Vamos fazer velas?
Nada melhor do que começar este texto me apresentando. Eu sou a Danielly, 43 anos, professora, mãe, filha única, ariana, chocólatra, esposa. Sou casada com um suíço há 17 anos. Somos um casal binacional que adora viajar, e confraternizar com a família e os amigos. Apesar do casamento longo, ainda hoje sentimos, sofremos e respeitamos as nossas diferenças culturais, mas se tem algo que concordamos sempre é com a maneira que nos comunicamos com o nosso filho, um menino muito querido.
Meu marido e eu, independente do lugar ou companhia , falamos cada um a sua língua materna com o nosso o filho, o que muitas vezes chama a atenção de desconhecidos que normalmente nos perguntam de onde somos. Moramos no noroeste da Suíça, muito próximo à França e Alemanha. É nesta época do ano, onde os ponteiros dos relógios já recuperaram a hora roubada pelo horário de verão, que percebemos os sinais da natureza apontando a chegada da estação mais fria do ano. As árvores carregam folhas nos mais variados tons de marrom, laranja, amarelo ou vermelho. Ao passar dos dias essas folham vão caindo, deixando o chão acarpetado e despindo as árvores, que ficam nuas até a primavera. A aproximação do inverno, contudo, não significa apenas a chegada do frio no hemisfério norte. Por aqui a temperatura naturalmente baixa bastante, mas o que normalmente mais afeta as pessoas é a escuridão dos dias, que se tornam muito mais curtos. O sol aparece – se aparecer – depois das 7 da manhã e costuma se esconder ainda antes das 17h.
Como não há o que fazer para mudar tal situação, as pessoas simplesmente tentam driblar a falta de luz solar com a luminosidade do fogo, utilizando velas, muitas velas.
Existem muitas tradições na Suíça relacionadas com o fogo. Em novembro há o desfile de São Martinho, onde as crianças produzem suas próprias lanternas e desfilam pelas ruas cantando músicas, levando luz por onde passam. No Natal, as luzes estão por todos os cantos, seja nas decorações fora ou dentro das casas. Na época do Carnaval existe um evento muito conhecido na cidade de Liestal onde um ramo de madeira tipo uma vassoura gigante é queimada produzindo chamas imensas esquentando os espectadores, literalmente. Em Zurique também existe um dia super importante e celebrado onde um manequim em forma de boneco de neve representando o inverno é preparado com explosivos e queimado no meio de uma praça simbolizando o adeus à estação mais fria do ano e também “prevendo” como será o verão no país dependendo de quanto tempo for necessário para queimar o boneco inteiro.
Poderia listar muitos outros costumes que envolvem fogo por aqui, mas hoje gostaria de falar a respeito de algo que nunca havia feito e tive o prazer de experimentar há dois anos. Fazer velas. Sim, é isso mesmo. Meu tema hoje é sobre essa prática bastante comum em alguns países do velho continente. Aqui na Basiléia, Suíça, assim como em vários outros países europeus, temos a conhecida e difundida tradição dos mercados de Natal. Além de todos os artigos típicos a venda para os festejos natalinos, há ainda a possibilidade de fazer a sua própria vela.
A pedido e convite do meu filho, que adorou fazer a sua vela num passeio da escola, pude experimentar algo que para mim era totalmente novo e inusitado.
Chegando no local, recebemos um cordão, ou melhor, o fio da vela. Mergulhamos ele, então, diversas vezes numa “banheira” quente de cera de mel. O processo é lento. O segredo da produção vai além do mergulho em si, pois o mais importante é o tempo que esperamos após cada banho na cera quente. O indicado são 30 segundos entre as imersões. Nessa minha 1ª vez, passei a tarde fazendo isso com mei filho, que se mostrou um professor paciente e muito competente, apesar de recém ter completado 7 anos na ocasião. Achei que a idade dele fosse ideal para tal atividade, mas vi crianças (e adultos) de várias idades produzindo e se divertindo muito com as suas velas. E sim, eu era um desses adultos adorando a função toda.
