impede que os turistas o utilizem. Para quem vai ficar várias horas do dia com a bicicleta, as empresas de aluguel turístico acaba sendo uma melhor opção.
Anel verde ciclista
O Anel Verde Ciclista é uma ciclovia de cerca de 65 km que rodeia o centro urbano de Madri. Em sua maior parte, é muito bem preservado e fica segregado do tráfico de veículos, proporcionando muita segurança. Tanto que é muito comum ver famílias inteiras passeando, inclusive crianças bem pequenas.
Ao longo do Anel há áreas de descanso, com água e estacionamento para a bicicleta. Há também um mapa com informações sobre o transporte público mais próximo. É permitido levar a bicicleta nos trens e metrô. Nos ônibus se admitem bicicletas dobráveis. Conheça detalhadamente as regras aqui.
Via de uso preferencial para bicicletas
São vias de mão única cuja velocidade máxima é de 30 km/h. Trata-se de uma rua normal de tráfego, mas com uma faixa preferencial aos ciclistas.
Estão espalhadas pela cidade, mas, ao ter que dividir espaço com os carros, não são tão utilizadas e nem tão seguras.
Vias exclusivas para bicicletas
Conhecida como carril bici (ciclovia), é uma via de uso exclusivo para os ciclistas. Fica no mesmo nível da rua, mas com sinalização que a distingue, podendo ter ou não algum elemento segregador (como “tartarugas” ou barreiras).
Em julho, a prefeitura de Madri anunciou a criação imediata e provisória de 6 novos carriles bici, com 12,3 km de extensão, que se somam aos 46,7 km já existentes.
Principais necessidades para o fomento do uso da bicicleta
Apesar da Europa não partir de uma visão “carro centrista” como ocorre nas principais cidades brasileiras, esse ponto de vista também precisa ser diminuído por aqui, pois o carro não deve ser o ponto de partida da mobilidade urbana.
Partindo daí, é importante que a bicicleta seja vista e respeitada como mais um veículo nas ruas, com seus direitos e obrigações.
Há um debate sobre a segregação ou não das vias para bicicletas. Cada grupo defende o seu ponto de vista, mas, é inquestionável que essa segregação torna o deslocamento mais seguro.
Em pesquisa divulgada em 2019, 54,1% das pessoas afirmam que os principais inconvenientes do transporte ciclista são: o perigo, o tráfego e a falta de facilidades.
Além de conscientização e ampliação das vias para ciclistas, há necessidade de oferta de itens básicos, como estacionamentos em locais públicos e privados, como supermercados, e estrutura nas empresas para quem vai de bicicleta, como chuveiro e vestiário.
Programa Pan-europeu de Transporte (The PEP)
Os países europeus membros da ONU criaram um grupo de trabalho para discutir como fomentar o uso da bicicleta como meio de transporte racional, saudável e sustentável pós-COVID-19.
Os resultados serão apresentados na Quinta Reunião de Alto Nível sobre Transporte, Saúde e Meio Ambiente, que ocorrerá no ano que vem, em Viena.
Para saber mais sobre o uso da bike em Madri, consulte esses blogs En bici por Madrid e Muévete en bici por Madrid, e também o podcast Piensa en bici.
Para descobrir as principais rotas de turismo ciclístico da Espanha, clique aqui.