O cuidado é zelo, é o que é feito com capricho, é o que guarda. A minha filha tem 23 meses e quando se machuca vem correndo para mim e mostra onde que está o machucado; e quando eu me machuco, ela vem para mim e quer ver onde está o meu machucado. Como são doces as crianças.
Será que ela vai cuidar assim de mim quando eu ficar bem velhinha? Foi o que veio à minha cabeça enquanto eu colocava uma calça mais confortável para ela poder brincar no parquinho. Logo em seguida que a vesti, recebi um abraço apertado e longo. E pensei comigo mesma que talvez a retribuição desse amor seja isso, agora.
A gente tem a mania de pensar que as pessoas têm que retribuir exatamente da forma que nos doamos. Tem um livro muito interessante que fala sobre isso, “As cinco linguagens do amor”, de Gary Chapman. Em poucas palavras explico aqui o que seriam essas cinco linguagens. Algumas pessoas se sentem amadas através do toque físico, outras pelas palavras de afirmação (dizer que ama, que tem saudades, que é lindo), há aqueles que preferem passar mais tempo de qualidade com o ser amado, outros que preferem atos de serviço (fazer uma refeição, lavar a louça, servir) e, por fim, os que gostam de presentes.
Normalmente cada indivíduo apresenta preferência por três dessas linguagens, por isso é importante entender qual é a linguagem através da qual as pessoas com quem você se relaciona se comunicam melhor. Às vezes o que para mim é demonstração de afeto, para o outro simplesmente não é. Eu posso encher meu marido de presentes, mas se essa não é a linguagem que ele usa para comunicar e compreender o afeto, eu só vou conseguir estourar o cartão. Risos. E o mesmo serve para a nossa relação mãe e filho. Qual é a linguagem que devo usar para comunicar o meu afeto à minha filha? E por que a minha filha teria que esperar eu envelhecer para mostrar e retribuir esse amor? E acima de tudo, que amor seria esse que cobra? Cobra que no futuro eu serei a responsabilidade dela! A responsabilidade dela é ser feliz e fazer o melhor que ela possa da vida dela.
A importância da comunicação
Relacionamentos pedem sempre uma atualização no sistema, e essa atualização só é feita através do diálogo. Comunicação é fundamental para uma compreensão dos afetos e para compreender a responsabilidade e o cuidado que cada um tem e que quer receber. Eu diria que a comunicação é a chave dos relacionamentos, pode fechar e abrir portas. Às vezes trava e por isso é necessário sempre ter esse cuidado pelo diálogo para que essa chave esteja sempre funcionando.
A expectativa que colocamos nos nossos filhos a respeito do que nós desejamos que eles façam no futuro por nós só vai nos trazer frustração e uma mala cheia de culpa para os nossos filhos carregarem. Eu sei que é inevitável sonhar e até mesmo planejar muitas coisas para os nossos filhos, mas é importante ter ciência que apesar das nossas tomadas de decisões por sermos pais e responsáveis por eles, não significa que decidiremos por eles uma vez que eles amadurecerem. Passar essa responsabilidade para os nossos filhos e reduzir as nossas expectativas para que eles não levem uma mala cheia de culpa é imprescindível para uma relação de cuidado.
Sempre ouvi dos meus pais uma certa cobrança se eu cuidaria deles como eles esperam. O cuidado vem principalmente do laço afetivo que é construído. Claro que pode vir também pelo senso de responsabilidade sobre o outro, mas garanto que é mais gostoso se vier por esse laço. E sempre lembrando que isso jamais deveria ser uma cobrança, pois acredito que o cuidado, além de ser fruto do laço afetivo, é sempre retribuído ali, quase que na mesma moeda, quando numa trocada de fralda se ganha um abraço, ou quando numa mamada da madrugada se recebe uma carícia. E se a moeda não é aquela que você esperava, converse, use o diálogo e destrave essa porta para abrir um caminho com carinho, afeto, amor e cuidado.
Cuidado é o que você quer e pode dar pra quem você ama.
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