Mudança de país e menopausa: como enfrentei as duas ao mesmo tempo
A transferência profissional do meu marido do Brasil para o exterior começou a ser cogitada em dezembro de 2017. Decidimos encarar a mudança para Hong Kong em fevereiro de 2018 e ela se concretizou em julho do mesmo ano. Falando assim parece simples, mas foram seis ou sete meses de muito estresse, nervosismo, apreensão e de muuuitas providências a tomar. Quem já mudou de país sabe bem do que eu estou falando.
Num primeiro momento o que nos invade é a indecisão, a dúvida, os prós e contras. Depois da decisão tomada, há tanta providência para tomar que a vida fica de pernas para o ar. E nós também!
Pois bem, nesse período de tanta atribulação comecei a sentir uma série de sintomas (tanto físicos como psicológicos) bastante desagradáveis, que eu ia justificando como sendo resultado do estresse do momento. Tinha muita dor de cabeça, dores musculares, formigamento nas extremidades do corpo, queda de cabelo, digestão dificultada, secura nas mucosas, fadiga, cansaço extremo, muitos lapsos de memória e dificuldade de concentração. A menstruação também andava irregular, mas ainda vinha. No entanto, o pior mesmo eram alguns episódios isolados de pânico, que eu pude reconhecer porque já os havia sentido muitos anos atrás, quando comecei a tomar pílula anticoncepcional.
Com a vida corrida entre trabalho, filhas, casa, documentação e demais providências para a mudança, fui “empurrando com a barriga” os desconfortos. Seguramente se deviam à fase conturbada, eu pensava. Mas eles incomodavam, e muito, num momento em que eu deveria estar 100% para dar conta de tudo.
O diagnóstico
Cerca de dois meses antes de me mudar, fui à ginecologista para fazer os exames de rotina pré-viagem. E eis que fui confrontada com o diagnóstico: meus ovários não estavam mais produzindo estrogênio suficiente. Estava decretada a minha “falência ovariana”. Menopausa aos 42 anos de idade. Embora não possa ser chamada de “precoce”, já que essa é assim denominada quando ocorre antes dos 40 anos, é uma menopausa que ocorreu antes da idade mais comum, por volta dos 50 anos.
E por quê?
Talvez o estresse da mudança ou talvez o fato de eu ser portadora de uma doença autoimune, a psoríase. É comum que pessoas com doenças autoimunes apresentem menopausa antes das demais. Entretanto, tenho cá para mim que o processo foi sim acelerado pela pressão interna de tantas responsabilidades. Somatizei. Não é fácil mover quatro vidas para o outro lado do mundo. São noites e noites sem dormir e muitos momentos de insegurança e medo que nos rondam nessa fase.
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Durante a consulta, fiquei sabendo que todos os sintomas vivenciados se deviam possivelmente à falta do famoso estrogênio, que eu nem imaginava que me era tão essencial para uma vida minimamente estável! Cada mulher, nessa fase, vai enfrentar alguns deles, em maior ou menor intensidade, e nem todas vão sentir todos. Eu, por exemplo, não tive o mais conhecido deles, “os fogachos”. Da insônia também passei longe, felizmente.
A decisão que se punha para mim dali em diante era aquela que mais cedo ou mais tarde toda mulher terá que tomar: fazer ou não fazer reposição hormonal? Trata-se de uma questão muito pessoal, que deve levar em conta a relação “custo-benefício” do tratamento. Para a minha médica, dados os meus sintomas e a minha idade, somado ao fato de eu não ter histórico de câncer de mama na família, a reposição hormonal era recomendada, pois ela traz uma série de benefícios também para a saúde cardiovascular e dos ossos. Entretanto, como eu estava de mudança e o tratamento requer acompanhamento de perto e periódico, ela sugeria que eu o iniciasse apenas após chegar a Hong Kong.
Os fitoterápicos
Não é de hoje que vários medicamentos fitoterápicos são usados para atenuar os sintomas da menopausa. Como a minha viagem ainda ia demorar cerca de dois meses, minha médica me receitou alguns. Para mim, não funcionaram. Não notei nenhuma melhora nos sintomas e percebi que se quisesse me livrar deles, teria que realmente encarar a reposição. Nessa fase li bastante sobre o tema, mas busquei me pautar sobretudo em estudos sérios e em consensos, já que também há muito “achismo” e desinformação sobre o assunto.
O início do tratamento em Hong Kong
Passadas as primeiras semanas caóticas pós-mudança, procurei um médico que pudesse me auxiliar no processo de reposição hormonal. Não estava sendo fácil conciliar toda a adaptação da família, casa nova, escola, compras essenciais, documentação etc. com o cansaço e desânimo causados pela menopausa. Cheguei, ainda, a ter um episódio de pânico após a viagem. Para quem já passou por isso, sabe bem da dificuldade que é conviver com ele.
Como Hong Kong teve colonização inglesa, grande parte dos médicos ocidentais da ilha são de formação britânica e seguem os protocolos de saúde lá. Todas as suas orientações e prescrições batiam com as da minha médica no Brasil e eu fiquei mais confiante e aliviada.
Comecei com a reposição via oral de estrogênio + progesterona (esta é obrigatória para quem tem útero, já que ajuda a protegê-lo). Como num passe de mágica, todos os sintomas foram diminuindo até desaparecerem por completo, com exceção de algumas crises de enxaqueca que persistem até hoje. Posteriormente, alteramos para a reposição hormonal via gel (além da pílula de progesterona), de forma que eu controlo a quantidade de estrogênio aplicada, já que ela deve ser a menor possível e suficiente para combater os sintomas. Hoje uso cerca de um quarto da dosagem inicial e me sinto muito bem.
O que aprendi com tudo isso?
Em primeiro lugar, que devemos sempre nos conhecer e “ouvir” os sinais que o nosso corpo vai dando. Cada sintoma estranho e diferente que eu sentia acendia em mim a luz amarela de “atenção, alguma coisa não está indo bem”, mesmo achando que tudo se devia ao processo da mudança.
Em segundo lugar, se fosse hoje tentaria lidar com a imigração de um modo menos estressante, já que no final tudo dá certo. Será que valeram a pena tantas noites mal dormidas? Tanta preocupação? Hoje, se tivesse que enfrentar novamente uma mudança de país, tentaria levar tudo com mais leveza. A saúde com certeza agradece!
Aprendi também que o tempo é implacável e quando menos esperamos, já não somos aquelas jovens tão cheias de energia que imaginávamos ser. A mente pode nunca envelhecer, mas o corpo… Cuidar dele como o nosso templo sagrado é fundamental, ainda mais com o passar dos anos.
Agradeci por ter podido ser mãe de duas filhas antes que a menopausa me pegasse de surpresa aos 42 anos. E se eu tivesse esperado até lá para viver a maternidade? Poderia ter sido tarde demais. As prioridades da vida precisam ser definidas no seu devido tempo.
E, por fim, com toda essa instabilidade física e emocional que vivenciei, conheci a yoga e a meditação, companheiras fundamentais no meu processo de re-equilíbro. Mas isso já é assunto para outro texto!
Até o mês que vem!
2 Comentários
Marilia teu texto é muito útil para mim. Responde a varias questoes que me passam pela cabeça.
Estou mais ou menos me encaminhando para essa fase menos glamourosa da vida de toda mulher e é bom ler o depoimento de quem está passando por isso. Obrigada por contar tua historia.
Que bom, Zandra! Se quiser “trocar figurinha”, me escreve inbox. Adorei o “fase menos glamorosa”, hahaha! Beijos.