Depois de fazer a vela é possível dar um “banho de loja nela” contando com a ajuda de alguns detalhes prontos a venda, tipo borboletinhas, estrelas, entre outros adereços de cera, é claro, ou até mesmo trabalhar a estrutura delas com o auxílio do pessoal do local. O meu filho optou por fazer um espiral. Eu me apaixonei pelo modelo em forma de pinheiro. Decidimos também pelos enfeites: eu por uma estrela, ele por uma rosa. E assim nossas velas foram devidamente moldadas e enfeitadas. Sinceramente, nunca pensei que tal prática fosse algo tão prazeiroso e divertido. Quem tiver a oportunidade e quiser fazer um programa diferente com as crianças, eu, particularmente, recomendo. Além de ser uma atividade super interessante para todas as idades, ela foge da rotina de uma forma bem lúdica e nos proporciona aquele almejado tempo de qualidade com os pequenos. Na minha opinião, a experiência também é super válida pelo tempo de espera durante a produção das velas. É um momento para trocar ideias e contemplar como será o produto final. E o resultado? Uma vela única, exclusiva, feita por nós mesmos. Eu fiquei tão fã que depois dessa primeira vez, retomamos muitas outras. Aliás, falando nisso, está chegando a hora de começar a nossa produção! Aqui em casa, já virou tradição e o que mais me deixa contente é saber que essas lembranças possivelmente farão parte da memória de nosso filho por muitos anos.
Se despertei a curiosidade em alguém, recomendo usar roupas que possam sujar, pois sempre é possível que um pinguinho de cera acabe ficando grudado na roupa. Recomendo também reservar em torno de 1h30m para que tudo fique pronto. Não dá para ir com pressa, afinal, além de ter um produto único, existe coisa mais gostosa do que passar e curtir o tempo com os nossos filhotes?
17 Comentários
Muito legal todo o artigo , filha . Parabéns !! me me deixou entusiasmada para aprender a fazer muitas velas , nunca fiz mas adoro ter e acender pela casa . No ano passado ganhei do Adrian um vela amarela toda decorada , muito linda.
Verdade, mãe! E o orgulho de saber que foi ele quem fez? Não tem preço!
Adorei!
Quando leio teus textos, sinto orgulho do quanto preservas tua língua matetna.
Será que tenho coragem de tentar uma.vela? Medo da bagunça! Hehe
Por aqui começaremos as decorações no domingo.
Bj
Ah pois é.. meio que mela mesmo! Por isso vocês precisam vir aqui na época do Natal – pelo menos não mela em casa. 😉
Em relação ao português, sigo persistindo e tentando colocar no papel, já que escrever na nossa língua materna é algo que só utilizo nas redes sociais atualmente. Pelo menos uso no dia a dia para conversar com o Adrian, mas sabemos que a língua escrita e falada são duas coisas bem diferentes, né? Beijo e obrigada pelo comentário.
Parabéns querida! O artigo ficou muito lindo! Amo acender velas pela casa,e muito gratificante fica umas horinhas com nossas crianças fazendo velas! 😘😘😘❤️❤️❤️❤️Gratidão querida!
Obrigada pelo comentário, Célia. Também adoro velas, especialmente nessa época tão escura do ano. Beijo
Belo texto ! Gostei de saber desse costume de fazer velas!
Que elas iluminem vocês neste Natal e sempre!!!
Beijos,
Dora.
Muito obrigada pelo elogio, Dora. A vocês também, desejo um Natal muito iluminado.
Beijos
Parabéns afilhada querida! Sempre te superando nos textos! Até me deu vontade de aprender a fazer velas! Depois manda fotos da decoração.bj
Se deu vontade, vem me visitar em um Natal – opção de fazer velas é o que não falta nessa época! Obrigada pelo elogio – escrevo para manter a minha língua materna viva não apenas na fala 😉
A decoração está prontíssima. Que venha o Papai Noel!
Beijo
Adoro ver que com a mesma dedicação e amor que vocês mantém vivas as tradições brasileiras, vocês vivem e aprendem as tradições locais. Resultado: pessoas tri legais 😃😊
Adorei, Sandra, obrigada. Vivendo e aprendendo, né?
Beijos no trio tri legal também 🙂
Que legal Dani! Vamos combinar??
Claro, Bertha! Tenho certeza que a Maria vai adorar. É bem divertido mesmo! 😉
Adorei!!! Fiquei com vontade de fazer velas também!!!😘
Então não pense duas vezes para definir quando virás me visitar de novo!! 🙂
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