A pergunta “Oi, tudo bem?” e a resposta “Tudo e você?” passam despercebidas no nosso dia-a-dia. Qualquer mensagem, ligação telefônica ou conversa, mesmo as mais casuais, começam assim. É tão corriqueiro e automático que não damos a elas a devida importância.
Por incrível que pareça, comecei a me questionar sobre como estamos utilizando essa pergunta e essa resposta quando passei a morar nos Estados Unidos. Talvez porque tenha mudado a língua do diálogo e essas frases deixaram de ser familiares. Um dia falei com meu marido: “Porque as pessoas ficam me perguntando ‘How are you?’ se elas nem me conhecem ou nem querem saber realmente?” Ele respondeu: “É exatamente igual ao nosso ‘Tudo bem?’ ”.
Sim, eu já sabia disso, mas me incomodou.
Quando comecei a fazer atendimentos como Coach de Nutrição Holística notei que o “tudo e você?” também é um padrão automático de resposta. Não importa como estamos, sempre respondemos que está tudo bem. Claro que passei a repetir a pergunta para ouvir a verdade sobre como minhas orientadas estavam de fato se sentindo.
A pergunta: “Oi, tudo bem?”
Sei que precisamos de normas sociais de convivência e educação. Não questiono isso e também não questiono o uso dessa pergunta para iniciar os diálogos. O que tenho me questionado ultimamente é o estado automático em que vivemos. Fazemos várias coisas ao mesmo tempo, estamos sempre com pressa, não largamos o celular nem quando estamos tendo uma conversa.
Vivemos para riscar tarefas de nossa lista de coisas a fazer e enquanto isso a vida está passando. Estamos cada vez mais nos desconectando de nós mesmos e das outras pessoas.
“A melhor forma de registrar momentos é prestando atenção. É dessa forma que cultivamos a atenção plena. Atenção plena significa estar desperto. Significa saber o que você está fazendo”. Jon Kabat-Zinn
Mas o que isso tem a ver com o “Oi, tudo bem?”
Vou propor um teste para você entender o que estou falando: antes de ligar para alguém da sua família ou uma amiga(o) quero que pare. Sim, pare tudo o que está fazendo, pensando, planejando. Respire fundo. Conecte-se com o momento presente, ligue e faça a pergunta. A ideia é que esteja presente no diálogo. Que você realmente se conecte com a outra pessoa no momento de perguntar.
Outra questão importante nessa simples pergunta é: você sabe escutar?
Ao longo do dia ouvimos muitas coisas, mas escutamos muito pouco. Escutar é uma ação, exige escolha e percepção. Para escutar é preciso compreender e processar o que está sendo captado pela audição (ouvir).
Em muitas ocasiões, ouvimos enquanto pensamos o que vamos dizer assim que o outro terminar, ao invés de prestar atenção ao que ele está nos dizendo. Interrompemos com perguntas, fala ou até mesmo mudamos de assunto no meio da conversa. Além disso, nos distraímos com aparelhos eletrônicos, falamos muito de nós mesmos e não deixamos espaço para o outro, fazemos comparação ou damos conselhos (lembrando que para ter conexão precisamos respeitar e não julgar).
Para saber escutar precisamos ter atenção, respeito e esforço. Eu estou treinando e aperfeiçoando o meu simples “Oi, tudo bem?”. Claro que temos situações e dias diferentes, mas quando pergunto tento fazê-lo com meu coração aberto e minha mente presente.
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Somente quando somos capazes de escutar o outro, damos a oportunidade para que essa pessoa se comunique abertamente conosco. E, na nossa atual sociedade, estamos todos sedentos dessa conexão.
“O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranquila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: “Se eu fosse você”. A gente ama não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa. E é na não-escuta que ele termina. Não aprendi isso nos livros. Aprendi prestando atenção.” Rubem Alves no livro “O amor que acende a lua”
A resposta: “Tudo bem e você?”
Voltamos ao assunto do viver no automático, mas aqui estou falando também do sentir e como a desconexão do viver sem estar presente nos leva a subjugar nossos sentimentos. Podemos ficar tão desconectados de nós mesmos que viramos robôs.
Eu já vivi uma longa fase “robótica” enquanto trabalhava loucamente em uma multinacional (parece até que foi em outra vida). Sempre estava tudo bem, mas eu não me acessava verdadeiramente, não refletia sobre o que estava realmente sentindo e o que eu precisava.
Vulnerabilidade
Além disso, não gostamos de ser vulneráveis. Fomos criadas acreditando que quem demonstra os sentimentos é fraco. Que precisamos dar conta de tudo sem esmorecer. Que temos que cuidar de todos, pois mãe é assim, mas esquecemos de nós mesmas.
Eu li uma frase da Brené Brown que me fez refletir muito:“O que não precisamos no meio das nossas batalhas é sentir vergonha de sermos humanos.”
Todo ser humano sente amor, raiva, alegria, insegurança, euforia, medo etc. Por que temos tanta vergonha de falar sobre o que estamos sentindo? E muitas vezes até de assumirmos para nós mesmas esses sentimentos? Somos humanos e precisamos aceitar e acolher todos os lados da nossa humanidade.
Se quiser entender sobre o poder da vulnerabilidade recomendo o TED Talk da Brené Brown (há legenda em português)
Minha proposta aqui é a seguinte: primeiro permita-se sentir. Entenda o que está sentindo. Depois, quando uma pessoa que saiba escutar ligar e perguntar como você está, responda sinceramente. Seja honesta com você e com a outra pessoa, abra seu coração, seja vulnerável. Está tudo bem.
Vamos conversar!
Se você colocou em prática alguns dos exercícios, diga como foi nos comentários. Também vou adorar saber o que você pensa sobre o escutar, estar presente e vulnerabilidade.
Se quiser conversar, agende uma sessão inicial gratuita. Eu ofereço um programa de coaching para mulheres que querem desenvolver o autocuidado em todas as suas formas: corpo, mente e espírito. O objetivo do meu programa é que você tire sua vida do automático e do ciclo de cobranças e autocrítica e reconecte-se com você através do autoconhecimento e da compaixão.
2 Comentários
Texto maravilhoso! Tanto para quem ouve como para quem fala, muitas vezes, acontece a ausência . O diálogo fica partido Quem fala não escuta e quem ouve não fala. É uma vazio , uma defesa. Nos fecharmos para o mundo, fechamos nosso coração , nossos sentimentos e a conexão não se estabelece conosco mesmo e com o outro. Foi isso que refleti.
Sim, sinto muito esse vazio em várias conversas! Obrigada por sua reflexão!